Informe de Segurança GGMON nº 03/2025 (Cosmetovigilância)
Resumo: Tem sido relatados riscos à saúde e aos cabelos relacionados ao uso de alisantes capilares, especialmente aqueles contendo substâncias proibidas, como formol (ou formaldeído) e ingredientes ativos não permitidos, como ácido glioxílico. Esses produtos podem causar irritações, problemas respiratórios e danos graves aos fios, como quebra, ressecamento e desalinhamento da fibra capilar (frizz). O objetivo é orientar sobre o uso seguro de alisantes, incluindo a identificação de produtos cosméticos regularizados, a prevenção de riscos e a opção por alternativas menos agressivas, promovendo a segurança de consumidores e profissionais que cuidam da beleza.
Identificação do produto: Alisantes capilares são cosméticos destinados a alisar ou relaxar os fios, como em escovas progressivas, relaxamentos ou permanentes. Produtos regulares utilizam ingredientes ativos permitidos pela Anvisa. São eles:
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Ácido tioglicólico e seus sais;
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Ésteres do ácido tioglicólico;
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Hidróxidos de sódio, potássio, lítio ou cálcio;
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Sulfitos e bissulfitos inorgânicos; e
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Pirogalol e ácido tiolático.
Atualmente, o formol é permitido em produtos cosméticos no Brasil apenas como conservante, em concentrações muito baixas (até 0,2%), e como endurecedor de unhas, em concentrações de até 5%.
No entanto, produtos irregulares com formol ou ácido glioxílico* são amplamente usados, apesar de proibidos ou não permitidos para alisamento, devido aos riscos à saúde e aos danos capilares. Esses produtos podem ser encontrados em salões, mercados informais ou plataformas online, muitas vezes sem registro ou com promessas enganosas.
Problema: Os alisantes capilares, especialmente os irregulares, podem causar:
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Riscos à saúde:
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Irritações, queimaduras no couro cabeludo, coceira e alergias.
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Problemas respiratórios (tosse, falta de ar) devido à inalação de vapores, principalmente de formol.
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Riscos de longo prazo, como o potencial cancerígeno do formol.
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Danos aos cabelos:
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Danos à parte interna do fio (córtex), com perda de queratina, reduzindo força e elasticidade.
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Degradação da camada externa (cutícula), aumentando a porosidade e o frizz, dificultando a retenção de água e nutrientes.
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Perda da oleosidade natural (lipídios), deixando os fios ressecados, sem brilho e vulneráveis a danos externos.
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Combinação com descoloração aumenta a porosidade em até quatro vezes, resultando em cabelos quebradiços e com frizz.
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Uso de calor (secadores/pranchas) intensifica os danos, causando a desnaturação irreversível da queratina.
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Outros problemas:
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Produtos como a escova progressiva podem mascarar danos internos ao criar um filme brilhante nos fios.
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Produtos irregulares, especialmente à base de ácido glioxílico, são perigosos e podem causar danos graves quando aquecidos.
Recomendações
Para os Consumidores
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Escolha Produtos Regularizados:
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Verifique se o alisante tem registro na Anvisa (consulte Aqui).
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Evite produtos sem rótulo, vendidos em marketplaces não confiáveis ou com promessas exageradas (ex.: “progressiva sem química”).
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Cuidado com Substâncias Proibidas:
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O formol é proibido como alisante e perigoso à saúde.
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O ácido glioxílico, comum em progressivas, não é permitido pela Anvisa e danifica os fios, especialmente com calor.
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Evite Alisamento Após Descoloração:
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Cabelos descoloridos estão mais frágeis e sofrem danos severos com alisantes. Espere um intervalo seguro (consulte um profissional) ou evite combinar os procedimentos.
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Siga as Instruções:
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Faça o teste de mecha antes de aplicar o produto.
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Evite contato com o couro cabeludo e enxágue bem.
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Reduza o uso de prancha/secador, pois o calor intensifica os danos aos cabelos.
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Fique Atento a Sinais de Alerta:
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Interrompa o uso se sentir ardência, coceira ou dificuldade para respirar.
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Procure um médico em caso de reações adversas e relate à Anvisa pelo e-Notivisa (https://www.gov.br/pt-br/servicos/notificar-problemas-com-produtos-sujeitos-a-vigilancia-sanitaria).
Para os profissionais de salões de beleza
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Use Produtos Seguros:
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Compre alisantes de fornecedores confiáveis, com registro na Anvisa.
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Não aplicar produtos caseiros, importados sem registro ou com ácido glioxílico.
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Recuse aplicar produtos sem registro ou com ingredientes proibidos ou não permitidos, mesmo que o cliente insista. A responsabilidade profissional e os riscos à saúde devem prevalecer.
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Atenção: adicionar formol a outros produtos é infração sanitária e crime hediondo, conforme o art. 273 do Código Penal.
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Proteja-se e o Cliente:
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Use luvas e máscaras durante a aplicação para evitar contato com substâncias químicas.
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Trabalhe em locais ventilados para reduzir a inalação de vapores.
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Informe os clientes sobre os riscos e realize testes de mecha.
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Evite Procedimentos Combinados:
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Não aplique alisantes em cabelos recém-descoloridos, pois a combinação aumenta os danos à saúde capilar.
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Relate Problemas:
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Notifique reações adversas ou produtos suspeitos à Anvisa pelo e-Notivisa (https://www.gov.br/pt-br/servicos/notificar-problemas-com-produtos-sujeitos-a-vigilancia-sanitaria) e oriente o cliente a buscar ajuda médica.
