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ARTIGO - Saúde Mental e Deficiência: por que o Setembro Amarelo não pode ignorar o Dia de Luta da Pessoa com Deficiência
Peróla veste camiseta preta e está em cima de um carro de som, segurando sua bengala para o alto. Ao fundo, aparecem as torres do Congresso Nacional.
O Setembro Amarelo nos lembra da importância de falar sobre saúde mental e prevenção do suicídio. Mas é impossível falar em cuidado com a vida sem denunciar o capacitismo - opressão estrutural contra pessoas com deficiência, que insiste em reduzir corpos e mentes a limitações, excluir e negar oportunidades e, muitas vezes, invisibilizar a humanidade de milhões de brasileiros. Esse sistema de opressões discrimina, silencia vozes e agrava o sofrimento psíquico.
Essa realidade também é econômica: segundo o IBGE, a maioria das pessoas com deficiência no Brasil vive em condição de baixa renda, com salários menores e sem acesso adequado à educação e ao trabalho formal. As desigualdades tornam-se ainda mais severas quando recaem sobre mulheres, pessoas negras, indígenas, povos tradicionais, LGBTQIA+ com deficiência, que enfrentam múltiplas camadas de exclusão. A falta de garantias materiais, como emprego digno, moradia, transporte acessível, assistência social e políticas de cuidado, compromete diretamente a dignidade e a saúde mental. Afinal, ninguém vive bem quando lhe é negado o básico para existir.
É também nesse mês que se celebra o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, no dia 21, que marca o Setembro Verde. Fruto da mobilização popular, a data é mais que um marco histórico: é a lembrança de que lutar contra o suicídio também é lutar contra as estruturas que nos adoecem. Prevenção se faz com condições reais de vida, rompendo o silêncio imposto pelo capacitismo e garantindo acessibilidade, direitos e dignidade.
Falar em saúde mental sem considerar o peso das opressões é perpetuar silêncios. Se queremos cuidar da vida, precisamos reconhecer que isso é indissociável da luta contra as desigualdades. É hora de transformar consciência em ação: cobrar políticas públicas inclusivas, enfrentar discursos que inferiorizam, fortalecer as políticas de cuidado e afirmar que todas as vidas têm valor.
Neste setembro, amarelo e verde se encontram. Que essa convergência não seja apenas no calendário, mas um compromisso coletivo: lutar contra o capacitismo, defender a vida das pessoas com deficiência e construir uma sociedade mais justa, acessível e humana. A luta é agora, e precisa de todas e todos nós.
Pérola de Souza, mulher cega, conselheira nacional de saúde e diretora da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB)