Trabalhadores em Chama

Entre engrenagens e horas contadas, 

O suor desenha mapas na pele cansada. 

Mãos calejadas erguem o país, 

Mas o corpo é um verso que o sistema mal lê. 

Na fábrica, o ar carrega o peso do chumbo, 

Pulmões guardam segredos de um futuro estagnado. 

A CLT é um papel que o vento rasgou, 

E o direito à saúde—um sonho adiado. 

Nas cozinhas alheias, as pernas incham, o calor arde, 

Enquanto o relógio consome a quietude. 

O stress, companheiro de plantão noturno, 

É um fantasma que habita a multidão exausta. 

Nas telhas o amianto - o sol incendeia a pele, 

E o salário mínimo não paga o câncer em ser. 

Quem vigia os riscos que a firma não vê? 

São números, não nomes, no laudo de ontem. 

Mas nas ruas, a voz que a fadiga não cala 

Tece redes de luta, bandeiras de alerta: 

"Saúde não é mercadoria, nem tropeço na jornada— 

É semente que exige terra fértil e certa." 

De ombros curvados sob tetos distantes, 

A esperança ainda pulsa em ossos quebrados, mãos contrafeitas.  

Aquela voz—que já não pode ser ouvida,  

Ecoa para aquele cujo a espera não pôde ser remida. 

Trabalhador, alienado na loucura, 

Não pode escutar mais nada, além dos próprios pensamentos. 

Acidentalmente despertou para suplicar por luta. 

Mas importa quem foi obrigado a se desfigurar—com as próprias mãos? 

Da imagem refletida de quem não mais se reconhece, 

Urge a certeza de que nenhum corpo é descartável. 

Na linha de produção da existência, saúde é direito vivo, 

Suor transformado em vida. 

Rodrigo Silvério de Oliveira Santos¹ e Nathalie Alves Agripino² - ¹Consultor técnico - Coordenação Geral de Vigilância em Saúde do Trabalhador; ²Consultora técnica - Departamento do Programa Nacional de Imunizações.

*A Coletânea “Rumo à 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT) – Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora como Direito Humano” é uma iniciativa aberta que convida a sociedade a participar da reflexão sobre os desafios da saúde no mundo do trabalho. Trabalhadores, sindicalistas, movimentos sociais, coletivos, Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt), entre outros, podem enviar seus materiais, em diferentes formatos. Veja as orientações para participar