Como Identificar se o Alisante Capilar é Regularizado na Anvisa
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O número do processo Anvisa ajuda a identificar se o produto está regularizado na Anvisa. O número do processo tem o seguinte formato padrão: 25351.XXXXXX/YYYY-ZZ. Com este número ou o nome do produto, você pode consultar regularidade do produto diretamente no portal da Anvisa.
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Verifique no portal da Anvisa se o produto está regularizado (consulte Aqui).
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Sinais de alerta: ausência do número do processo ou o produto não foi localizado no portal da Anvisa.
Alternativas Mais Seguras para Alisamento
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Métodos temporários: Alisamento temporário com secador e escova, sem produtos químicos, prancha com protetor térmico, cremes e séruns para reduzir o frizz temporariamente.
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Tratamentos profissionais seguros: Alisantes com ingredientes permitidos e registrados na Anvisa, relaxamento com hidróxidos realizados por profissional qualificado, tratamentos de reconstrução capilar antes de procedimentos químicos.
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Cuidados capilares: A adoção de uma rotina de hidratação com produtos cosméticos apropriados, o uso de técnicas de finalização e a aplicação de óleos capilares devidamente regularizados podem contribuir para fios mais macios, disciplinados e com menos frizz.
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Dicas importantes: Consulte um profissional, faça testes de mecha, respeite intervalos entre procedimentos e invista em manutenção dos fios capilares.
Como Identificar Produtos Irregulares
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Ausência de registro na Anvisa. Não use!
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Cheiro de formol ou vapores irritantes nos olhos/nariz. Pode ser irregular, não use!
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Origem desconhecida ou falta de informações sobre fabricante ou composição. Desconfie!
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Preço muito baixo do produto pode indicar falsificação ou irregularidade. Desconfie!
Compromisso com a Saúde
A Anvisa atua para proteger a saúde dos consumidores e profissionais. A cosmetovigilância é essencial para identificar riscos e agir preventivamente.
Faça sua parte: verifique a regularidade dos produtos, adote práticas seguras e relate suspeitas pelo e-Notivisa (https://www.gov.br/pt-br/servicos/notificar-problemas-com-produtos-sujeitos-a-vigilancia-sanitaria).
*Atenção: O ácido glioxílico não está autorizado para alisamento ou ondulação de cabelos, conforme a Instrução Normativa nº 22, de 13 de abril de 2023. Embora alguns produtos antigos ainda estejam regularizados, novos registros não são permitidos, pois a substância está em reavaliação de segurança (RDC nº 906, de 19 de setembro de 2024). A Anvisa recomenda cautela no uso desses produtos, devido a indícios de risco, e alerta para o uso irregular do ingrediente.
Referências
Agence nationale de sécurité sanitaire de l'alimentation, de l'environnement et du travail (ANSES). Alert confirmed on glyoxylic acid in hair straightening products [Internet]. Maisons-Alfort: ANSES; 2025 Jan 23. Disponível em: https://www.anses.fr/en/content/alert-confirmed-glyoxylic-acid-hair-straightening-products Acesso em: 18 jul 2025.
Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia (Abrale). ‘Com formol ou sem formol?’ Produto cancerígeno ainda é popular em salões de São Paulo. 30 janeiro de 2024. Disponível em: https://abrale.org.br/noticias/com-formol-ou-sem-formol-produto-cancerigeno-ainda-e-popular-em-saloes-de-sao-paulo/ Acesso em: 12 jun. 2025.
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Miranda-Vilela AL, Botelho AJ, Muehlmann LA. An overview of chemical straightening of human hair: technical aspects, potential risks to hair fibre and health and legal issues. Int J Cosmet Sci. 2014 Feb;36(1):2-11. doi: 10.1111/ics.12093.
O Globo. França recomenda UE 'limitar ou mesmo proibir' produtos usados em alisamento brasileiro. 24 de janeiro de 2025. Disponível em: https://oglobo.globo.com/saude/noticia/2025/01/24/franca-recomenda-ue-limitar-ou-mesmo-proibir-produtos-usados-em-alisamento-brasileiro-entenda.ghtml Acesso em: 12 jun. 2025.
Robert T, Tang E, Kervadec J, Zaworski J, Daudon M, Letavernier E. Kidney Injury and Hair-Straightening Products Containing Glyoxylic Acid. N Engl J Med. 2024 Mar 21;390(12):1147-1149. doi: 10.1056/NEJMc2400528.
Robert T, Tang E, Kervadec J, Desmons A, Hautem JY, Zaworski J, Daudon M, Letavernier E. Hair-straightening cosmetics containing glyoxylic acid induce crystalline nephropathy. Kidney Int. 2024 Dec;106(6):1117-1123. doi: 10.1016/j.kint.2024.07.032.
Souza LI. Ácido glioxílico: entenda o que é a substância usada em alisamento no cabelo e que levou consultora a UTI. g1. 24 de abril de 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/04/23/acido-glioxilico-entenda-o-que-e-a-substancia-usada-em-alisamento-capilar-e-que-levou-consultora-a-uti.ghtml Acesso em: 12 jun. 2025.
Vera MS, Mennickent CS, Gómez-Gaete C, Rogel CC. Riesgos en la salud del uso crónico de formaldehído en el ámbito laboral y como componente de productos de alisado capilar. Horiz Med (Lima) 2024:24(2):e2552. Doi: https://doi.org/10.24265/horizmed.2024.v24n2.15.