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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
400 anos das Missões Jesuíticas Guarani: Iphan participa do início das celebrações no RS
Foto: Lauro Alves/ALRS
No último final de semana (13 e 14/12), o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) participou de dois grandes eventos que marcaram o início das celebrações dos 400 anos das Missões Jesuíticas Guaranis no Rio Grande do Sul (RS), nas cidades de Santo Ângelo e São Miguel das Missões. Promovidas pela Assembleia Legislativa do estado, as atividades contaram com dois grandes espetáculos musicais, que reuniram autoridades, artistas e comunidades indígenas para recordar o legado histórico e cultural da herança missioneira na identidade gaúcha e sul-americana.
Com shows de Alejandro Brittes junto à Orquestra Barroca, participação do Coral Guarani Jerojy Mbarae’te e apresentação da Família Ortaça, em São Miguel das Missões, a programação foi pensada para oferecer uma imersão profunda no patrimônio imaterial da região, utilizando a música e a poesia como ponte entre o passado e o presente. “Dentro do processo duro da colonização do nosso continente, a relação dos jesuítas com os Guarani foi um episódio peculiar que trouxe legados importantes, como a fusão do barroco com a música guarani que se condensa no chamamé, que é patrimônio da humanidade”, lembrou Rafael Passos, superintendente do Iphan no Rio Grande do Sul, que representou a Instituição nos eventos.
Os locais escolhidos para sediar as atividades também são carregados de valor histórico. Em Santo Ângelo, no sábado (13/12), o palco foi montado na Praça Pinheiro Machado, tendo como cenário a Catedral Angelopolitana, herdeira arquitetônica do esplendor barroco missioneiro. E, no domingo (14), o Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões, recebeu a celebração em meio às ruínas.
“Estamos em um dos 15 sítios do Brasil que são patrimônio da humanidade e devemos sempre lembrar que a experiência missioneira também foi palco de uma das grandes tragédias da nossa história: o massacre promovido pelas coroas de Espanha e Portugal* quando trocaram o território das missões pela Colônia do Sacramento, do Uruguai”, recordou Passos.
*O massacre refere-se à Guerra Guaranítica, que aconteceu de 1753 a 1756. Ela foi desencadeada pelo Tratado de Madrid, de 1750, que trocava o território dos Sete Povos das Missões, controlado pelos espanhóis, pela Colônia do Sacramento, dominada pelos portugueses. Liderados por Sepé Tiaraju, Guaranis resistiram à expulsão das terras e, a partir de 1754, 30 mil habitantes nativos armados pelos jesuítas passaram a confrontar as tropas luso-espanholas, formadas por cerca de 3 mil soldados. O resultado foi mais de 20 mil Guaranis mortos, as missões destruídas e os jesuítas expulsos do território.
Missões Jesuíticas Guarani
As Missões Jesuíticas Guarani foram aldeamentos indígenas, conhecidos como “reduções”, fundados por padres jesuítas espanhóis, entre os séculos 17 e 18, com o objetivo principal de evangelizar e constituir uma nova organização social entre os povos Guarani, promovendo seu sedentarismo — refere-se à fixação dos povos indígenas em aldeamentos permanentes, abandonando o nomadismo ou mobilidade tradicional para adotar uma vida sedentária organizada pelos jesuítas — e introduzindo práticas católicas, enquanto buscam protegê-lo dos ataques de escravizadores e bandeirantes. No Rio Grande do Sul, o grupo conhecido como os Sete Povos das Missões era formado por São Miguel Arcanjo, São Francisco de Borja, São Nicolau, São Lourenço Mártir, Santo Ângelo Custódio, São Luiz Gonzaga e São João Batista.
As Missões são um sistema de bens culturais transfronteiriços que envolvem o Brasil e a Argentina, composto por sítios arqueológicos remanescentes dos povoados implantados no território originalmente ocupado pelos povos indígenas, majoritariamente do grupo étnico Guarani.
No Brasil, estão as ruínas do sítio arqueológico de São Miguel Arcanjo, mais conhecido como ruínas de São Miguel das Missões. Por lá, a legibilidade e o entendimento da configuração espacial do sítio, capaz de expressar o cotidiano da redução, podem ser atestados por documentos que descrevem sua implantação e organização. A sua autenticidade física está mantida pelos materiais e técnicas construtivas originais. As intervenções ocorridas ao longo dos anos datadas desde a época de funcionamento da redução foram executadas para manter a estabilidade estrutural do bem. Tais intervenções estão identificadas e mapeadas.
Em 1938, esses remanescentes foram tombados como patrimônio nacional. Dois anos depois, foi criado o Museu das Missões, destinado ao recolhimento e à guarda da estatuária da Igreja de São Miguel. Em 1983, juntamente com as Missões localizadas em território argentino de San Ignacio Mini, Santa Ana, Nuestra Señora de Loreto e Santa María La Mayor, São Miguel das Missões foi declarada Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco. Esses locais são considerados, atualmente, monumentos históricos com finalidade cultural e turística expressiva, e altamente significativos para o desenvolvimento local das comunidades envolvidas. Como exceção, esses sítios são usados para eventos religiosos ou recreativos.
“No século 21, com o retorno dos Guarani às Missões e o reconhecimento deles do território como um espaço sagrado, o Iphan inscreveu o sítio como patrimônio imaterial brasileiro”, contou Rafael. “É a partir dessa sabedoria Guarani, dessa forma de viver, que precisamos olhar para frente e construir um futuro diante dos desafios, sobretudo das mudanças climáticas, principalmente depois de tudo que o Rio Grande do Sul viveu no último ano”, concluiu ele.
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