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#OUTUBROCIBERSEGURO
Polícia Civil do Rio de Janeiro faz alerta sobre novos crimes virtuais praticados contra contra crianças e adolescentes
Na campanha #OutubroCiberSeguro deste ano, cujo tema é “Criança na internet não é brincadeira, não”, a superintendente de Controle de Obrigações da Anatel, Suzana Rodrigues, conversou com o delegado Cristiano Maia, titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV-RJ), uma referência nacional no combate a crimes virtuais contra menores.
Com ampla experiência em casos de estupro virtual, extorsão e grooming - prática criminosa em que um adulto se aproxima de uma criança ou adolescente para ganhar sua confiança e posteriormente explorá-la sexualmente -, o delegado fez um importante alerta sobre os principais crimes virtuais que têm atingido crianças e adolescentes no ambiente online.
Confira a conversa:
1) O número de crimes virtuais contra crianças e adolescentes tem crescido de forma preocupante. Quais são os principais riscos que os jovens enfrentam hoje na internet — como aliciamento, extorsão, pornografia infantil, discurso de ódio — e o que torna crianças e adolescentes especialmente vulneráveis a essas ameaças?
Nos últimos anos, temos observado uma explosão no volume e na sofisticação dos crimes virtuais contra crianças e adolescentes. O espaço digital se tornou uma extensão da vida social — mas também do campo de atuação dos criminosos. Entre os principais riscos estão o aliciamento sexual (grooming), a produção e compartilhamento de material pornográfico infanto-juvenil, a extorsão virtual, a sextorsão, o estupro virtual, o cyberbullying, o discurso de ódio e a exposição indevida de dados e imagens pessoais.
Crianças e adolescentes são mais vulneráveis porque ainda estão em formação emocional, cognitiva e social. O desejo de pertencimento, a busca por aceitação e a exposição intensa nas redes os tornam alvos fáceis de manipulação. Por isso, é fundamental que o ambiente digital seja mediado por responsáveis atentos, educadores preparados e plataformas comprometidas com a segurança.
2) O estupro virtual, mesmo sem contato físico, tem causado traumas profundos em crianças e adolescentes. Quais sinais de alerta podem indicar que uma criança ou adolescente está sendo vítima de abuso ou coerção virtual, e como os responsáveis devem agir diante dessas situações?
O estupro virtual é uma violência real, mesmo que o agressor nunca tenha tocado fisicamente a vítima. O STJ inclusive já reconheceu essa modalidade criminosa em seus julgados. Os efeitos psicológicos são devastadores. Alguns sinais de alerta incluem mudanças bruscas de comportamento, isolamento, queda no rendimento escolar, irritabilidade, ansiedade diante do uso de dispositivos e tentativas de apagar históricos de conversas ou contas.
A orientação é não julgar nem punir a vítima. O acolhimento é o primeiro passo. Em seguida, deve-se preservar as provas digitais (prints, links, mensagens) e procurar imediatamente uma Delegacia de Polícia, como a DCAV/RJ, ou registrar o caso no site da Polícia Civil.
3) O grooming, quando adultos se aproximam de crianças com intenções abusivas, muitas vezes começa com conversas aparentemente inofensivas. Como os pais e educadores podem orientar os jovens para reconhecer e evitar essas abordagens?
O grooming é um processo gradual de manipulação. O criminoso cria laços de confiança, elogia, envia presentes virtuais, até que conquista espaço emocional sobre a vítima. A prevenção começa com diálogo contínuo e sem julgamentos. Pais e educadores devem ensinar que amizades online exigem o mesmo cuidado que as presenciais — nunca se deve compartilhar fotos íntimas, informações pessoais, senhas ou aceitar convites de estranhos.
Além disso, é fundamental que os adultos entendam o universo digital das crianças. Saber quais aplicativos utilizam, com quem conversam e que tipo de conteúdo consomem não é invasão, mas ato de cuidado e proteção.
4) A extorsão digital, envolvendo ameaças e exigência de dinheiro ou favores em troca do silêncio sobre conteúdos íntimos, é uma realidade cruel. Atualmente, também há o crime de sextorsão. Qual a diferença entre essas modalidades? O que fazer imediatamente ao identificar esses tipos de situação? Quais canais são seguros para denúncia?
