Notícias
Coletânea Rumo à 5ª CNSTT
A Submissão e a Sobrecarga de Trabalho
A saúde dos trabalhadores rurais no corte mecanizado de cana-de açúcar, atualmente, muito nos preocupa. Os trabalhadores se submetem aos maiores abusos já vistos, na maioria das vezes sendo caracterizado como trabalho degradante. O trabalhador não para nem para fazer suas necessidades fisiológicas, não consegue parar para fazer suas refeições, sendo o horário de refeição de acordo com o tempo da máquina: se ela operar o tempo todo, ele também não pode parar, nem para comer. Somado a isso, ainda falta a manutenção dos equipamentos.
O trabalhador é submetido dentro das máquinas ao chamado Controle de Bordo, ou seja, se o trabalhador fizer uma parada, tem que justificar. A área de vivência fica longe das máquinas em operação, ele não pode sair para usar o banheiro. Se houver a necessidade fisiológica, ela é feita no próprio canavial, muitas vezes depois de segurar o máximo possível. O risco de mal súbito e de perder a vida é grande, pois, por economia, as usinas não contratam ajudantes.
Hoje, tratando do corte mecanizado os trabalhadores da operação de carga e descarga do transbordo se submetem a uma sobrecarga de serviço. A maioria das empresas impõe a catação da bituca sem nenhuma remuneração, são raras as usinas que pagam adicional de bituca e, quando pagam este adicional, não se isentam de prejudicar o trabalhador com o desgaste da sobrecarga de trabalho. Por questões econômicas as empresas colocam seus trabalhadores para realizar várias funções ao mesmo tempo.
A saúde e a vida dos trabalhadores do campo também estão ameaçadas pelo uso dos herbicidas nos canaviais, além da grande exposição ao sol com uso de protetor ineficaz. Os trabalhadores são lesados de receber a insalubridade uma vez que as empresas alegam que fornecem os EPI’s. É nítido os esforços sobre-humano no trajeto de ir e vir, passam mais de 13 horas no caminho e recebem somente pelas 08 horas trabalhadas.
Os trabalhadores do transporte de cana estão sujeitos ao trabalho análogo a escravidão com o chamado bate volta, prática adotada pelas empresas aos trabalhadores que está causando um grande transtorno físico e psicológico, submetendo-os a uma doença mental pela pressão de bater metas. Eles são vigiados constantemente pelo sistema de controle. Esse controle é de trajeto, onde as usinas fazem todo planejamento de viagens locais. Esta é uma forma de pressionar os trabalhadores durante toda jornada de trabalho.
Por fim, é preciso de forma urgente voltar os olhos para o corte mecanizado e suas consequências, inclusive pesquisar o que os herbicidas estão causando na saúde dos trabalhadores e suas sequelas, além da saúde mental dos trabalhadores do corte mecanizado que está sendo afetada.
Carlita da Costa
Sindicato dos Empregados Rurais de Cosmópolis
*A Coletânea “Rumo à 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (CNSTT) – Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora como Direito Humano” é uma iniciativa aberta que convida a sociedade a participar da reflexão sobre os desafios da saúde no mundo do trabalho. Trabalhadores, sindicalistas, movimentos sociais, coletivos, Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), Comissões Intersetoriais de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Cistt), entre outros, podem enviar seus materiais, em diferentes formatos. Veja as orientações para participar.