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Apicultura
Assentamentos e território quilombola ampliam produção de mel em Santa Catarina
Uso de equipamentos é essencial na produção de mel em assentamentos e território quilombola em Santa Catarina - Foto: Incra/SC
Na semana em que se comemoram os dias da abelha (20 de maio) e do apicultor (22 de maio), exemplos da produção de mel em assentamentos da reforma agrária e território quilombola de Santa Catarina mostram os benefícios e desafios da atividade, que está intimamente relacionada à consciência ecológica.
No assentamento Neri Fabris - localizado no município de Curitibanos, no Meio Oeste catarinense e distante cerca de 300 quilômetros da capital Florianópolis -, o agricultor Waldir Morais deu os primeiros passos na apicultura no início dos anos 2000 e hoje já é referência na região nessa "atividade de ajudar a preservar a natureza", como diz.
Para Morais, a receita do sucesso está em gostar da apicultura e se capacitar constantemente para a atuação. Seu lote - que recebe desde dias de campo de assistência técnica a pesquisadores universitários -, contabiliza 128 caixas de abelha e 46 de abelhas sem ferrão, além de todas as estruturas necessárias para a apicultura. Em um bom ano são produzidos cerca de 2,2 mil quilos de mel, comercializados diretamente pelo apicultor até em estados vizinhos. "O bom é vender um produto de qualidade, vender um mel que é colhido maduro puríssimo, por isso eu consigo vender em várias cidades", conta.
Mas, na apicultura, ainda que a matéria-prima venha do pólen, nem tudo são flores. Um dos desafios dos produtores está no enfrentamento aos agrotóxicos cada vez mais disseminados na agricultura e que ameaçam a existência das abelhas.
Na contramão a essa lógica e em defesa dos insetos, está a consciência agroecológica de agricultores como Marioni Santin, que mantém o Horto Medicinal Ana Primavesi no assentamento Faxinal dos Domingues / União da Vitória, no município de Fraiburgo – também no Meio Oeste catarinense. Ali, ao invés de afastar, ela ensina a estudantes a importância de cuidar das abelhas. "A gente tem trabalhado dentro dessa lógica de plantar para as abelhas, muitas flores, sem agrotóxicos, para que elas venham e voltem produzindo o mais importante que é o equilíbrio do meio ambiente", explica.
A ideia de produção integrada à natureza é a mesma disseminada pelo jovem Jocenei Pereira Gonçalves - assentado em Calmon, na região do Contestado. Atuando na produção de melato de bracatinga (árvore nativa do Sul do Brasil), ele explica que retornou ao assentamento depois de formado em Agronomia para trabalhar com a agrofloresta. "Pessoal pensa mais em lavoura, sem levar em conta a geografia do terreno, o solo. É preciso trabalhar de outras formas. Na agrofloresta, por exemplo, você não produz na horizontal, mas na vertical. Aqui já tínhamos bracatinga e começamos a trabalhar com o melato que tem grande valor comercial, associando com a erva-mate, que acaba disponibilizando mais nutriente para as plantas", revela.
Toda a região do Planalto Norte catarinense se destaca como uma das melhores do país para a produção do mel de melato – que tem por base as seivas de árvores e não néctar das flores. A substância adocicada é produzida pelas cochonilhas, insetos que povoam as matas de bracatinga e capoeira e atraem as abelhas para produção de mel.
Quilombolas
Já no município de Campos Novos (também no Meio Oeste catarinense), no primeiro Território Quilombola titulado pelo Incra, agricultores organizados na Associação de Produtores Rurais Quilombolas da Invernada dos Negros (Aproquin) têm buscado ampliar a aprimorar a atuação na apicultura.
Fábio Souza, presidente da Aproquin, explica que para impulsionar a atividade, o grupo de produtores contou com recursos de emendas parlamentares, capacitações e apoio técnico de órgãos como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). "Começamos há cerca de dois anos, comprando os kits para produção, e foi bem aceito. São cerca de 45 famílias trabalhando com o mel e nossa intenção é ser referência", conta.
A produção de mel silvestre é realizada por famílias que já atuam na apicultura há décadas e também por novatos, totalizando cerca de 200 caixas, produzindo 20 quilos cada. Matheus Marques é um dos que ingressaram na apicultura e vê a atividade como um bom complemento de renda. "A atividade se encaixa bem ao perfil da nossa comunidade, com áreas pequenas, de morro e matas preservadas. Vejo que daqui a uns dois anos vou poder estar vivendo só dessa atividade, que já me ensinou muito. O apicultor não destrói a natureza porque sabe o valor que ela tem de pé. Essa consciência eu não tinha e depois de começar a trabalhar com a apicultura sei que a árvore tem que ficar em pé", conclui.
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