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136 ANOS
Bembé do Mercado: encerramento sagrado reafirma ancestralidade e memória negra em Santo Amaro
A cerimônia reafirma os vínculos profundos entre os terreiros de candomblé, a ancestralidade africana e o território de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano (Foto: Elson Rabelo/CGMET/MDHC)
No último domingo (18), o Bembé do Mercado, considerado o maior candomblé de rua do mundo, realizou o encerramento da programação dos 136 anos de sua existência com a tradicional entrega dos presentes ao mar, um dos momentos mais simbólicos e espirituais de toda a celebração. A cerimônia reafirma os vínculos profundos entre os terreiros de candomblé, a ancestralidade africana e o território de Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano.
O Bembé do Mercado foi criado em 1889, logo após a abolição da escravidão, pelo babalorixá João de Obá, como um ato de celebração à liberdade recém-conquistada pelos africanos escravizados. Desde então, o Bembé segue como manifestação de fé e resistência, unindo música, dança, culto aos orixás e ocupação do espaço público com dignidade e força ancestral.
A abertura oficial do evento aconteceu en 13 de maio, data simbólica da abolição da escravatura, e o Dia Nacional de Denúncia contra o Racismo. A solenidade contou com a presença da ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, que participou da celebração destacando seu papel na resistência do povo negro no Brasil às opressões e reafirmando o compromisso do Governo Federal com o combate à intolerância religiosa; a reparação histórica; e a valorização das tradições afro-brasileiras.“É a marca do nosso povo de terreiro ocupando as ruas para dizer que nós não aceitamos ser cativos, ser colonizados. A gente reafirma a nossa liberdade e o nosso direito a políticas públicas, educação, saúde, cultura, moradia e a professar nossa fé”, declarou a titular do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) na ocasião.
Encerramento
Neste ano, a saída do presente contou com a participação emocionante do afoxé Filhos de Ghandi, que fortaleceu ainda mais o elo entre espiritualidade e cultura afro-brasileira. No sábado, véspera da entrega, o presente uma oferenda enviada pelos candomblés da região foi levada ao Mercado Municipal, onde foi acolhido em um xirê, cerimônia sagrada que celebra os orixás em meio à cidade. O presente permaneceu no espaço durante toda a noite, sendo cuidado com reverência, até ser conduzido em cortejo no domingo à tarde para a Praia da Itapema, onde foi ofertado ao mar.Esse gesto simbólico marca o encerramento dos festejos e a renovação das forças espirituais, representando o elo contínuo entre os orixás, a natureza e a comunidade que os cultua.
Patrimônio e lugar de memória
Santo Amaro também é guardiã de marcos importantes da memória negra no Brasil. A Igreja de Nossa Senhora do Rosário, ligada à antiga irmandade de negros católicos da cidade, existe em dois pontos: uma em ruínas, construída por africanos fora do perímetro urbano, e outra mais recente, localizada na área central de Santo Amaro. Ambos os locais, que guardam séculos de fé e resistência do povo negro, estão previstos para receber placas de sinalização como espaços de memória afro-brasileira, fortalecendo sua preservação histórica e espiritual.
Reconhecido como Patrimônio Imaterial do Estado da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC), e do Brasil pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o Bembé do Mercado é uma celebração viva da herança africana no Brasil. A festa reúne, todos os anos, milhares de pessoas entre adeptos das religiões de matriz africana, moradores da região, turistas e pesquisadores que se conectam à força espiritual e cultural do Recôncavo Baiano.
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Texto: R.G.
Edição: F.T.
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