Notícias
Coletânea Rumo à 5ª CNSTT
Só sei até aqui
Por tudo que vivemos no mundo do trabalho, trago um poema que dedico a uma mulher trabalhadora de nosso país, que como tantas e tantos do Brasil e do mundo, sofre as implicações do sistema triturador de vidas e só sei até aqui.
Só sei até aqui
Bate um cansaço
As pernas doem
É mais um dia de sábado
Já é noite!
A jornada começou de tarde
Que jornada?
A de trabalho, que vai...
Varar madrugada.
Hoje ainda não sei,
Só sei até aqui.
A casa está cheia
Não chove lá fora,
Mas aqui vai fazer frio,
Dentro de mim.
Hoje ainda não sei,
Só sei até aqui.
Começa um embaraço
Na máquina de impressão das comandas
Que comandam a velocidade e o ritmo...
Do que servimos à mesa,
Dos pedidos apressados dos que chegam.
A máquina resolveu engolir todas as comandas.
E Eu? Vou engolir o meu choro!
Hoje ainda não sei,
Só sei até aqui.
Tem um tom mais alto no salão
Meus amigos correm para lá e pra cá
Que amigos?
Os garçons, eles já sentem o impacto das comandas
Quem comanda está aos gritos lá fora,
Naquele ritmo intenso, de gritos e correria
Toda nossa organização de um dia de trabalho furou,
E não sabemos lidar com a intolerância dos que comandam.
Hoje ainda não sei,
Só sei até aqui.
Pensei um dia, em comandar a minha vida!
Fiz um belo plano, inclusive de ser Mãe
Passei o último “Dia das Mães”
Agora no mês de maio...
Feliz da vida com meu bebê!
Ele está aqui comigo agora
Por um momento pensei que ele estivesse seguro,
Mas como estaria? Se naquele momento e em todos da gestação,
Eles são nós e somos um só.
Hoje ainda não sei,
Só sei até aqui.
Vivemos uma tensão, a do horror, dos gritos e...
Da insatisfação dos que comandam
O turno acabou!
E a lembrança dos cacos que estou
Vai comigo para minha casa agora.
Já é quase manhã!
E hoje, eu já sei.
E ainda... Só sei até aqui.
Acabou a minha jornada.
Que jornada?
A de ser Mãe desse bebê,
QUE FICOU ATÉ AQUI.
Poema escrito em 24 de maio de 2024 e dedicado a uma mulher trabalhadora, que levou o seu bebê para o ambiente de trabalho, e foi negligenciada por um sistema à pronta-entrega. E sem ser vista em sua condição de gestante e mulher-mãe, sofreu o abuso do poder, que mata, que é perverso. Tudo por ‘quanto’ aquele caixa iria ter ao final de uma jornada de trabalho, que cumpre os caprichos do capital. A mulher trabalhadora agora está vivendo a dor do luto pela perda de seu bebê, que não deu conta do dia de horror, que viveu com sua mãe. Eu sinto muito!! E só sei até aqui.
Multiplicadores de Visat - DIHS - Fiocruz/RJ; Fórum Intersindical Saúde Trabalho e Direito - DIHS - Fiocruz/RJ; Núcleo Saúde - Trabalho - Direito do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde - Fiocruz/RJ
*A Coletânea “Rumo à 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT) – Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora como Direito Humano” é uma iniciativa aberta que convida a sociedade a participar da reflexão sobre os desafios da saúde no mundo do trabalho. Trabalhadores, sindicalistas, movimentos sociais, coletivos, Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt), entre outros, podem enviar seus materiais, em diferentes formatos. Veja as orientações para participar.