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#OUTUBROCIBERSEGURO
Delegada fala sobre os riscos do ambiente digital e a proteção de crianças e adolescentes
Como parte das ações da campanha Outubro CiberSeguro, a superintendente de Controle de Obrigações (SCO) da Anatel, Suzana Silva Rodrigues, conversou com a delegada Ellen Victer, da Polícia Civil do Paraná. Com ampla experiência na investigação de crimes cibernéticos e na atuação junto à rede de proteção à infância e adolescência, a delegada compartilhou informações essenciais sobre os desafios da segurança digital e o papel das famílias, escolas e autoridades na prevenção de riscos online.
Durante o diálogo, foram abordados temas como o aliciamento de menores em jogos e redes sociais, os sinais de alerta que pais e responsáveis devem observar, e os avanços da legislação brasileira no combate ao cyberbullying e à exposição indevida de crianças e adolescentes.
Um dos pontos de destaque foi o uso de emojis com significados ocultos, que podem indicar conteúdos impróprios. A delegada alertou que símbolos aparentemente inofensivos, como o emoji de macarrão 🍜 (usado para se referir a “nudes”) e o de milho 🌽 (associado à pornografia), têm sido utilizados por agressores para se comunicar com vítimas de forma disfarçada. A orientação é que adultos estejam atentos a essas linguagens e mantenham diálogo constante com os jovens.
A conversa também abordou os impactos da Lei nº 14.811/2024, que trata da criminalização do bullying e do cyberbullying, reforçando a importância da responsabilização dos agressores e da proteção das vítimas.
A delegada Ellen Victer reforçou que a tecnologia pode ser uma aliada no aprendizado e na convivência, desde que usada com equilíbrio, responsabilidade e respeito. A atuação conjunta entre família, escola e rede de proteção é fundamental para garantir um ambiente digital mais seguro para todos.
No encontro, a superintendente fez algumas perguntas à delegada Ellen Victer:
- Quais são os principais desafios enfrentados pelas autoridades na proteção de crianças e adolescentes no ambiente digital?
Acredito que o maior desafio hoje é acompanhar a velocidade com que o mundo digital evolui. As plataformas mudam, os aplicativos se multiplicam e, junto com eles, surgem novas formas de exposição e vulnerabilidade. Além disso, muitos crimes ocorrem em ambientes virtuais hospedados fora do país, o que dificulta a identificação dos autores e a obtenção de provas. Outro ponto sensível é a conscientização: ainda há uma falsa sensação de segurança por parte dos pais e responsáveis, que muitas vezes não acompanham de perto o que as crianças fazem na internet.
- Como os crimes cibernéticos envolvendo menores têm evoluído nos últimos anos, e quais estratégias têm sido adotadas para combatê-los?
Infelizmente, temos observado um aumento expressivo de crimes como o aliciamento, a divulgação de imagens íntimas e o cyberbullying. A diferença é que hoje essas práticas estão mais sofisticadas — os criminosos utilizam perfis falsos, softwares de anonimização e redes privadas para dificultar a identificação.
Em contrapartida, as polícias têm investido em capacitação e tecnologia, com núcleos especializados em crimes cibernéticos e ferramentas de rastreamento digital. Além disso, parcerias com empresas de tecnologia e campanhas educativas têm sido fundamentais para ampliar a prevenção e a denúncia.
- Na sua experiência, quais sinais os pais e responsáveis devem observar para identificar se seus filhos estão sendo vítimas de violência online, como cyberbullying ou aliciamento?
O principal sinal de alerta está na mudança de comportamento. A criança pode se tornar mais reclusa, ansiosa, triste ou até agressiva. Em alguns casos, evita usar o celular perto dos pais ou se mostra excessivamente preocupada com o que está sendo dito sobre ela nas redes. Outro indício é a perda de interesse por atividades que antes a motivavam. Os pais devem manter um diálogo aberto, sem julgamentos, e demonstrar que a casa é um espaço seguro para conversar sobre qualquer situação.
- Alguns emojis e símbolos usados por jovens na internet têm significados ocultos que podem indicar conteúdos impróprios. Como pais e educadores podem se manter atentos a esses códigos e orientar os jovens sobre os riscos?
É impossível decifrar todos os códigos e gírias da internet — e os jovens sabem disso melhor do que ninguém. Por isso, mais importante do que tentar acompanhar cada símbolo é construir uma relação de confiança. Pais e educadores devem mostrar interesse pelo universo digital dos adolescentes e conversar abertamente sobre limites, respeito e privacidade. Há também conteúdos educativos disponíveis em sites de instituições oficiais e forças de segurança que ajudam a compreender essa linguagem digital em constante mutação, como, por exemplo, https://www.policiacivil.pr.gov.br/NUCIBER
- Como a legislação brasileira tem avançado na responsabilização de agressores em casos de crimes virtuais contra crianças e adolescentes?
O Brasil tem evoluído de forma significativa nesse campo. Recentemente, a promulgação da Lei nº 15.211/2025 representou um avanço importante, ao aprimorar os mecanismos de investigação e punição dos crimes praticados contra crianças e adolescentes no ambiente digital. Essa legislação fortalece a responsabilização dos agressores e amplia a proteção das vítimas, tornando o enfrentamento mais efetivo. Além disso, o Estatuto da Criança e do Adolescente tem passado por atualizações que acompanham as novas dinâmicas do mundo virtual. O grande desafio agora é garantir a aplicação prática dessas normas, com investigações céleres e integração entre os órgãos de segurança, Ministério Público e Judiciário.
Minibiografia
Ellen Victer é delegada da Polícia Civil do Paraná desde 2017. Atuou por quase cinco anos à frente do NUCRIA, delegacia especializada na proteção de crianças e adolescentes vítimas de crimes, em Curitiba. Posteriormente, trabalhou no NUCIBER, núcleo responsável por investigações de crimes cibernéticos, chefiando a equipe especificamente nos delitos de pedofilia. É professora da Escola Superior da Polícia Civil do Paraná (2020) e possui formação em Direito pela Faculdade de Direito de Campos/RJ (2008), com pós-graduação em Direito Público e Privado pelo Instituto Superior do Ministério Público do Rio de Janeiro/RJ (2010) e em Atendimento de Crianças Vítimas ou Testemunhas de Violência pela UFG (2024).

- Delegada fala dos riscos do ambiente digital