Exposição Maxakali e pré-estreia de filme emocionam público no CNFCP/Iphan
Na última quinta-feira, 3 de julho, o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan), no Rio de Janeiro, foi palco de uma noite memorável. A abertura da exposição Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas: artesanato em fibra de embaúba, na Sala do Artista Popular (SAP), e a pré-estreia do documentário Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá mobilizaram cerca de 300 pessoas em um mergulho sensível e potente no universo do povo indígena Maxakali, do Vale do Mucuri (MG).
A exposição apresenta, pela primeira vez na SAP, o trabalho único das mulheres Tikmũ’ũn com a fibra da embaúba – árvore sagrada na cosmovisão Maxakali e cada vez mais rara em seus territórios. O público é convidado a conhecer um modo ancestral de tecelagem, onde cada bolsa, colar e pulseira é também veículo de cura, espiritualidade e resistência. Na mostra também há peças de outros materiais, como algodão e sisal. Todas estão à venda, como parte de um dos objetivos do Programa Sala do Artista Popular, de fortalecer e promover a sustentabilidade do artesanato de tradição.
Responsável pela pesquisa e textos da exposição, o antropólogo e codiretor do filme Roberto Romero destacou o valor transformador do projeto Hãmhi | Terra Viva, que forma agentes agroflorestais e viveristas indígenas. “São 37 indígenas bolsistas, a maioria mulheres, mantendo vivos três viveiros-escola. Eu nunca vi tanta transformação positiva em tão pouco tempo. É um processo de recuperação da alimentação tradicional, da floresta e, acima de tudo, de justiça climática e reparação histórica. Eles são a floresta viva", afirmou.
No jardim do Museu da República, parceiro desta ação, a noite seguiu com a pré-estreia de Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, que narra a trajetória de Sueli Maxakali na busca por seu pai, Luis Kaiowá, separado da família durante a ditadura militar. Dirigido por Sueli, Isael Maxakali e Roberto Romero, o filme emociona ao articular memórias íntimas e feridas coletivas dos povos originários no Brasil contemporâneo.
Em seguida, um debate reuniu os diretores, o professor Eduardo Viveiros de Castro e a Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.
A ministra destacou a força da narrativa de Sueli e a urgência da demarcação dos territórios indígenas. “O filme traz felicidade, sim, por esse reencontro da Sueli com o pai, mas é também sobre dor, segredo e apagamento. Quando a gente vê o filme, vê ainda muito essa necessidade, dessa luta para que haja de fato uma reparação a partir da garantia dos territórios, da garantia da demarcação dos territórios indígenas”, reforçou Guajajara.
Já Sueli Maxakali celebrou a retomada do território e a força da espiritualidade: “A nossa luta é muito gigante. É o planeta que nós precisamos no coração reflorestar, todos vocês, a mente, o coração, para poder manter nosso planeta vivo.”
O professor Eduardo Viveiros de Castro refletiu sobre o vínculo cosmológico dos Maxakali com a terra: “Os Maxakali perderam a terra, mas não perderam o parentesco. E é por isso que conseguem retomá-la. Retomar a terra é retomar o parentesco com os seres não humanos, com os espíritos, com a floresta.”
O diretor do CNFCP/Iphan, Rafael Barros, celebrou a potência da exposição como forma de valorização da cultura Maxakali. “É a última etnia em Minas Gerais a manter viva a sua língua. A mostra é uma importante contribuição para o fortalecimento da identidade cultural e linguística desse povo.”
A exposição fica em cartaz até 28 de setembro, com entrada gratuita. Já o filme Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá, entra em cartaz a partir do dia 10 de julho em todos os cinemas.
Serviço
Exposição: Hãmxop tut xop – as mães das nossas coisas: artesanato em fibra de embaúba
Local: Sala do Artista Popular – CNFCP/Iphan
Endereço: Rua do Catete, 179 – Catete, RJ
Visitação:
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Terça a sexta-feira, das 10h às 18h
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Sábados, domingos e feriados, das 11h às 17h
Período: 3 de julho até 28 de setembro
Entrada gratuita
Informações: (21) 3032-6052
Realização:
Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular (CNFCP/Iphan)
Associação Cultural de Amigos do Museu do Folclore Edison Carneiro (Acamufec)
Apoio na abertura: Museu da República
Parceria na abertura: Embaúba Filmes
Mais informações sobre o filme: www.meupaikaiowa.com.br

