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MEMÓRIA E VERDADE
Relator da ONU conclui visita ao Brasil com foco em justiça de transição
Relatório com as conclusões formais da visita será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2025 (Foto: ONU/Loey Felipe)
O relator especial das Nações Unidas para a Promoção da Verdade, Justiça, Reparação e Garantias de Não-Repetição, Bernard Duhaime, encerrou nesta segunda-feira (7) sua visita oficial ao Brasil. A agenda, iniciada no dia 30 de março, teve como objetivo avaliar as ações adotadas pelo Estado brasileiro nas áreas de memória, verdade, justiça, reparação e garantias de não-repetição frente às graves violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar (1964-1985). Representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) acompanharam o relator ao longo da visita.
O relatório com as conclusões formais da visita será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro de 2025. O documento trará recomendações específicas para que o Brasil avance na construção de uma memória coletiva justa e no enfrentamento das estruturas de violência que ainda permanecem.
Considerações
Segundo o relator, embora o Brasil tenha registrado avanços desde a redemocratização em 1985, a ausência de implementação plena das recomendações contidas no relatório final da Comissão Nacional da Verdade compromete a efetividade das políticas de justiça de transição. A falta de respostas adequadas às vítimas, bem como a ausência de responsabilização pelos crimes cometidos, perpetua um cenário de impunidade e enfraquece os mecanismos democráticos. Diante disso, Duhaime recomendou uma revisão da Lei da Anistia (Lei 6.683/1979) para garantir que a norma esteja de acordo com a legislação internacional de direitos humanos, entre outras medidas, como o estabelecimento de mecanismos de busca da verdade para abordar alegações de graves violações dos direitos humanos cometidas pelas autoridades do Estado durante a ditadura contra povos indígenas, camponeses e pessoas afrodescendentes.
Duhaime chamou atenção ainda para o que classificou como um contínuo de violência institucional no país, com raízes históricas no colonialismo, na escravidão, na ditadura e em formas atuais de repressão que afetam desproporcionalmente populações indígenas, negras, camponesas e demais grupos marginalizados. Para ele, os danos produzidos por essas práticas persistem no presente e impactam gerações, o que reforça a urgência de uma resposta abrangente do Estado.
Esforços enviados pelo governo federal para a efetivação da justiça de transição também foram reconhecidos, citando os trabalhos das comissões Nacional da Verdade, da Anistia e de Mortos e Desaparecidos Políticos, e outras iniciativas.
Visitas a locais de memória
Ao longo de nove dias no País, a agenda do relator incluiu encontro com a ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, além de reuniões com outros representantes do governo, parlamentares, organizações da sociedade civil e movimentos sociais. O relator também participou de sessão solene na Câmara dos Deputados em homenagem ao Dia Internacional do Direito à Verdade sobre as Violações dos Direitos Humanos e pela Dignidade das Vítimas e esteve em São Paulo e Rio de Janeiro, onde concedeu, nesta segunda-feira (7), uma coletiva de imprensa.
Na capital paulista, o relator visitou o cemitério Dom Bosco, em Perus, local da Vala Clandestina com remanescentes ósseos de vítimas da repressão política. A área foi palco, recentemente, de uma cerimônia de pedido público de desculpas pela negligência da União na guarda e identificação dos indivíduos ali encontrados. Ainda na capital paulista, o especialista esteve no antigo prédio do Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), centro de repressão durante a ditadura militar, visitou o Memorial da Resistência e se encontrou com a presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Eugênia Gonzaga.
Já no Rio de Janeiro, além da coletiva de imprensa, o representante do ONU esteve ainda na antiga sede do DOI-CODI na cidade, no Arquivo Nacional – onde conheceu o trabalho desenvolvido pelo Centro de Referências Memórias Reveladas -, e na região da Pequena África, incluindo o Cais do Valongo, local onde foi instalada a primeira das cem placas de sinalização da memória em homenagem às pessoas africanas escravizadas no país, projeto conduzido pela Coordenação Geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico, do MDHC. Nas duas cidades o relator esteve acompanhado por representantes do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
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Texto: E.G.
Edição: L.M.
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