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Educaçao do Campo
Incra destina R$ 2 milhões a curso de especialização em Economia Agrária no Espírito Santo
Para a quinta edição do curso já se matricularam 35 educandos, oriundos de onze unidades da Federação - Foto: Incra/ES
O Incra, por meio do seu Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera), viabiliza a realização da quinta turma da especialização em “Economia e Desenvolvimento Agrário”, realizado em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), com a destinação de R$ 2.010.000,00.
A parceria entre a UFES e o Incra para viabilizar a quinta edição do curso foi concretizada em 2024, via assinatura de Termo de Execução Descentralizada (TED), com previsão de destinar no período de vigência dos 30 meses do contrato os recursos necessários à execução da especialização – na qual já se matricularam 35 educandos, oriundos de onze unidades da Federação.
A primeira etapa da quinta edição do curso foi iniciada em 20 de outubro de 2025, sendo que a Abertura Oficial e a Aula Inaugural ocorreram no dia 23 de outubro.
20 anos de história
Em 2025, esse curso completa 20 anos de história no Espírito Santo. A primeira turma dessa pós-graduação Lato Sensu iniciou as atividades acadêmicas em 2005, graças à parceria entre a UFES e a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF) e, mais recentemente, com a participação do Incra (em 2019). O Programa formou 118 especialistas em Economia e Desenvolvimento Agrário.
A especialização destina-se a públicos diversos da Reforma Agrária e agricultura familiar: assentados, acampados, reassentados de barragens, remanescentes de territórios quilombolas, integrantes de famílias beneficiárias do Crédito Fundiário, além de educadores/as que exerçam atividades junto a essas famílias, etc.
Como não foi preenchido o total de vagas disponibilizadas no processo seletivo original, a UFES pretende abrir novo edital para completar as 15 vagas remanescentes.
O prazo para conclusão do curso é de dois anos. A estrutura programática da especialização foi elaborada segundo os princípios metodológicos da Pedagogia da Alternância e dividida em quatro etapas, de modo a contemplar tanto o Tempo Universidade (estudos teóricos) quanto o Tempo Comunidade (aplicação prática dos conhecimentos adquiridos em sala de aula).
Cada uma das etapas do Tempo Universidade tem duração de duas semanas, sendo intercaladas e integradas ao Tempo Comunidade – realizado no local de residência e/ou atuação dos acadêmicos.
Segundo a coordenadora do curso, professora Renata Couto Moreira, “esta pós-graduação Lato Sensu em Economia e Desenvolvimento Agrário é importante à medida que atende demanda de formação dos Movimentos Sociais Populares, tendo como público-alvo pessoas assentadas e acampadas da Reforma Agrária, das comunidades Remanescentes de Quilombos e aqueles que exercem atividades educativas nestes territórios”, defende, acrescentando que “ nesta perspectiva, considero um curso de excelência e de extrema relevância na garantia do direito à educação para comunidades que historicamente foram excluídas de acessar a universidade, sobretudo no âmbito da pós-graduação”.
A superintendente regional do Incra/ES, Penha Lopes, destaca a importância da retomada do Pronera por considerá-lo “fundamental à inclusão do público da agricultura familiar na política educacional, respeitando a realidade do público da reforma agrária. E esse curso, em especial, uma oportunidade interessante na formação complementar de profissionais que já possuam graduação universitária e pretendem se aprofundar no tema”.
Penha reafirma que “o trabalho da gestão local da autarquia assinala o compromisso de ampliar os recursos para garantir a realização de cursos já aprovados pela comissão da coordenação nacional do Incra às ações do Pronera no Espírito Santo, bem como prosseguimento e conclusão da especialização em curso para que não haja descontinuidade da mesma”.
Acadêmicos do Curso
Uma das pessoas participantes do curso é Joselma Maria Pereira, que reside no assentamento Vale da Esperança – área da reforma agrária localizada no município de Santa Teresa (ES). Ela é graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 2015, em ação também promovida pelo Pronera. “Sou nordestina, natural de Pernambuco, camponesa e estou capixaba há 30 anos. Militante social do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra [MST], atuo como membro da Direção Estadual e do coletivo da coordenação político-pedagógico do Centro de Formação Maria Olinda (Ceforma)”, afirma.
Segundo a assentada, “o curso de especialização e Economia e Desenvolvimento Agrário completa 20 anos, marco histórico do MST/ES, que completa 40 anos de lutas, vitórias e conquistas. Retomar a viabilidade do curso com a garantia dos recursos do Pronera, é uma importante conquista para nós trabalhadores e trabalhadoras do campo, como política pública que possibilita aos cursistas aprofundar as teorias da economia e do desenvolvimento agrário para qualificar nossa atuação nos territórios onde estamos inseridos/as”, ressalta.
E Joselma completa: “Nossa expectativa é que possamos continuar ocupando espaços nas instituições de ensino, possibilitando que a ‘universidade se pinte de povo’, do campo e da cidade”.
Já Valdeir Souza é natural do Pará, mas atualmente reside em Mato Grosso. Com formação em engenharia agronômica pela Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) atua profissionalmente no assentamento Dorcelina Folador, localizado no município de Várzea Grande (MT). Esse é o primeiro curso promovido pelo Pronera que ele participa.
Sobre suas expectativas, Valdeir destaca que “as primeiras impressões têm sido as melhores possíveis, haja vista o aprofundamento em temas envolvendo a economia política e a diversidade reunida nas pessoas advindas de territórios tão diferentes, quanto ricos em termos de experiências vivenciadas. O curso se mostra interessante também pela capacidade de dispor uma leitura crítica das realidades políticas e econômicas e na perspectiva de se entender melhor o Brasil. E a convivência com pessoas que construíram no movimento social seu modo de vida ajuda a termos essa dimensão para compreendermos tais realidades”.
Além disso, Valdeir salienta que “a metodologia do curso em sistema de módulos alternados entre o tempo universidade e o tempo comunidade supera o mero sentido abstrato do conhecimento no âmbito da universidade. O tempo comunidade é importante à medida que os conhecimentos aprendidos passam a ser compartilhados na escola, na cooperativa na associação, ou seja, na comunidade como um todo. A dinâmica da pedagogia da terra e o retorno ao território de residência facilita que as pessoas tenham acesso aos estudos de uma forma mais integrada possível”.
Histórico do Pronera
O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária do Incra surgiu da articulação e esforços da sociedade civil, com o objetivo de apoiar projetos voltados ao desenvolvimento das áreas de reforma agrária e orientados por premissas como a diversidade cultural e socioterritorial, os processos de interação e transformação do campo, a gestão democrática e o avanço científico-tecnológico.
A Educação do Campo é um direito e se realiza por diferentes territórios e práticas sociais que incorporam a diversidade do meio rural – garantindo a ampliação das possibilidades de criação e recriação de condições de existência da agricultura familiar.
O histórico do Programa no Brasil entre os anos de 1998 e 2024 é bastante expressivo: com aproximadamente 193 mil alunos em 545 cursos. Ao longo de 26 anos de história no Espírito Santo (a primeira turma de Pedagogia ocorreu entre 1999 e 2002) foram ofertados cursos em diversas modalidades (Educação de Jovens e Adultos, médio profissionalizante, licenciatura e especialização) para mais de 2,1 mil alunos.
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Assessoria de Comunicação Social do Incra/ES
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