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Em resgate histórico, ex-presidente Jango recebeu honras de Chefe de Estado
Em uma cerimônia histórica e inédita no Brasil, o ex-presidente João Goulart foi homenageado nesta quinta-feira (14) com todas as honras de um Chefe de Estado. O desembarque da urna funerária contendo os restos mortais de Jango perante seus familiares, ex-presidentes, ministros, parlamentares, militares, amigos e da Presidenta da República, Dilma Rousseff, marca um capitulo imaginário para uma nação que viveu mais de 20 anos de supressão da democracia.
Passados quase 37 anos da sua morte, a solenidade aflorou emoções e sentimentos, que por longos anos foram reprimidos e ignorados por uma nação inteira, que não teve o direito ao luto oficial de um mandatário constitucionalmente estabelecido. Os restos mortais do ex-presidente foram exumados nesta quarta-feira (13), no município de São Borja/RS, terra natal de Jango.
“Estamos aqui fazendo justiça, recuperando a nossa própria história e valorizando todas as conquistas que temos construído até aqui. Democracia se constrói todos os dias, inclusive num momento como este, onde homenageamos um ex-presidente, constitucionalmente estabelecido, que foi deposto por circunstâncias de golpe. Hoje tivemos aqui foças civis e militares nesta homenagem para reafirmar que isso nuca mais aconteça”, destacou a Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR).
Maria do Rosário agradeceu todos os envolvidos no processo de exumação do ex-presidente, especialmente dos peritos, que segundo ela tiveram papel decisivo em todo o processo. O próximo passo, explicou Rosário, é realizar a coleta das mostras necessárias para a realização da perícia.
“Agora entramos em nova etapa. Houve um cuidado muito grande lá em São Borja. Os peritos cumpriram todos os padrões nacionais e internacionais para que possamos obter o melhor resultado possível na análise dos restos mortais de Jango”, explicou Rosário, lembrando que a continuidade dos trabalhos agora é de responsabilidade do Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, para onde os restos mortais foram encaminhados, logo após a cerimônia.
Em sua conta no Twitter, a presidenta Dilma Rousseff disse que a solenidade de honra ao ex-presidente João Goulart é uma afirmação da democracia no Brasil, que se consolida com este gesto histórico “Hoje é um dia de encontro do Brasil com a sua história. Como chefe de Estado da República Federativa do Brasil participo da recepção aos restos mortais de João Goulart, único presidente a morrer no exílio, em circunstância ainda a serem esclarecidas por exames periciais. Essa cerimônia que o Estado brasileiro promove hoje com a memória de João Goulart é uma afirmação da nossa democracia. Uma democracia que se consolida com este gesto histórico”, disse.
Durante a cerimônia, a presidenta Dilma depositou, junto com a viúva de João Goulart, Maria Thereza, uma coroa de flores brancas na urna com os restos mortais do presidente. Maria Thereza recebeu a bandeira brasileira que estava em cima da urna com os restos mortais de Jango. Também participaram da cerimônia os ex-presidentes José Sarney, Fernando Collor e Luiz Inácio Lula da Silva.
Exumação – O processo de exumação de Jango teve início em 2007, por iniciativa de familiares do ex-presidente, que solicitaram ao Ministério Público Federal - MPF a reabertura das investigações. Em 2011, o pedido foi estendido pela família à Ministra Maria do Rosário, da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Com a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV), em maio de 2012, a demanda ganhou força e culminou com a etapa preparatória à exumação, no dia 21 de agosto de 2013. A coordenação dos trabalhos é compartilhada entre a CNV, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), ligada à SDH/PR, o MPF-RS e a Polícia Federal (PF).
Com a análise pericial dos restos mortais de Jango, a expectativa é de que os laudos periciais sejam somados às demais investigações, incluindo as documentais e testemunhais, na busca de um esclarecimento sobre as circunstâncias que levaram o ex-presidente a falecer. "É um dever do Estado brasileiro esclarecer as circunstâncias da morte do presidente João Goulart", afirmou a ministra Maria do Rosário.
Colaboração internacional – Com o intuito de legitimar o trabalho de investigação quanto às causas da morte de Jango, a SDH/PR convidou especialistas do Uruguai e da Argentina para colaborarem com o grupo responsável pela exumação. O comitê internacional da Cruz Vermelha (CICV) também se soma a esses esforços.
Histórico - João Belchior Marques Goulart foi presidente do Brasil entre 1961 e 1964. Popularmente conhecido como Jango, ele foi obrigado a deixar o cargo e o país após o golpe militar, em seu último ano de governo. Refugiou-se em seu estado natal, Rio Grande do Sul, e depois partiu para o exílio no Uruguai e na Argentina. Exilado, João Goulart faleceu em 6 de dezembro de 1976, em Mercedes, província de Corrientes, na Argentina.
A versão oficial diz que ele foi vítima de um ataque cardíaco, mas há suspeitas de que ele tenha sido envenenado a mando do governo brasileiro por militares uruguaios durante a Operação Condor, uma aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970.
Assessoria de Comunicação Social com informações do Blog do Planalto