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TOMBAMENTO
Fábrica de Tecidos São Luiz, em Itu (SP), é reconhecida como Patrimônio Cultural nacional
Foto: Acervo/Iphan
A Fábrica de Tecidos São Luiz, localizada em Itu (SP), teve seu tombamento definitivo aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), nesta quarta-feira (26/11), durante a 111ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado de instância máxima do Iphan responsável pela avaliação e reconhecimento de bens culturais brasileiros.
Inscrito nos Livros do Tombo de Belas Artes e Histórico, o registro abrange o conjunto de edificações implantadas no lote do imóvel, além dos remanescentes do maquinário da fábrica, incluindo monta-cargas, máquinas de passar, engomar e dobrar tecidos e a cadeira com fornalha, que são considerados bens móveis do conjunto.
“A Fábrica de Tecido São Luiz é valorizada pelo Iphan não apenas como bem material, mas como um documento arquitetônico e social que representa o início da era industrial no Brasil e em São Paulo, simbolizando a transição do trabalho escravo para o livro, a chegada da tecnologia a vapor, e a formação de um novo padrão arquitetônico e de relações de trabalho”, destacou a conselheira relatora Damiane Daniel Silva Oliveira dos Santos, do Ministério da Educação, em seu parecer técnico.Pioneirismo industrial e arquitetônico
Fundada em 1869, a Fábrica de Tecidos São Luiz foi a primeira fábrica têxtil a funcionar efetivamente com maquinismo movido a vapor no estado de São Paulo e inserida num contexto no qual havia apenas outras nove fábricas têxteis no Brasil. O empreendimento representou um grande impacto entre fazendeiros de café e algodão, organizados em sociedade, e despertou os anseios por mudanças na ordem econômica, social e política do período.
A fábrica marcou o pioneirismo da indústria têxtil no processo de produção, com a supremacia do maquinismo, e na forma de organização do processo de trabalho por meio do sistema de máquinas.
Do ponto de vista arquitetônico, o edifício rompeu barreiras na arquitetura industrial brasileira. O projeto inicial teve sua planta projetada especificamente para uso industrial, com divisão interna adequada à atividade fabril. Essa inovação marcou a chamada “arqueologia industrial” brasileira.
“Enquanto outros ‘fósseis’ da industrialização do século 19 se desintegraram, esta estrutura de Itu oferece um registro nítido e tangível da transição econômica e tecnológica do Brasil Imperial para a República” - conselheira Damiane Daniel Silva Oliveira dos Santos
A construção materializa diferentes fases da evolução área no país, tendo sido erguida em duas etapas distintas que revelam as transformações técnicas e sociais no território.
A primeira etapa, de 1869, foi construída em taipa de pilão com mão de obra escrava. Enquanto a segunda, de 1888, após a Lei Áurea, utilizou tijolos em estilo maschesteriano e máquinas inglesas da Platt Brothers & Co — empresa britânica fundamental para o setor têxtil no século 19 e início do século 20, que se tornou a maior fabricante de máquinas têxteis do mundo. Esta segunda fase apresenta características neoclássicas e demonstra o esforço de adaptação aos novos programas industriais.
O estilo maschesteriano refere-se à arquitetura industrial desenvolvida em Manchester, na Inglaterra, berço da Revolução Industrial. O uso de tijolos aparentes, grandes vãos para iluminação natural, estruturas funcionais e a integração entre forma arquitetônica e função produtiva. No Brasil, essa técnica construtiva foi utilizada principalmente no início do século 20, tornando a Fábrica de Tecidos São Luiz um exemplo desse padrão.
Revolução social e trabalhista
Além de sua importância econômica e arquitetônica, a Fábrica de Tecidos também assumiu papel de pioneirismo no emprego de mão de obra feminina. A gestão desenvolveu rede de apoio que incluía consultório médico e creche para os filhos das trabalhadoras, criando vínculos afetivos entre o bem e a comunidade de Itu que perduram até hoje.
A construção se manteve ativa por 113 anos contínuos e encerrou suas atividades em 1982. Por isso, atualmente, muitos filhos de ex-funcionários da fábrica guardam lembranças da vivência no ambiente fabril, reforçando o valor afetivo ligado ao conjunto.
Preservação e educação patrimonial
Hoje o bem pertence ao casal Ricardo Pacheco e Silva e Maria Sofia Pacheco, que mantém o local aberto à visitação pública e o utilizam como espaço cultural e educativo, promovendo visitas guiadas para turmas de escolas, universidades e diversos grupos, além de realizar eventos beneficentes e parcerias com instituições locais.
Para melhor experiência do público, a edificação possui recursos de acessibilidade cultural, incluindo audiodescrição de cada espaço, disponibilizadas por placas com QR Code, beneficiando pessoas com deficiência visual. A área também conta com rampas de acesso para pessoas com deficiência física e mobilidade reduzida.A manutenção e o restauro do conjunto são financiados pelos recursos obtidos com locação do espaço para eventos, feiras e festividades. Os proprietários, Ricardo e Maria, têm projetos futuros de ampliação das atividades educativas e culturais, incluindo a criação de um museu para abrigar o acervo de fotografias, tecidos e documentos históricos.
Com o tombamento definitivo, a Fábrica de Tecidos São Luiz se consolida como patrimônio cultural nacional, oferecendo às gerações atuais e futuras uma viagem no tempo para os primórdios da industrialização brasileira e das transformações sociais, econômicas e tecnológicas que marcaram a história do país.
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