Iniciativa aproxima produtores assentados gaúchos de consumidores urbanos

Famílias assentadas da região metropolitana de Porto Alegre, capital gaúcha, estrearam, nesta terça-feira (15,) um novo ponto de venda de produtos orgânicos na cidade. Às terças e quintas-feiras elas revezarão o atendimento ao público para oferecer hortaliças, verduras, legumes e outros itens sazonais, no estabelecimento exclusivo para artigos oriundos da reforma agrária, inaugurado em um bairro central.

O objetivo é aproximar agricultores e consumidores, divulgar a produção saudável de alimentos e fortalecer novos canais de comercialização direta. “É uma proposta diferenciada para promover o contato presencial entre o produtor e o consumidor”, conta Augusto Olsson, que pela primeira vez participa de uma feira em Porto Alegre. Há oito anos ele e a família dedicam-se à agroecologia no lote onde vivem no assentamento Santa Rita de Cássia II, em Nova Santa Rita.

Eles cultivam em torno de dois hectares de horta – tudo com certificação orgânica. A produção é comercializada em uma feira semanal em Canoas ou por meio de entregas a restaurantes e clientes fixos. “A maioria dos consumidores de produtos orgânicos não é passageira, eles tendem à fidelização. Mais que o certificado da qualidade exposto, se constrói um vínculo”, explica o assentado.

E é com o propósito de valorizar a cadeia da horta até a mesa dos fregueses que Olsson espera construir sua nova clientela. Segundo ele, é uma oportunidade para apresentar o trabalho e manter a periodicidade das compras. “A agricultura não está pronta na prateleira. Tem de plantar, preparar. E ninguém planta se não tem onde vender. É preciso que todos entendam essa relação”.

A feira requer um dia inteiro de dedicação na véspera, com a colheita, o correto armazenamento e a delicada distribuição para garantir produtos frescos.

Amizade

Na mesma perspectiva, Daniel Audibert, do assentamento Integração Gaúcha, localizado em Eldorado do Sul, pretende ampliar a freguesia na capital disponibilizando pessoalmente seus hortigranjeiros às quintas-feiras.

É mais uma feira na agenda da família, que em outros dois dias atende diferentes bairros de Porto Alegre. “É muito gratificante, porque à medida que vamos oferecendo os produtos, as pessoas se interessam, perguntam e a gente troca experiências. Acaba se tornando um lugar de diálogo. Por isso, eu digo que a gente não faz cliente, faz amigos”, afirma Audibert. A filha o acompanha no comércio direto, e aproveita para compartilhar receitas e dicas gastronômicas.

A família produz hortaliças há quase 20 anos e prima pelo cultivo livre de agroquímicos. Dos 2,8 hectares de área certificada, 1,5 hectare é destinado à olericultura. Apesar de priorizar as feiras, a produção também é fornecida à loja da reforma agrária desde 2002, e o excedente comercializado com restaurantes e fruteiras que buscam itens orgânicos.

Disponibilidade diária

A feira realizada pelas famílias Olsson e Audibert ocorre às terças e quintas-feiras, das 16h às 19h, na Rua José do Patrocínio, nº 888. Nos demais dias, os agricultores entregarão os produtos para o armazém aberto na Cidade Baixa, zona central de Porto Alegre.

O novo endereço substitui a loja instalada no Mercado Público, e está em funcionamento desde o início do mês, seguindo regras sanitárias de prevenção à covid-19. “Cedemos o espaço para que os assentados possam fazer a feira na intenção de divulgar a reforma agrária e a produção de alimentos saudáveis, demonstrando o compromisso com a população”, justifica um dos coordenadores do ponto comercial, Sidnei Santos.

Além dos produtos in natura, o diversificado catálogo inclui mercadorias produzidas em assentamentos do Rio Grande do Sul e outros estados, como queijos e salames da região norte gaúcha, leites e derivados do oeste de Santa Catarina e café do Espírito Santo e de Minas Gerais. Também é oferecido o serviço de tele-entrega.

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