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PAINEL EDUCAÇÃO
Painel Educação une memória e atualidade no edifício-sede do MEC
Foto: Divulgação/MEC
Os cerca de 15 metros quadrados em uma parede no 9º andar do Ministério da Educação (MEC) guardam o que restou do painel Educação, de Gilda Reis (1928-2017). Décadas de negligência afetaram a obra, até que, em meio às celebrações dos 95 anos da pasta, a pintura começou a ser restaurada. O restauro da obra, relevante para a arte, a história e a educação de Brasília e do Brasil, ficou a cargo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e completou seu primeiro mês de trabalhos em outubro.
A subsecretária de Gestão Administrativa do MEC, Jussara Cardoso, explica que o painel de Gilda Reis passou anos sem a manutenção adequada e que, por isso, encontrava-se com perdas significativas em sua integridade. “A finalização dessa restauração, conduzida com o rigor técnico da equipe da UFPel, cumpre o nosso papel de zelar pelo patrimônio público. Além disso, ao recuperarmos esse elemento cultural e estético do edifício-sede, garantimos aos nossos servidores e colaboradores um ambiente de trabalho mais digno e agradável, mostrando o compromisso da gestão com a qualidade dos espaços onde o Ministério da Educação desenvolve suas atividades essenciais", afirma.
O painel histórico é um afresco — pintura feita diretamente na parede — e foi produzido em 1960, data da inauguração da capital federal. Gilda retratava temas sociais e as desigualdades vivenciadas por populações historicamente invisibilizadas no país. Na pintura em recuperação no MEC, a artista carioca apresentou duas realidades distintas: de um lado, estudantes uniformizadas e, do outro, uma representação materna com filhos descalços e olhares distantes e sem esperança. A obra foi encomendada por Oscar Niemeyer (1907-2012) durante a construção de Brasília.
A parceria do MEC com a UFPel acontece por meio de um termo de execução descentralizada (TED) e integra o Programa Multiações para o Patrimônio Cultural do Curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da universidade. A previsão é que o painel seja entregue completamente restaurado até meados de 2026.
Restauração – A equipe que atua no projeto é multidisciplinar e tem ampla experiência na restauração de obras artísticas. Entre elas, constam as 20 obras vandalizadas no Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro de 2023, que foram recentemente restauradas. Todo o trabalho é feito por especialistas em áreas como pintura mural, pesquisa histórico-artística, conservação preventiva, restauração sustentável, documentação científica, fotografia e mapeamento de dados, além dos responsáveis pela análise química e compatibilidade dos materiais a serem utilizados.
Professora do curso de Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis da UFPel e coordenadora do projeto, Karen Velleda Caldas cita que as atividades no MEC vão além de um trabalho meramente técnico, mas reúnem extensão, pesquisa e ensino, como deve ser em uma universidade. A iniciativa também conta com a participação de ex-alunos da instituição, promovendo oportunidades de aperfeiçoamento.
A professora conta que as análises fazem parte do dia a dia de trabalho. “Por exemplo, no chão, tem vários fragmentos que continuam se soltando ao longo dos dias. Todos esses ‘caquinhos’ já foram catalogados e a gente vai encontrar o local deles de volta. Isso requer estudo. A gente estuda como é que vai se comportar esse material para poder colar”, explica Karen.
Entre os pontos principais, a professora também cita a parede sob a qual está a obra, uma estrutura que precisa ser contida e nivelada. “A gente tem um suporte, que é essa parede, que está muito fragilizada. Ela está esfarelando, soltando as camadas de reboco, ou reboco e pintura, ou só pintura, e precisa de consolidação”, acrescenta.
No processo de conservação e restauração, um dos principais critérios é a compatibilidade dos materiais. “Qualquer coisa que a gente vá colocar aqui tem que ser compatível. Por isso a importância da química nessa história. Quando a gente faz as análises químicas, a gente entende que tipo de material é e qual é o comportamento dele”, ressalta.
Segundo a professora, é preciso, ainda, nivelar o revestimento da parede. “Nós precisamos deixar essa argamassa toda na mesma altura, porque senão a gente vai ter um degrau. Depois que faz o nivelamento, vem a reintegração pictórica, cromática. Em resumo, nós estudamos e entramos em um acordo para ver qual é a técnica mais adequada de reintegração”, conclui Caldas.
Perfil – Nascida no Rio de Janeiro, Gilda Reis Neto teve longa trajetória artística e participou de mais de cinquenta exposições individuais e coletivas no Brasil e no exterior. Estudou com Ivan Serpa e André Lhote no Brasil e, em Paris, foi bolsista do governo francês na Académie de la Grande Chaumière e no Ateliê Kokoschka. Em Brasília, pintou murais na Escola Parque da 307/308 Sul, no Plano Piloto, entre 1959 e 1961, e no Iate Clube de Brasília, em 1962. Todos foram destruídos. Outros murais da artista encontram-se no Museu Casa dos Pilões, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, e em residência particular em Anápolis (GO).
Gilda foi condecorada com a medalha de bronze no 33º Salão de Artes Plásticas da Associação dos Artistas Brasileiros no Rio de Janeiro em 1962; participou da VII Bienal de São Paulo em 1963; e foi artista convidada do 2º Salão de Arte Moderna do Distrito Federal em Brasília em 1966. Entre 1967 e 1982, viveu e trabalhou nos Estados Unidos e na Argentina, retornando ao Brasil em 1982. Continuou a expor até 1999, quando fez sua última exposição individual no Rio de Janeiro.
Assessoria de Comunicação Social do MEC