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Saiba tudo sobre a candidatura dos Teatros da Amazônia a Patrimônio Mundial
Está aberta a candidatura dos Teatros da Amazônia a Patrimônio Mundial Cultural. O título é concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), que recebeu o dossiê oficial da candidatura dos dois teatros – o Theatro da Paz, em Belém (PA), e o Teatro Amazonas, em Manaus (AM) – no dia 31 de janeiro de 2025. O documento foi elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), autarquia vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e as secretarias de Cultura do Pará, do Amazonas e das prefeituras de Belém e Manaus.
A partir dessa entrega, o Estado brasileiro tem ainda uma série de diálogos e atribuições a cumprir até a 48ª sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, marcada para julho de 2026. É lá que o pleito será avaliado pelos 23 países do Comitê, signatários da Convenção da Unesco sobre a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972.
A primeira dessas tratativas após a entrega do dossiê aconteceu no início de abril, quando o grupo de trabalho responsável pela candidatura se reuniu em Manaus e Belém para planejar ações de comunicação e apresentar o dossiê a artistas locais, produtores culturais, pesquisadores, agentes do turismo e outros setores da sociedade civil relacionados diretamente aos teatros. O GT é composto por representantes do Iphan, das diretorias dos teatros e dos respectivos poderes públicos municipais e estaduais, e deve, entre outras medidas, discutir a elaboração de um plano de gestão compartilhada das duas casas, para quando elas se tornarem oficialmente patrimônio mundial, caso a candidatura seja bem-sucedida.
Um só patrimônio
O diretor do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, Andrey Schlee, explica que a candidatura é para que o Theatro da Paz e o Teatro Amazonas sejam reconhecidos como um só patrimônio, compondo o que a Unesco classifica como um bem cultural seriado. “Ambos guardam aspectos histórico-culturais que podem caracterizá-los como um só patrimônio, os chamados Teatros da Amazônia. Juntos, eles contam a história não apenas da região onde estão, mas também uma parte importante da história do Brasil e do mundo, em um contexto mais amplo”, diz Schlee.
Construídos no final do século XIX, os Teatros da Amazônia são símbolos de uma época de apogeu econômico da Região Norte, impulsionado principalmente pela extração da borracha. Casas de ópera monumentais, projetadas como espaços de lazer de uma elite influenciada pelas ideias e valores da Belle Époque europeia. Mas sua importância vai muito além da arquitetura imponente ou de seu pretendido cosmopolitismo. Hoje, se a ópera ainda faz parte do repertório de ambas as casas, seus palcos recebem todo tipo de expressão artística. São equipamentos públicos centrais na vida cultural e econômica da região, apresentando a plateias diversas a identidade de uma cultura brasileira igualmente diversa, de muitas vozes, cores e crenças.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, destaca que o possível reconhecimento dos teatros como um patrimônio mundial significa uma potencialização da cultura e do desenvolvimento econômico. “Apesar de terem origem como equipamentos da elite, hoje já não são mais apenas para manifestações consideradas eruditas, são espaços de inclusão de diversas manifestações populares, que promovem e valorizam o trabalho dos profissionais da Cultura da região. Além disso, é importante destacarmos a possibilidade de fomento do turismo e do desenvolvimento econômico local e nacional", afirmou.
Próximos passos
Entre as próximas etapas no processo da candidatura, está prevista para o segundo semestre de 2025 uma visita de representantes do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos) aos dois teatros, numa missão de avaliação do patrimônio candidato, organizada pelo governo brasileiro. O Icomos é uma entidade assessora ligada à Unesco, com sede em Paris, e é quem prepara os relatórios técnicos que servem de base para as decisões do Comitê do Patrimônio Mundial.
O relatório final do Icomos sobre os Teatros da Amazônia deve ser apresentado ao Brasil em meados de março de 2026 e é o que será avaliado na 48a sessão do Comitê, em julho de 2026, quando, se aprovado o pleito, os teatros serão incluídos definitivamente na lista de Patrimônio Mundial Cultural da Unesco.
