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5ªCNSTT
Nego Bispo é reverenciado na Tenda Paulo Freire
Encontro. Confluência. Rio. A Tenda Paulo Freire na 5ª Conferência Nacional de Saúde do trabalhador e da trabalhadora (5ª CNSTT) homenageou Nego Bispo. O líder quilombola piauiense se considerava como tradutor de conhecimento, e nos deixou no final de 2023.
Nego Bispo se destaca pela atuação política, pela militância, pela defesa do território, dos símbolos, dos significados, e dos modos de vidas dos povos tradicionais. O pensador desenvolveu uma teoria legítima de uma cosmovisão das transformações das comunidades quilombolas, diante do contato com a colonização.
A Tenda Paulo Freire, espaço de construção coletiva para formação e troca de saberes populares de saúde, contou com ampla programação. O espaço abrigou atividades culturais, oficinas e rodas de conversa, entre outras ações.
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No primeiro dia de conferência aconteceu cortejo em homenagem a Nego Bispo. Tocando instrumentos e cantando, os participantes do cortejo saíram da Tenda, percorreram os corredores da 5ªCNSTT e ocuparam o palco do auditório principal.
Na Tenda Paulo Freire, temas como cultura e educação popular em saúde; construção de espaços democráticos e participativos; saúde mental; precarização; informalidade; e cuidado em saúde, entre outros, foram explorados nas atividades.
A foto e os pensamentos de Nego Bispo estampados na parede da Tenda nos fazem refletir que cada voz é rio, que cada corpo é território e que cada encontro é confluência.
De acordo com Nego Bispo, "um rio não deixa de ser um rio porque conflui com outro rio. Ele se fortalece. Quando a gente se confluencia, a gente rende". E assim, as redes são tecidas, as águas são misturadas, e a saúde é construída com dignidade, ancestralidade e luta.
Na roda de conversa "Contracolonialidade, interseccionalidade, território e modo de vida dos povos tradicionais: representações, confluências e transgressões", uma das convidadas foi Joana Maria, filha de Nego Bispo.
Joana Maria se lembrou do momento em que contou para seu pai da entrada dela na universidade e, na ocasião, indagou se ele não iria parabenizá-la. “Esperei um abraço, os parabéns, e eu perguntei o motivo de ele não ter me dado. Ele me respondeu que, quando eu desse a minha contribuição para a comunidade do meu aprendizado na universidade, ele iria me parabenizar. E que aquele era o momento para tomar uma cerveja e conversar”, disse. “E esse gesto me fez ter o compromisso, durante toda a minha trajetória, de me manter no território”, afirmou. Nego Bispo foi o primeiro membro de sua família a ser alfabetizado.
Refletindo sobre a ocupação dos espaços, como as universidades, Joana Maria pontuou que “precisamos ocupar os espaços que, por muito tempo, não foram pensados pra nós e que, estando lá, com um pé dentro e outro fora, nós vamos fazer do nosso jeito. Isso é ser contracolonial, e isso é continuar a luta”, concluiu.
Maria Thereza Reis
Comunicação Colaborativa


