Recifes de Coral
Os recifes de coral brasileiros
Os recifes de coral são as florestas tropicais do oceano, abrigando a maior biodiversidade marinha do planeta. Embora ocupem apenas 0,1% da área do oceano, acolhem aproximadamente 25% das espécies marinhas conhecidas, incluindo cerca de 65% das espécies de peixes. Além disso, eles nos fornecem uma infinidade de serviços ecossistêmicos, proporcionando segurança alimentar, impulsionando o turismo e as economias locais, sendo fonte de bioativos, protegendo a zona costeira e contribuindo para o equilíbrio climático.
O Brasil abriga os únicos ambientes recifais de todo o Atlântico Sul, que se estendem por águas rasas desde o Maranhão até o norte do Espírito Santo, ao longo de cerca de 3 mil quilômetros de costa, e alcançam até águas profundas. Eles são caracterizados por um elevado grau de endemismo, isto é, grande parte das suas espécies ocorrem apenas em águas brasileiras. Cerca de 35% dos corais registrados no Brasil são endêmicos e até hoje já foram identificadas 408 espécies de peixes recifais em águas nacionais, das quais 27% ocorrem apenas aqui. Essas características conferem ao Brasil uma responsabilidade ainda maior na proteção desse rico patrimônio natural.
No entanto, os recifes de coral vêm sofrendo um processo acelerado de degradação devido às atividades humanas, sobretudo a mudança do clima.
Recifes de coral e mudança do clima
Nos anos de 2023 e 2024 foram quebrados todos os recordes de temperatura média da superfície do mar por uma larga margem, o que influenciou em grande medida que tenhamos ultrapassado, pela primeira vez, o limite de aquecimento de 1,5 °C na temperatura média do planeta em 2024.
O aquecimento e a acidificação do oceano afetam grave e diretamente a saúde dos recifes de coral, podendo levar ao fenômeno do branqueamento, em que os corais expelem as microalgas a que vivem associados (chamadas zooxantelas), deixando expostos seus brancos esqueletos calcários. Os corais branqueados conseguem permanecer vivos por um tempo, mas como eles dependem dessas algas para sobreviver, se as condições não voltam logo a ser favoráveis eles acabam morrendo.
Iniciou-se em 2023 o quarto e maior evento global de branqueamento em massa de recifes de coral em extensão já registrado. Até maio de 2025, 84% da área de ocorrência de recifes de coral no mundo já tinha sido afetada, em 82 países e territórios.

- Gráfico mostrando a porcentagem da área de ocorrência de recifes de coral no mundo afetada nos quatro eventos globais de branqueamento em massa ocorridos. Fonte dos dados: NOAA. Elaboração: Carolina Chalegre, DOceano/MMA.
Esse evento de branqueamento em massa vem afetando gravemente inclusive os recifes de coral brasileiros. Na Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais, que abriga uma das maiores barreiras de corais do mundo, se estendendo por cerca de 130 km de Tamandaré (PE) até Maceió (AL), pesquisadores identificaram uma mortalidade de 80% dos corais nas áreas de recifes rasos, chegando a 90% em algumas localidades.
O limite de aquecimento de 1,5 °C foi estabelecido, no âmbito do Acordo de Paris, com o intuito de limitar os riscos e impactos da mudança do clima, mas as consequências com esse grau de aquecimento já são muito graves, especialmente para os recifes de coral. Em 2018 o Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC) já alertava que com 1,5 °C de aumento na temperatura média global a previsão era de que 70% a 90% dos recifes de coral de águas rasas do mundo seriam perdidos, e com 2 °C a perda seria de 99%. Se não contivermos rapidamente o aquecimento global os recifes de coral serão o primeiro ecossistema a ser extinto funcionalmente devido à mudança do clima.
Além da mudança do clima, os recifes de coral estão expostos ainda a uma série de ameaças locais. As principais causas de impacto local são o despejo excessivo de matéria orgânica (esgoto e fertilizantes agrícolas), a contaminação das águas (principalmente por agrotóxicos e poluentes industriais), o aumento da quantidade de sedimentos no mar (sobretudo pela destruição das matas nas margens dos rios) e a pesca predatória, podendo-se citar ainda outras ameaças, como a instalação de empreendimentos impactantes na zona costeira e marinha e o turismo desordenado. Quando presentes essas ameaças locais apresentam um efeito sinérgico com a mudança do clima, prejudicando ainda mais esses ecossistemas. Por outro lado, se conseguimos diminuir os impactos locais sobre os recifes de coral, eles se tornam mais resilientes aos efeitos da mudança do clima, aumentando sua chance de sobrevivência. Frear a mudança do clima exige um esforço global, mas o potencial de controle das ameaças locais é muito maior, sendo por isso essencial ampliar os esforços nessa direção.
Vale ressaltar que ao mesmo tempo em que os recifes de coral são extremamente vulneráveis à mudança do clima eles também são grandes aliados para o seu enfrentamento. Os recifes funcionam como verdadeiras barreiras de proteção da zona costeira contra eventos climáticos extremos, atenuando a força das ondas e o avanço do nível do mar, e a estrutura recifal e sua rica biodiversidade contribuem ainda para a fixação de carbono.