Notícias
ARQUEOLOGIA
Liberada escavação de antigo cemitério de escravizados em Salvador
Planta com indicação do cemitério com uma cruz e a letra “Y”. Imagem reproduzida no dossiê "Cemitério do Campo da Pólvora”, da pesquisadora Silvana Olivieri (UFBA).
A escavação para investigar a história de um antigo cemitério de pessoas escravizadas em Salvador (BA) já pode começar. O local atualmente fica no estacionamento no Complexo Pupileira, espaço de propriedade da Santa Casa de Misericórdia, que concedeu a autorização para a execução de pesquisa arqueológica no local, na última quarta-feira (26/3). A pesquisa, que pode lançar luz sobre um capítulo significativo da história do estado e do Brasil, terá acompanhamento de técnicos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Por meio de dados históricos, fontes documentais e iconográficas, uma pesquisa de doutorado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) identificou o local onde existiu, por cerca de 150 anos, o antigo Cemitério do Campo da Pólvora do Desterro, no bairro de Nazaré, na capital baiana. O espaço pode ter sido utilizado para sepultar povos escravizados e outros grupos marginalizados da sociedade.
O Iphan acompanha a pesquisa arqueológica desde sua descoberta. “Nesse primeiro momento, é necessário fazer prospecções logo abaixo da superfície do solo, para demarcar o local apontado pelas fontes históricas consultadas e evidenciar os restos mortais desses brasileiros que tiveram suas histórias apagadas”, explica o arqueólogo do Iphan, Alex Colpas.
Entre os sepultados no cemitério, mantido pela Santa Casa de Misericórdia e desativado em 1844, podem estar africanos escravizados, incluindo integrantes da Revolta dos Malês, considerada o maior levante de pessoas escravizadas da história brasileira, pelo fim da escravidão e pelo direito à liberdade religiosa, que completou 190 anos no último dia 25 de janeiro. O cemitério também pode abrigar os restos mortais de participantes da Revolta dos Búzios - movimento separatista que defendia democracia e igualdade racial e de gênero, entre 1798 e 1799 - além de líderes da Revolução Pernambucana de 1817.
As informações estão detalhadas no dossiê "Cemitério do Campo da Pólvora”, elaborado pela doutoranda em Arquitetura e Urbanismo da UFBA e responsável pela pesquisa, Silvana Olivieri, em conjunto com o professor de Direito da UFBA Samuel Vida, e uma equipe de arqueólogos coordenada pela arqueóloga Jeanne Dias.
O reconhecimento e a valorização da história de grupos historicamente excluídos fazem parte das diretrizes prioritárias do Iphan. “O Instituto tem apoiado iniciativas que promovem a justiça de transição e a igualdade étnico-racial, com foco na preservação da memória de processos culturais e sociais marcados por exclusão e violência”, pontuou o arqueólogo Alex Colpas. “A pesquisa arqueológica no antigo Cemitério do Campo da Pólvora do Desterro representa um passo essencial na valorização de memórias silenciadas e na reposição histórica das contribuições de populações marginalizadas para a identidade brasileira”, concluiu.
A pesquisadora Silvana Olivieri ressaltou que “o reaparecimento do Cemitério do Campo da Pólvora não só possibilita a reescrita da história de Salvador como nos leva ao encontro de um lugar de memória traumática produzido pelo colonialismo e pela escravidão transatlântica”. Ela disse ainda que a pesquisa oferecerá “a rara oportunidade de mostrarmos que somos capazes de prestar contas aos que vieram antes, para aqueles que vierem depois poderem viver numa cidade mais repleta de práticas de justiça e cuidado”.
A doutoranda explicou como se dará o processo de escavação. “Uma vez constatada a presença de remanescentes ósseos humanos, os devidos registros e análises serão feitos in loco, sem ser retirado nenhum material do sítio, recompondo o piso de terra do estacionamento ao final de cada prospecção”, esclareceu. Será adotado esse método a fim de não causar impactos significativos ao potencial sítio arqueológico, preservando-o para outras pesquisas que venham a ser posteriormente realizadas no local.
Mais informações para a imprensa
Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br
Mariana Alvarenga mariana.alvarenga@iphan.gov.br
www.iphan.gov.br
www.instagram.com/iphangovbr
www.facebook.com/IphanGov
www.x.com/IphanGovBr
www.youtube.com/IphanGovBr
