Notícias
ANDANÇAS DO PATRIMÔNIO
Iphan coleta mais de 2 mil propostas para construção das bases do SNPC
Foto: Lucas Calisto/Secult-CE
Depois de quase seis meses, o projeto Andanças do Patrimônio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) percorreu todo o país, realizando oficinas de escutas participativas nos 26 estados e Distrito Federal. Ao todo, foram:
- 27 oficinas;
- 7 Rolezinhos;
- 11 escutas temáticas;
- cerca de 2 mil participantes; e
- apoio de aproximadamente 250 instituições e parceiros.
Os eventos começaram em João Pessoa (PB), em abril, e terminaram em outubro, na capital sergipense, Aracaju (SE), com um objetivo principal: realizar diagnósticos, mobilizar atores — detentores, fazedores e trabalhadores do patrimônio —, discutir as competências e divisão de responsabilidades para a gestão e preservação do Patrimônio Cultural. A partir da construção participativa de todos os estados brasileiros, vão ser construídas as bases do Sistema Nacional de Patrimônio Cultural (SNPC): o 1º Plano Setorial Nacional de Patrimônio Cultural (PNSPC) e o Marco Regulatório.
“O final exitoso do Projeto Andanças representa a possibilidade de termos o primeiro Plano Nacional Setorial de Patrimônio Cultural escrito de forma participativa, por muitas mãos e de um alicerce construído a partir das escutas nos territórios e por diversos segmentos sociais, o que aumenta as chances de apropriação da população e dos poderes públicos locais desse instrumento de gestão”, celebra Laís Helena de Queiroz, coordenadora-geral do Sistema Nacional de Patrimônio Cultural (CGESP)/ DAFE do Iphan.
As oficinas foram realizadas em formato presencial, híbrido e remoto, com a participação de 250 instituições e parceiros envolvidos, entre estados e municípios, universidades, secretarias e órgãos locais. Somente os sete Rolezinhos — modalidade de oficinas que podia ser organizada por qualquer pessoa ou grupo — juntaram quase 185 participantes interessados em cuidar do patrimônio cultural, nos municípios de:
- Crato (CE)
- Corinto (MG)
- Quixeramobim (CE)
- Lavras (MG)
- Guarapuava (PR)
- Parintins (AM)
- Tiradentes (MG)
Mais 214 pessoas participaram das escutas temáticas que tiveram pautas como Patrimônio Cultural Indígena; Comunidades Quilombolas; Povos de Terreiro; Rede Integrada de Bens Imateriais Registrados; Patrimônio Cultural no Licenciamento Ambiental; e Comunidade Acadêmica. Enquanto a reunião temática sobre a relação interfederativa na gestão do patrimônio cultural, contou com cerca de 450 participantes.
Dos anseios atuais, nascem as propostas para o futuro
Dentro da estratégia do Andanças, desde o princípio, foram definidos quatro eixos temáticos, que guiaram os debates realizados nas oficinas. Foram eles:
- Eixo 1 - Tecendo redes e fortalecendo territórios: a institucionalização do Sistema Nacional de Patrimônio Cultural a partir da gestão participativa e compartilhada;
- Eixo 2 - Patrimônio Cultural para e pelo povo: representatividade, acessibilidade, equidade e democratização;
- Eixo 3 - Fazendo a roda girar: fomento, economia do patrimônio, trabalho, renda e sustentabilidade; e
- Eixo 4 - Patrimônio Cultural: caminhos para a promoção do desenvolvimento sustentável e para a proteção e a adaptação frente à emergência climática.
Depois de percorrer todos os estados brasileiros, foi possível detectar três focos principais de preocupação e desejo:
- Gestão compartilhada e participação: uma demanda clara pela inclusão da sociedade civil, especialmente dos detentores de saberes e comunidades tradicionais, nos processos de decisão.
- Fortalecimento institucional: a necessidade urgente de criar e fortalecer as estruturas administrativas que cuidam do patrimônio. O que significa ter equipes técnicas qualificadas, orçamento garantido e leis que realmente funcionem para proteger a cultura brasileira.
- Equidade e acesso: uma busca por justiça e representatividade. O público pede a garantia dos direitos das comunidades, a simplificação do acesso a recursos de fomento (desburocratização) e o uso de uma linguagem clara para que todos possam entender e participar das políticas culturais.
Foram quase 2,1 mil propostas registradas e, além dos temas gerais mencionados, as oficinas captaram sugestões que refletem as realidades locais:
- Reconhecimento de territórios: garantir que os territórios indígenas sejam oficialmente reconhecidos como patrimônio cultural do Brasil;
- Valorização dos guardiões da cultura: criar políticas para valorizar mestres, mestras e outras referências culturais que mantêm vivas as tradições em suas comunidades;
- Educação para o futuro: implementar programas de educação patrimonial e ambiental em escolas e universidades, conectando a preservação da cultura à urgência das mudanças climáticas; e
- Patrimônio com função social: desenvolver projetos para restaurar prédios históricos e transformá-los em moradias populares, unindo a preservação do patrimônio arquitetônico com o direito à moradia e a sustentabilidade ambiental.
Essas coletas revelam uma visão inovadora do patrimônio, que o conecta diretamente a pautas contemporâneas urgentes como a crise climática, o direito à moradia, o reconhecimento de territórios tradicionais e a justiça social.
“É fundamental que o SNPC nasça a partir das escutas em diversos territórios, para que possamos diminuir as desigualdades regionais; dar o devido protagonismos aos detentores, povos e comunidades tradicionais e trabalhar para que a política de patrimônio seja atenta a questões do tempo presente, sobretudo às mudanças do clima”, ressaltaram os servidores do Iphan.
Próximos passos
Na próxima quarta-feira (12/11), será aberta a consulta pública à minuta do PNSPC, pela plataforma Brasil Participativo, que tem previsão de permanecer disponível até 12 de janeiro de 2026.
A Consulta Pública tem como objetivos retornar à sociedade os resultados colhidos nos territórios e oportunizar a ampla participação social por meio das contribuições diretamente à minuta.