A extorsão digital é o termo genérico para qualquer chantagem praticada em ambiente virtual. Já a sextorsão é a modalidade em que o agressor exige dinheiro, favores ou novas imagens íntimas em troca de não divulgar conteúdos pessoais ou sexualizados da vítima.
Ao identificar esse tipo de crime, jamais se deve ceder às exigências do criminoso. A orientação é interromper o contato, guardar todas as provas digitais e procurar imediatamente uma Delegacia de Polícia, podendo ser uma Especializada, como por exemplo a DCAV – Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima ou uma Delegacia Distrital.
Canais seguros de denúncia incluem:
- Disque 100 (Direitos Humanos);
- SaferNet Brasil – www.safernet.org.br;
- Polícia Civil do Estado (registro online em casos de urgência);
- Plataformas digitais, que possuem mecanismos próprios de denúncia.
A agilidade na comunicação às autoridades é fundamental para interromper o ciclo de violência e evitar novas vítimas.
5) Dentro da campanha #OutubroCiberSeguro da Anatel, que busca fortalecer a segurança digital de crianças e adolescentes, que mensagem o senhor deixaria para as famílias e instituições sobre o papel da prevenção, da educação digital e da denúncia na proteção dos jovens?
A internet é um espaço de oportunidades, mas também de riscos. E proteger as novas gerações não significa afastá-las do ambiente digital, e sim ensiná-las a navegar com segurança, responsabilidade e consciência crítica.
A prevenção é o verdadeiro escudo da infância. A informação deve chegar antes do crime. Famílias, escolas e instituições públicas precisam caminhar juntas — compartilhando conhecimento, reforçando valores e garantindo que toda criança tenha o direito de ser criança, também no mundo virtual.
A proteção infanto-juvenil não se sustenta em boas intenções — se sustenta em compromisso, método e ação coordenada. Cada caso não atendido é uma omissão. Cada demora é uma brecha. E toda brecha aberta na proteção de uma criança é uma porta escancarada para a violência.
3ª edição da campanha
Ao longo do mês de outubro, a Anatel vem ampliando o diálogo sobre segurança digital com diferentes instituições e especialistas, promovendo uma série de entrevistas e ações de conscientização em todo o país.
Além da conversa com o delegado Cristiano Maia, da DCAV-RJ, a campanha contou com a participação da Polícia Civil do Paraná, representada pela delegada Ellen Victer, que abordou os riscos do ambiente digital para crianças e adolescentes — como o cyberbullying, o aliciamento e a divulgação indevida de imagens — e reforçou a importância da atuação preventiva das famílias e escolas. Também participou da campanha, o delegado Emmanoel David, titular da Delegacia de Estelionato de Curitiba, que destacou os golpes virtuais mais comuns, os desafios enfrentados pelas forças de segurança e a necessidade de conscientização digital constante.
Com essas iniciativas, a Anatel reafirma seu compromisso em proteger crianças e adolescentes no ambiente online, fortalecendo a cultura da prevenção, da denúncia e da educação digital em todo o Brasil.
Minibiografia
Cristiano Vale Maia é Delegado de Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DCAV-RJ). Foi titular de Diversas Delegacias Distritais do Rio de Janeiro, tendo também atuado como Coordenador do SIC – Setor de Investigações Complexas da Corregedoria Interna da Polícia Civil do Rio de Janeiro.É referência nacional no enfrentamento a crimes virtuais contra crianças e adolescentes, liderando operações nacionais, como as Operações Caminhos Seguros e Fake Monster (que impediu um atentado a bombas no show da Lady Gaga, em Copacabana). Foi coautor do livro “Proteja os Seus Filhos – Em Defesa de Quem Mais Precisa”. É palestrante e escritor de diversos artigos sobre o tema Proteção Infanto-juvenil. Também atua na formulação de políticas públicas de prevenção, capacitação de educadores e fortalecimento da rede de proteção infanto-juvenil.

- Delegado Cristiano Maia