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Dia da Consciência Negra
Decretos beneficiam duas comunidades quilombolas no Rio Grande do Sul
Em Arroio do Tigre, a comunidade Sítio Novo / Linha Fão avança na regularização do território - Foto: Incra/RS
Entre os 28 decretos de áreas quilombolas assinados pelo presidente Lula da República, Luiz Inácio Lula da Silva, no Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra (20/11), dois são de comunidades no Rio Grande do Sul. Foram beneficiados os as comunidades remanescentes de quilombo Picada das Vassouras / Quebra-Canga, no município de Caçapava do Sul, e Sítio Novo / Linha Fão, em Arroio do Tigre.
Os Decretos, que foram publicados no Diário Oficial da União em 21/11/2025, declaram como de interesse social para fins de desapropriação os imóveis inseridos nos limites dos territórios das comunidades quilombolas reconhecidos pelo Incra.
Essa é uma etapa importante na regularização fundiária das áreas quilombolas, pois permite que o Instituto desaproprie e libere as terras, medida anterior à titulação.
Territórios
“Nós, enquanto quilombolas, não temos onde colocar tanta alegria”, comemora Marcia Miranda, da comunidade Sítio Novo / Linha Fão. Ela conta que a expectativa pela titulação final é grande entre as famílias. “Boa parte não tem onde plantar. A gente tem que sair de casa para trabalhar, plantar em terra dos outros”, diz.
O território reconhecido pelo Incra do quilombo Sítio Novo / Linha Fão tem 168,24 hectares, onde vivem 33 famílias. A formação da comunidade remonta à ocupação da região Centro-Serra do Rio Grande do Sul pela população negra em fins do século XIX.
As famílias descendem do casal Aparício Miranda e Belmira Xavier, filhos de escravos que receberam terras de um patrão na década de 20, de onde foram expulsos nos anos 70, migrando para o "Fão". “Só entre os novos já são mais de 15 anos de luta, sem contar o que nossos antepassados já passaram”, registra Marcia.
O processo de regularização da comunidade quilombola Sítio Novo / Linha Fão foi aberto no Incra/RS em 2008.
Já a comunidade quilombola Picada das Vassouras / Quebra-Canga tem um território de 86 hectares reconhecido pelo Instituto. No local, vivem 14 famílias descendentes de pessoas que foram escravizadas.
A área abrange dois núcleos, o Picada das Vassouras (66,5 hectares) e o Quebra-Canga (19,6 hectares). Ambos compartilham relatos idênticos de memória histórica, identidade étnica, sociabilidade acentuada e parentesco, implicando, inclusive, na herança comum de uma gleba, além da proximidade geográfica.
Os núcleos foram herdados da família Mariano – dona, no século XIX, de grandes extensões na localidade hoje denominada Rio Bonito. A descendência e a possibilidade de recuperar terras historicamente ocupadas uniu as famílias em busca da regularização fundiária – o processo foi aberto no Incra/RS em 2007.
Etapas
Desde 2003, quando foi publicado o Decreto nº 4887, o Incra é o órgão federal responsável pela titulação das terras de comunidades remanescentes de quilombos.
O processo é longo: inicia com a Certidão de Autorreconhecimento emitida pela Fundação Cultural Palmares e exige vários estudos.
O Incra providencia a elaboração de diversas peças técnicas com informações históricas, antropológicas, socioeconômicas, cartográficas, fundiárias, entre outras, para compor o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) do território da comunidade.
Após a publicação do RTID, há prazo para interessados contestarem o relatório. Após análise e julgamento de contestações e recursos, o Incra publica a Portaria de Reconhecimento, que formaliza a identificação definitiva do território e declara seus limites.
Se houver imóveis (títulos ou posses) privadas dentro da área reconhecida, é necessário o Decreto Presidencial autorizando a autarquia a promover as desapropriações. Os imóveis são avaliados a preço de mercado e pagos em dinheiro.
Após a etapa de desintrusão, o Incra pode emitir o título em nome da associação que representa a comunidade. O documento final é coletivo, imprescritível e não permite venda e penhora da área.
ACT
Além dos dois Decretos, o Diário Oficial da União de 21/11 trouxe também a publicação de um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) entre o Incra/RS e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
O objetivo é a elaboração do relatório antropológico da comunidade quilombola Família Lemos, em Porto Alegre/RS – uma das primeiras peças necessárias ao RTID.
Processos no RS
O Incra/RS possui 117 processos de regularização de territórios quilombolas abertos. Destes, quatro chegaram à etapa final com emissão dos títulos. São os territórios das comunidades de Casca (em Mostardas, parcialmente titulado), Família Silva (Porto Alegre, parcialmente), Chácara das Rosas (Canoas) e Rincão dos Martimianos (Restinga Seca, parcialmente).
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