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Ministra Macaé Evaristo destaca papel da justiça climática em diálogo com jornalistas negros
(Foto: Duda Rodrigues/MDHC)
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), Macaé Evaristo, participou nesta quarta-feira (1º) de um encontro com jornalistas negros e negras selecionados pelo Centro Brasileiro de Justiça Climática (CBJC). A reunião tratou de temas como justiça climática, racismo ambiental e estratégias de proteção a lideranças sociais, ambientalistas e comunicadores. O diálogo também ressaltou o papel da mídia na valorização dessas pautas e no fortalecimento da mobilização social.
Os profissionais presentes integram veículos e mídias negras em diferentes regiões do Brasil e participam do primeiro programa de fellowship em justiça climática voltado exclusivamente para pessoas negras e afrodescendentes. A iniciativa é promovida pelo CBJC.
A crise climática foi um dos eixos centrais do debate, com a apresentação de reportagens que destacam seus efeitos diretos nas periferias, como a “ansiedade climática” e o impacto na saúde física e mental, especialmente de mães e cuidadoras. Foi lembrado que, para moradores de áreas periféricas, enchentes fazem parte da realidade cotidiana há décadas, e não apenas de um fenômeno associado às mudanças climáticas recentes.
Também foi ressaltado o silenciamento em torno de genocídios e conflitos que atingem pessoas negras, quilombolas e indígenas, em contraste com a dificuldade de responsabilizar empresas brasileiras, especialmente mineradoras, envolvidas nesses processos de violência.
Macaé Evaristo ressaltou que o MDHC, por meio do Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas (PPDDH), atua em diferentes frentes, como a mediação de conflitos fundiários e a relação com grandes empresas. Segundo a ministra, a maioria das pessoas atendidas pelo programa são quilombolas, indígenas e lideranças que defendem seus territórios.Ela citou a mineração em Minas Gerais como exemplo de situação que demanda atenção especial. “Quando a gente está falando da questão climática, não tem como a gente pensar na proteção do planeta, se a gente não pensar na proteção das pessoas, e especialmente aquelas pessoas hoje, que estão tentando fazer a diferença no planeta”, afirmou.
A ministra também lembrou que o Ministério mantém programas de proteção a crianças ameaçadas de morte e a pessoas em risco de homicídio (Provita). Para ela, a articulação com outras pastas, como o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), é essencial em situações como a regularização fundiária de comunidades quilombolas, muitas vezes localizadas em territórios ricos em minerais e marcados por conflitos.
Macaé sugeriu ainda a criação de um mapa que identifique áreas de maior vulnerabilidade no Brasil como ferramenta para prevenir a morte de defensores de direitos humanos. Defendeu o fortalecimento do programa de proteção, ampliando sua capilaridade dentro do governo, uma vez que ele permite identificar violações como tráfico de pessoas e exploração sexual. Ressaltou também que a preservação da terra e do meio ambiente está diretamente ligada à permanência de povos indígenas e comunidades quilombolas em seus territórios.
Comunicação e justiça climática
Durante o encontro, Andréia Coutinho, jornalista e diretora-executiva do CBJC, entregou dois materiais à ministra: o “Guia de Mulheres Quilombolas Rumo à COP 30”, que traz a agenda climática internacional sob uma perspectiva racializada e de gênero, e o dossiê “Cartografias Negras e Injustiças Climáticas no Brasil”, resultado de pesquisa sobre a visão de jovens negros em relação a seus territórios, utilizando metodologias decoloniais.
Segundo Andréia, o Brasil está entre os países mais perigosos para jornalistas, tornando o risco de morte uma realidade constante no exercício da profissão. “E, em um país tão desigual, tão racista e tão polarizado, nosso compromisso vai na contramão de todas as injustiças legitimadas”, destacou.
Para ela, falar de justiça climática é um ato de resistência em prol de direitos fundamentais. “Por isso, junto ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, buscamos dialogar sobre caminhos e possibilidades de incidência política e de produção de conhecimento que vão além da COP30”, acrescentou. Ainda de acordo com a diretora, o compromisso do CBJC é seguir denunciando injustiças climáticas, racismo ambiental, genocídio da população negra, fome, miséria, sexismo, misoginia, violências de gênero e desigualdades históricas.
Na roda de conversa, também foi ressaltada a importância do jornalismo de causas, com a capacitação de comunicadores populares para utilizar ferramentas como mapas interativos no registro de dados sobre violência contra populações vulneráveis e impactos ambientais. A COP 30, marcada para novembro em Belém (PA), foi tratada como marco estratégico.
“Construir a COP 30 para nós é muito importante, especialmente para quem está na defesa dos direitos humanos, para dar visibilidade a essas pessoas que são, efetivamente, nossos defensores, atuando desde a Terra do Curral, em Belo Horizonte, até os territórios do Vale do Jequitinhonha, do Cerrado e do Pampa”, destacou a ministra Macaé Evaristo.
A conversa trouxe ainda a ausência de jornalistas negros nas redações e os efeitos dessa lacuna na forma de comunicar. Foram mencionadas a necessidade de cotas nos espaços de produção de conteúdo e a baixa representatividade de pessoas negras em cursos universitários. Na ocasião, foi apresentado o “Manual de Redação Antirracista”, da Alma Preta, que discute práticas jornalísticas sob uma perspectiva política e ética pautada pelos direitos humanos. A crise climática também foi definida como uma crise de informação.
Pedro Borges, jornalista da Alma Preta, também avaliou positivamente o encontro. “Eu acho que o encontro foi muito importante. Vale destacar o trabalho do CBJC em articular essa agenda e também a postura da ministra, que não foi apenas de escuta, mas propositiva. A equipe se colocou à disposição para conversar conosco, demonstrando abertura para pensar em cooperação com o CBJC. Como repórter, tenho interesse em manter esse diálogo com os ministérios, considerando o desafio de um Estado brasileiro historicamente pouco transparente. Por isso, todo esforço, parceria e escuta com jornalistas é muito rico. O encontro foi excelente”, afirmou.Houve ainda a sugestão de elaborar material de orientação para jornalistas, facilitando o acesso a dados públicos, especialmente sobre quilombos titulados, diante da dificuldade em obter informações atualizadas no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), mesmo após a criação da primeira diretoria de quilombolas no órgão.
A roda de conversa reforçou o compromisso do MDHC em promover a justiça climática e os direitos humanos, reconhecendo o papel essencial do jornalismo na visibilidade e no enfrentamento dessas questões.
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Texto: R.M.
Edição: G.O.
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