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371ª RO
Combate ao idadismo: CNS debate como enfrentar preconceito baseado na idade, que impacta na dignidade e vida social
Ascom CNS
Um preconceito que mina a autoestima, restringe a participação social e desvaloriza opiniões com base em um simples número: a idade. Conhecido como idadismo, também chamado de etarismo ou ageismo, esse tipo de discriminação é um viés profundamente enraizado na sociedade e que compromete o desenvolvimento integral das pessoas em todas as etapas da vida.
A urgência do tema foi destacada durante a 371ª Reunião Ordinária do Conselho, na quarta (8/10), onde especialistas alertaram que o idadismo é uma questão de saúde pública que exige políticas e mudanças culturais imediatas.
O idadismo pode ocorrer de várias formas, como em piadas e estereótipos ("você é muito novo para isso", "você está ótimo para a idade que tem") e até mesmo em práticas institucionais. A pesquisadora Ieda Aparecida Vieira Duarte, do Coletivo Velhices Cidadãs, foi direta: "O que eu tenho de ser ou como eu tenho de estar para provar que eu estou bem com a minha idade?", questionou. "As pessoas têm de enxergar o idadismo que têm em si mesmo, porque todos nós somos preconceituosos". A fala de Ieda ressalta a natureza muitas vezes inconsciente desse preconceito.
Sonia Venancio, coordenadora-geral de Atenção à Saúde das Crianças, Adolescentes e Jovens do Ministério da Saúde e doutora em saúde pública pela USP, explicou a gênese do problema: "A idade é uma das primeiras coisas que a gente percebe nas outras pessoas. O idadismo surge quando a idade é usada para categorizar ou dividir as pessoas de maneira a causar prejuízos".
Sonia também destacou que o idadismo não age sozinho. "Ele faz intersecção com outros 'ismos': capacitismo, sexismo e racismo. Os preconceitos múltiplos somados pioram ainda mais os efeitos do idadismo sobre a saúde e o bem-estar dos indivíduos", afirmou.
Dados
Os dados apresentados são alarmantes. Segundo Sonia, em escala mundial, uma a cada duas pessoas é idadista contra idosos. Na Europa, para cada três entrevistados, um afirma ter sido vítima de idadismo, sendo os mais jovens os que mais relatam essa discriminação.
A discriminação etária também piora a qualidade de vida, aumenta o isolamento social e a solidão, restringe a capacidade de expressar a sexualidade e pode aumentar o risco de violência e abuso.
Duas velhices
Alexandre Silva, secretário nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, pintou um quadro das desigualdades no país. "Há duas formas de envelhecer no nosso país: uma que alguns conseguem usufruir, total ou parcialmente, que é envelhecer com oportunidades, e outra a realidade de pessoas que vivem em territórios sem a menor qualidade de vida", disse.
Ele criticou a naturalização desse abismo social e a destinação de orçamentos públicos insuficientes para a população idosa. "Boa parte da população brasileira idosa hoje mantém suas famílias", lembrou, desafiando a narrativa do idoso como um peso.
Alexandre apontou onde o idadismo mais se manifesta: "Na minha percepção, o idadismo se dá no campo da saúde, quando a gente vê a qualidade, a quantidade e o tempo adequado de acesso aos serviços; se dá no trabalho, com as oportunidades e tipo de formação que é ou não permitida; e nas formas de moradia. Há pessoas de 90 anos preocupadas com o aluguel no mês seguinte. Isso é uma velhice digna?".
Ações
Diante desse cenário, especialistas apresentaram recomendações para combater o problema, entre eles:
- Investir em estratégias com base científica para prevenir e combater o idadismo.
- Melhorar os dados e as pesquisas para compreender melhor o idadismo e como reduzi-lo.
- Construir um movimento para mudar o discurso em torno da idade e do envelhecimento.
Outras estratégias citadas durante a reunião incluem a criação de políticas e leis específicas, intervenções educacionais e o estímulo ao contato intergeracional, já que idosos e jovens são frequentemente desfavorecidos nos mesmos espaços, como o mercado de trabalho.
Viviane Claudino
Conselho Nacional de Saúde

