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Com apoio do Iphan, encontro no Oiapoque (AP) discute revisão ortográfica da língua Parikwaki
Foto: Oscar Liberal/Iphan
Muito além de um conjunto de símbolos, a língua Parikwaki guarda os valores culturais e os modos de perceber o mundo do povo Palikur-Arukwayene. Sendo um elemento de identidade, é ensinada e aprendida com muito orgulho pelos seus falantes, que agora estão discutindo a transformação e a reforma da escrita de sua língua. Junto a professores, lideranças de aldeias e pesquisadores, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) tem sido um parceiro nesse processo.
O 1º Encontro de Revisão da Ortografia da Língua Parikwaki, na Aldeia Kumenê, realizada na Terra Indígena Uaçá, em Oiapoque (AP), entre os dias 1º e 5 de dezembro foi o momento em que falantes, pesquisadores e instituições parceiras puderam dialogar sobre a consolidação da escrita da língua Parikwaki. A atividade integra o projeto “Qual(is) Língua(s) Você Fala? Rumo à identificação e à salvaguarda das línguas indígenas do Oiapoque”, da Universidade Federal do Amapá, apoiado pelo Iphan por meio do Edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI) e que recebeu cerca de R$ 400 mil para seu desenvolvimento.
Do evento em Oiapoque, resultou um documento que destaca o conjunto de decisões e resoluções políticas tomadas pelos participantes. O artigo 1º reconhece e afirma que “a língua parikwaki é inseparável da cultura Arukwayene e constitui fundamento do modo de vida, da memória, da espiritualidade, dos valores, dos saberes, dos fazeres e da relação com o território”. A língua Parikwaki é falada por comunidades indígenas das regiões ribeirinhas do Amapá e da Guiana Francesa, especialmente nas proximidades do rio Oiapoque.
Representantes das 15 aldeias do povo Palikur-Arukwayene participaram da programação. Para o superintende do Iphan no Amapá, Michel Flores, a iniciativa fortalece ações voltadas à valorização e à salvaguarda do patrimônio linguístico e cultural dos povos indígenas do Oiapoque. “Esse trabalho contribui para garantir o direito de preservação da língua e da memória do povo Palikur, uma vez que sua história é transmitida sobretudo de forma oral. A consolidação de uma escrita oficial é fundamental para assegurar uma grafia homogênea.”, afirmou.
A Coordenadora do projeto, Elissandra Barros, explicou que a motivação central para a realização da Revisão da Ortografia da Língua Parikwaki veio da própria demanda do povo Arukwayene. “Muitos elementos da escrita já não representavam com precisão a fala atual, e isso gerava dificuldades tanto no processo de alfabetização quanto na produção de materiais didáticos”, ressaltou.
“A revisão da ortografia é, antes de tudo, um gesto de reafirmação identitária. Quando os próprios falantes discutem, refletem e decidem sobre a forma como querem representar sua língua, eles também reafirmam sua história, sua memória e suas formas de conhecimento”.
Ao término do encontro, a Associação Indígena Palikur requereu a instauração de processo administrativo junto ao Iphan para o registro da fabricação dos bancos cerimoniais (esculturas em madeira) e arte gráfica Palikur-Arukwayene como patrimônios culturais brasileiros.
Apoio institucional e financiamento
O apoio do Iphan ao projeto “Qual(is) Língua(s) Você Fala? Rumo à identificação e à salvaguarda das línguas indígenas do Oiapoque” teve início em 2023, por meio da assinatura de um Termo de Execução Descentralizada (TED), no âmbito do Edital do Programa Nacional do Patrimônio Imaterial (PNPI).
As ações contemplam a capacitação de jovens pesquisadores indígenas, a documentação de práticas linguísticas, a coleta de dados sociolinguísticos e a criação de um acervo digital — etapas fundamentais para padronizar a escrita da língua e ampliar sua presença em materiais pedagógicos e iniciativas comunitárias. O trabalho abrange três línguas indígenas — Parikwaki, Kheuol e Galibi — e gera referências inéditas para a formulação de políticas públicas.
Além de sistematizar dados sociolinguísticos e desenvolver materiais educativos e audiovisuais, o projeto fortalece diretamente a autonomia das comunidades. Habitantes das 67 aldeias das Terras Indígenas Galibi, Juminã e Uaçá participam ativamente das pesquisas, com jovens indígenas sendo formados para atuar como documentadores e pesquisadores de suas próprias tradições linguísticas.
O Iphan também está alinhando as ações ao Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL), o que contribui para que a Língua Parikwaki avance no processo de reconhecimento como Referência Cultural Brasileira — um passo essencial para garantir proteção institucional duradoura.
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