Notícias
ACESSIBILIDADE
Manual dos Inventários Participativos do Iphan ganhará versão em Libras
Arte: Iphan
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) promoveu, neste mês de dezembro, o 3º Ciclo de Oficinas e Debates Virtuais de Educação Patrimonial, e convidou representantes da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e do Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) para apresentar um projeto pioneiro de acessibilidade. A proposta é adaptar o Manual dos Inventários Participativos do Iphan para a comunidade surda, criando as Fichas do Inventário Participativo para Usuários de Libras (FIPAULs).
O projeto é fruto de uma tese de doutorado em andamento em História conduzida pelo professor do IFRS e doutorando pela UCS, Carlos Ferreira, sob orientação de Roberto Radünz, coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da universidade. A iniciativa conta com a participação fundamental de dois membros da comunidade surda de Caxias do Sul: Gabriel Quissini Mussatto, graduado em Letras-Libras, que atua como consultor, tradutor e intérprete, e Gustavo de Araujo Perazzolo, instrutor e professor de Libras.
A pesquisa surgiu do questionamento: “A percepção do patrimônio cultural por uma pessoa surda é a mesma de uma pessoa ouvinte?” A resposta, segundo os pesquisadores, é a forma de compreender e de se relacionar com o mundo, a partir de outros sentidos que não a audição, são diferentes, o que requer uma adaptação que vai muito além da simples tradução do português para Libras. E o Manual dos Inventários Participativos do Iphan, embora seja um produto flexível e democrático, ainda apresenta barreiras linguísticas significativas para usuários de Libras como primeira língua.
O português formal, com termos técnicos longos, metáforas e estruturas complexas, dificulta a compreensão por parte da comunidade surda. Além disso, o material visual atual foi concebido sob a perspectiva de pessoas ouvintes, o que pode não representar adequadamente a identidade e a cultura surda, para quem o registro visual e os símbolos têm importância central.
As FIPAULs
A proposta das Fichas do Inventário Participativo para Usuários de Libras representa uma solução inovadora, fundamentada no campo da História Pública, do qual o princípio norteador é garantir que o trabalho seja feito “por eles e com eles”, assegurando o protagonismo da comunidade surda em todas as etapas de desenvolvimento e aplicação da ferramenta.
As FIPAULS apresentam características específicas para superar as barreiras identificadas:
- Estrutura linguística adaptada: as fichas serão escritas em formato de glossa — sistema de notação escrita que representa os sinais da Língua Brasileira de Sinais usando palavras em português com a estrutura gramatical da Libras — em Libras, permitindo que os usuários estruturem o conteúdo de acordo com a lógica e a forma de pensar de sua própria língua, e não como tradução em português;
- Ênfase em recursos visuais: o material focará em registros visuais, com a inclusão de QR Codes que direcionam para vídeos contendo traduções em Libras e o histórico dos elementos patrimoniais inventariados;
- Parâmetros gramaticais em Libras: as fichas incluirão categorias que refletem a essência lexical e gramatical da Língua Brasileira de Sinais, como quantidade e configuração de mão, orientação da palma e expressão corporal, conferindo identidade própria ao processo;
- Acessibilidade ampliada: o projeto prevê a inclusão de audiodescrição via QR Code e versão em Braille, contemplando também usuários surdocegos;
- Produção pela comunidade: um aspecto fundamental é que o design gráfico, as fotografias e a escrita sejam realizados por pessoas surdas, garantindo que o material reflita autenticamente a cultura e a identidade da comunidade.
Por sua vez, o Iphan reconhece a lacuna existente nas políticas públicas para pessoas com deficiência. “Não seria exagero afirmar que as contribuições de pesquisadores, intérprete de libras e de representantes da comunidade surda de Caxias do Sul sobre a tradução dos Inventários Participativos para Libras representaram um momento histórico no que diz respeito ao debate sobre processos de inclusão, de democratização e de acessibilidade na difusão de práticas e experiências em Educação Patrimonial”, assegurou a coordenadora de Educação Patrimonial e Formação do Iphan, Márcia Pacito Almeida.
O objetivo da parceria vai além da acessibilidade. É, também, sobre inserir a Libras como língua de registro patrimonial, e não apenas como meio de tradução. Essa mudança de paradigma fortalece as políticas públicas inclusivas e garante que o patrimônio cultural brasileiro seja verdadeiramente definido e registrado por todas as vozes da sociedade.
Publicações de Educação Patrimonial
O 3º Ciclo de Oficinas e Debates Virtuais de Educação Patrimonial também marcou a apresentação do que a equipe da Coordenação-Geral de Educação, Formação e Participação Social (Cogedu) do Dafe chamou de “Box da Educação Patrimonial de 2025”, composto por três publicações editadas pelos servidores da Cogedu e da Divisão de Editoração e Publicações (Divep) do Iphan:
- Manual dos Inventários Participativos (2ª edição): guia de aplicação dos Inventários Participativos no contexto do Iphan, que tem como objetivo ser um material introdutório para que diferentes grupos e comunidades possam exercitar o levantamento e a descrição das referências culturais;
- Carta do Beijódromo: documento que apresenta uma série de recomendações para a reestruturação da Política de Educação Patrimonial do Instituto, a partir de debates iniciados em 2023 no Memorial Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília, local popularmente conhecido como Beijódromo; e
- “Memória para o Futuro: Patrimônio Cultural, Educação Patrimonial e Mudanças Climáticas”: documento que apresenta uma visão introdutória acerca das múltiplas interfaces entre o Patrimônio Cultural e as mudanças climáticas sob as lentes da Educação Patrimonial, seus principais conceitos, referências e ferramentas de aplicação.
Esses produtos são fruto do esforço e trabalho do Iphan rumo ao objetivo de democratizar o acesso ao conhecimento sobre patrimônio cultural e sintonizar suas diretrizes com questões contemporâneas urgentes.
Mais informações
Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br
Amanda Gil - amanda.gil@iphan.gov.br
www.gov.br/iphan
www.instagram.com/iphangovbr/
www.facebook.com/Iphangov
www.x.com/IphanGovBr
www.youtube.com/IphanGovBr
