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PATRIMÔNIO DE MATRIZ AFRICANA
Museologia de terreiro é tema de seminário no Rio de Janeiro
Foto: Isabel Dias
Nesta terça-feira (9/9), a Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Rio de Janeiro recebeu o 1° Seminário Brasileiro de Museologia de Terreiro, um encontro inédito que reuniu lideranças religiosas, pesquisadores, professores e gestores de museus de todo o país para refletir sobre a preservação da memória e do patrimônio cultural de matriz africana. Idealizado pelo terreiro Ilê Omolu Oxum e pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), o evento foi realizado em parceria com o Iphan e a Defensoria Pública da União (DPU).
A programação reuniu cinco mesas temáticas que abordaram desde a valorização e proteção das tradições sagradas até os desafios da musealização no contexto dos terreiros, passando pelo cuidado com as vestimentas, o fortalecimento do patrimônio cultural e as contribuições da museologia para esse campo.
"Este seminário inaugura um espaço necessário de reflexão sobre como podemos preservar e potencializar ainda mais a riqueza cultural dos terreiros brasileiros. A iniciativa também aponta para a formação de uma rede de museologia de terreiro", destacou o diretor da Escola de Museologia da Unirio, Mario Chagas.
Entre os destaques da programação, esteve a mesa de conversa com a iyalorixá Mãe Meninazinha de Oxum, que trouxe reflexões sobre como itens do cotidiano dos terreiros, como vestimentas e objetos de uso diário, podem, por si só, ser compreendidos como parte de um acervo museológico. Ela também contou como surgiu o Museu Memorial Iyá Davina, localizado em São João de Meriti (RJ) e conhecido como o primeiro museu do gênero no estado, criado em homenagem à sua avó biológica.
A ação de Mãe Meninazinha, ao fundar o memorial, foi visionária: se tornou referência para outros terreiros e inspirou a valorização da história que pode ser contada a partir do que ela chama de “as nossas coisas”.
"O museu surgiu a partir de um banco que pertenceu à minha avó, Iyá Davina, e ficava no terreiro. Não achava adequado que as pessoas se sentassem em algo tão importante, por isso pensei que ele poderia ser o objeto ideal para iniciar um museu”, relembrou Mãe Meninazinha de Oxum.
Mapeamento de museus de terreiros
Durante o seminário, foi apresentado pela primeira vez o mapeamento nacional de museus de terreiros, um levantamento inédito que identificou 32 instituições em funcionamento no Brasil. Entre elas, três contam com tombamento do Iphan: o Museu Ilê Ohum Lailai (BA), o Memorial Mãe Menininha do Gantois (BA) e o Centro Cultural Afro Sítio do Pai Adão (PE).
“Este trabalho pioneiro nos permitirá compreender como essas instituições têm atuado na preservação da memória afro-brasileira e identificar as necessidades específicas para fortalecer essa rede de patrimônio cultural”, destacou o museólogo Marco Antonio Teobaldo, autor da pesquisa.
Além da apresentação do mapeamento, o seminário também foi marcado pelo lançamento do catálogo “Moda de Terreiro: respeitando o saber ancestral de cada tradição”, produzido pelo terreiro Ilê Omolu Oxum, que traz o registro de indumentárias tradicionais desses espaços.
A superintendente do Iphan no Rio de Janeiro, Patricia Wanzeller, ressaltou a importância de o Instituto sediar esse encontro, reforçando o compromisso com a valorização e preservação do patrimônio afro-brasileiro.
“Nossa equipe tem buscado se aproximar do cotidiano dos terreiros para conduzir com mais sensibilidade os processos de tombamento, certos de que diálogos como esse fortalecem a memória das tradições que compõem nossa identidade cultural”, pontuou a superintendente.
O encontro foi encerrado com a leitura da Declaração dos Museus de Terreiro, documento que aponta diretrizes para a preservação e fortalecimento da memória e do patrimônio das comunidades tradicionais.
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Assessoria de Comunicação Iphan - comunicacao@iphan.gov.br
Ana Carla Pereira – carla.pereira@iphan.gov.br

