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Arqueólogos resgatam ossadas em cemitério descoberto em Salvador
Foram encontradas as primeiras ossadas humanas durante as escavações no antigo Cemitério do Campo da Pólvora, em Salvador (BA). As perfurações iniciaram no dia 15 de maio, após uma pesquisa de doutorado identificar que, no subsolo do estacionamento do Complexo da Pupileira, existiu um cemitério de pessoas escravizadas e de outras populações marginalizadas.
A exploração do local está sendo conduzida pelo projeto "Levantamento Arqueológico na Área do Antigo Cemitério do Campo da Pólvora", da empresa Arqueólogos Pesquisa e Consultoria Arqueológica, que financiou o estudo na fase diagnóstica. A pesquisa concluiu que se trata do maior cemitério de escravizados da América Latina. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) acompanha a iniciativa por meio da sua Superintendência na Bahia.
De acordo com a arqueóloga e coordenadora do projeto, Jeanne Dias, a escavação enfrentou desafios. “Foi um processo complexo, com duas etapas marcantes. Primeiro, tivemos que lidar com chuvas intensas que duraram quase uma semana. Depois, enfrentamos um aterro muito mais profundo do que o esperado — cerca de 2,90 metros — até alcançarmos a camada natural de solo, onde estavam os vestígios ósseos”, explicou.
O objetivo é localizar, resgatar e preservar remanescentes humanos de grande valor histórico e simbólico para a cidade de Salvador e para o Brasil. A arqueóloga afirmou que localizar os vestígios ósseos dessa comunidade africana e negra de Salvador traz à tona na sociedade a discussão sobre igualdade social.
“Essa descoberta abre caminho para a criação de um banco de dados genéticos, promove o debate com a sociedade civil e contribui para devolver dignidade a essas comunidades, que foram enterradas de forma anônima. É também uma oportunidade de revisitar a presença desses grupos em Salvador e reconstruir uma narrativa histórica que por muito tempo os invisibilizou”, afirmou Jeanne.
As escavações iniciaram com ato interreligioso marcando o início da investigação arqueológica, no dia 14 de maio. A data simbólica marcava os 190 anos da Revolta dos Malês — o maior levante de pessoas escravizadas da história da Bahia. Pesquisas indicam que o cemitério pode abrigar os restos mortais de participantes desse movimento histórico, além de envolvidos na Revolta dos Búzios (1798) e na Revolução Pernambucana (1817).
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Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br
Mariana Alvarenga – mariana.alvarenga@iphan.gov.br
