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17/09 – Perfil da feminista Françoise Collin (1928-2012)
Françoise Collin – filósofa, romancista e feminista
Por Maria Betânia Ávila*
Françoise Collin, de origem belga e radicada em Paris partiu definitivamente em 1o de setembro de 2012. Com uma obra autoral de importância maior, ela foi também uma grande construtora de projetos coletivos. Em sua tese de doutorado sobre “Maurice Blanchot et la question de l´écriture”, publicada pela editora Gallimard (1971) ela expressa a relação, incontornável para ela, entre a filosofia e a escritura, ao mesmo tempo em que revela sua sensibilidade e o vigor da sua capacidade criativa/reflexiva. A produção do pensamento, e a liberdade da produção do pensamento como algo permanente e como processo sempre inacabado se constitui para ela em uma paixão pela reflexão e ao mesmo tempo em uma questão epistemológica.
Seu pertencimento ao movimento feminista pela produção do conhecimento e pela ação, desde o início dos anos 1970, vai alterar sua trajetória como filósofa e intelectual já reconhecida. Seu engajamento feminista e sua capacidade de indignação e posicionamento frente às injustiças caminharam juntos com seu imenso e fecundo desenvolvimento intelectual. Foi uma das introdutoras na França da obra de Hannah Arendt sobre a qual escreveu vários textos e da qual incorporou questões fundamentais ao seu pensamento em um movimento reflexivo entre essas questões e o feminismo. Esse é o caso, da sua reflexão sobre “o mundo em comum” de Arendt repensado a partir das relações entre os sexos, e de maneira particular a relação das mulheres no acesso o mundo público, na libertação do privado como privação, enfim em uma práxis de libertação que pode se expressar também pela arte.
Para ela a construção do pensamento feminista se dá como um diálogo plural e a partir de uma interferência permanente entre pensamento e prática como fundamento da ação. “Être ensemble”, ou como construir uma forma de estar juntas? Esta é uma questão fundamental da sua reflexão sobre o movimento feminista.
Fundadora em 1973 dos “Les Cahiers du Grif”, primeira revista feminista de língua francesa, Françoise Collin nos deixa uma vasta obra que, com certeza, nos alimentará com seu pensamento e sua reflexão feminista, tão aguda, crítica e sempre envolta de um beleza singular na sua forma de escritura. Aliás a escritura é para ela um caminho, um devir...
"O movimento de liberação das mulheres - o feminismo - é um texto que se desenvolve, não uma tese. É uma linha melódica, não uma marcha militar. É uma inspiração, a inspiração de um sopro. O feminismo se respira mais do que se enuncia. De tanto dar o último suspiro, ele renasce ..." (Françoise Collin)
*Maria Betânia Ávila, socióloga, feminista e pesquisadora do SOS Corpo Instituto Feminista para a Democracia.
Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM
Presidência da República – PR