“Os teatros da Paz e Amazonas são mais que monumentos. Carregam memórias, contradições e a potência do presente. O reconhecimento que será avaliado é mais que um título: é um compromisso de Estado, dos gestores, trabalhadores da cultura e da comunidade de ampliar o acesso a eles, valorizar a cultura amazônica e mantê-los vivos, diversos e cada vez mais acessíveis e sustentáveis”, destaca a superintendente do Iphan no Amazonas, Beatriz Calheiro.
“Ao longo do processo da candidatura, debatemos tudo sobre o dossiê e sabemos o que precisamos levar para o mundo. E estamos fazendo isso com o Governo Federal, com os governos locais e com a sociedade civil. É a valorização da nossa cultura amazônica e nacional perante o mundo”, diz a superintendente do Iphan no Pará, Cris Vasconcelos.
O que define um Patrimônio Mundial Cultural?
De acordo com a Convenção da Unesco de 1972, para que um bem cultural seja reconhecido na lista de Patrimônio Mundial, este precisa apresentar valor universal excepcional, além de ter demonstrada sua importância como patrimônio local, regional e nacional. Os Teatros da Amazônia têm tudo para cumprir esses requisitos.
Exemplos de uma época de intenso intercâmbio cultural e de transfomações significativas na história do Brasil e do mundo, o Theatro da Paz (Belém-PA) e o Teatro Amazonas (Manaus-AM) foram inaugurados em 1878 e 1896, respectivamente. Representam um projeto de urbanização e modernização da região Amazônica em pleno apogeu econômico da época, graças à exploração da borracha. O Theatro da Paz foi tombado pelo Iphan em 1963 e o Teatro Amazonas em 1966.
Espaços culturais monumentais inseridos nos dois maiores centros urbanos da Amazônia, os teatros mesclam, em sua arquitetura e espaços públicos associados, as influências artísticas, urbanísticas e tecnológicas europeias do final do século XIX, com elementos da paisagem amazônica e o uso de materiais locais. Além disso, em mais de um século, a diversidade da cultura brasileira e amazônica se fez presente nos palcos, na plateia e no entorno das duas casas, que passaram a representar a pluralidade de um Brasil mais democrático e inclusivo.
Hoje, os teatros desempenham um papel de destaque no tecido urbano das duas capitais por meio de sua forma e localização. Também representam elementos que conectam outros componentes da paisagem, como as principais avenidas, praças, porto e rios, além de apresentarem a interpretação da cultura e da natureza local em seus aspectos arquitetônicos e paisagísticos integrados, os quais incluem o uso de materiais regionais, como a diversidade de madeiras amazônicas.
Além das qualidades físicas de sua composição arquitetônica e paisagística, os teatros demonstram, ainda, uma ampla apropriação pela comunidade por meio da preservação de seus usos e funções, que vão desde apresentações de ópera, concertos musicais e peças teatrais a apresentações de uma variedade de expressões culturais populares, como o Boi-Bumbá do Estado do Amazonas e o Carimbó do Estado do Pará.
Os teatros também desempenham, ainda, um papel fundamental como catalisadores de espaços e atividades voltadas para a formação e a educação, apoiados por seus grupos artísticos e centros de formação para artistas e artesãos. Essas iniciativas garantem a sustentabilidade dos sítios, contribuem para a promoção das artes e geram emprego e renda para as comunidades locais.
Por tudo isso, se aprovada sua candidatura, os Teatros da Amazônia se juntarão a outros 15 bens brasileiros atualmente classificados na lista da Unesco de Patrimônio Mundial Cultural. São eles: Brasília (DF); Cais do Valongo – Rio de Janeiro (RJ); Centro Histórico de Goiás (GO); Centro Histórico de Diamantina (MG); Centro Histórico de Ouro Preto (MG); Centro Histórico de Olinda (PE); Centro Histórico de São Luís (MA); Centro Histórico de Salvador (BA); Conjunto Moderno da Pampulha - Belo Horizonte (MG); Missões Jesuíticas Guaranis - no Brasil, ruínas de São Miguel das Missões (RS); Parque Nacional Serra da Capivara (PI); Praça São Francisco, em São Cristóvão (SE); Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar (RJ); Santuário do Bom Jesus de Matozinhos - Congonhas (MG); Sítio Roberto Burle Marx (RJ).
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Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br