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Coletânea Rumo à 5ª CNSTT
O trabalhador e a luta por dignidade
O trabalhador e a trabalhadora seguem firmes, enfrentando a rotina que começa antes mesmo do sol despertar. O despertador toca, o corpo cansado reluta, mas a necessidade fala mais alto. O café, quando há, é rápido, e os passos apressados ecoam pelas ruas ainda escuras. O ônibus lotado, o metrô apertado, os olhares vazios – todos seguem no mesmo rumo: o da sobrevivência.
Eles carregam o peso do mundo nos ombros. Suor e calos nas mãos marcam o esforço diário, mas nem sempre o retorno é justo. O salário, quando vem, mal cobre o essencial. É um jogo de equilibrista: pagar o aluguel ou comprar uma comida melhor? Cuidar da própria saúde ou garantir o estudo dos filhos? O custo da vida sobe como um balão desgovernado, enquanto os ganhos mal saem do chão.
No PET-Saúde, há quem enxergue essa realidade de perto. Nos corredores apertados dos postos, nas filas que serpenteiam pelas calçadas, estão os rostos cansados de quem luta por atendimento. A busca por equidade não é um capricho, mas uma necessidade gritante. O direito à saúde, à proteção, à dignidade não pode ser só discurso bonito em campanha eleitoral; precisa ser real, palpável, sentido no cotidiano. Justiça social não pode ser apenas um ideal distante. Afinal, mais pra quem mais se esforça deveria ser a regra, não a exceção.
Mas a batalha do trabalhador não termina no fim do expediente. O corpo exausto não descansa – ele carrega as dores acumuladas, as lesões silenciosas, o medo constante do que pode acontecer. Cada dia de trabalho é um campo minado: o risco de um acidente, de uma máquina que falha, de uma proteção que não existe. Para muitos, não é apenas um emprego – é uma roleta russa diária. A cada amanhecer, uma prece silenciosa: que hoje não seja o dia de uma queda, de um corte profundo, de uma explosão inesperada. Que hoje não seja o dia de deixar a família desamparada.
E o governo? Tenta ajudar, ou pelo menos diz que tenta. Mas enxerga tudo de cima, com um olhar distante. Vê números, gráficos, estatísticas, mas não sente a dor das mãos rachadas nem a fome escondida atrás de sorrisos forçados. Criam políticas, fazem anúncios, prometem mudanças, mas no chão da fábrica, na construção civil, no hospital lotado, pouco se vê de concreto. As medidas chegam tarde, os benefícios se perdem na burocracia, e o trabalhador segue seu caminho, contando mais com sua própria força do que com qualquer decreto oficial.
No meio desse cenário, há uma chama que resiste: o controle social. Nos conselhos de saúde, nos sindicatos, nas reuniões comunitárias, a voz dos trabalhadores ecoa. Não é fácil ser ouvido em um mundo que muitas vezes finge não escutar. Mas é ali que se constrói resistência, que se luta para que a saúde seja um direito e não um luxo, que se exige não apenas condições mínimas, mas dignidade plena.
Porque o trabalhador e a trabalhadora não querem esmolas. Querem apenas o que é justo. Querem que o suor derramado não seja em vão. Querem que a vida valha mais do que um crachá. Querem que seus filhos tenham um futuro onde trabalhar não seja sinônimo de sofrimento, mas de crescimento.
João Vitor Nascimento Silva¹, Elisângela Franco de Oliveira Cavalcante²
¹Discente de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN; ²Docente no Departamento de Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-UFRN.
*A Coletânea “Rumo à 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT) – Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora como Direito Humano” é uma iniciativa aberta que convida a sociedade a participar da reflexão sobre os desafios da saúde no mundo do trabalho. Trabalhadores, sindicalistas, movimentos sociais, coletivos, Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt), entre outros, podem enviar seus materiais, em diferentes formatos. Veja as orientações para participar.