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Lei de Incentivo
Com mais de R$ 14 milhões captados via Lei de Incentivo em 12 anos, Luta pela Paz se torna referência no Complexo da Maré
Aulas de boxe, jiu-jitsu, muay thai, capoeira e judô, em conjunto com reforço escolar e capacitação para o mercado de trabalho. Esse é o combo oferecido pela organização sem fins lucrativos Luta Pela Paz. Com sede na comunidade de Nova Holanda, uma das 16 favelas do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, a ONG tem a missão de ser um espaço de boas práticas e engajamento positivo para jovens que vivem em regiões com altos índices de criminalidade. Em paralelo às atividades, é ofertada assistência individual e em grupo, com atendimento de psicólogos, assistentes sociais, advogados, mentoria e visitas domiciliares.
O impacto das atividades é transformador, inspirador. O que me motiva é quando vejo um jovem que no início era fechado, desacreditado das suas potencialidades, e com o passar do tempo ganha autogestão de seu futuro, passa a se sentir pertencente e capaz de estar onde quiser”
Roberto Custódio, coordenador esportivo do Luta pela Paz e ex-atleta da seleção brasileira de boxe
Com uma linguagem de força, desafio e adrenalina, as artes marciais funcionam como plataforma para o desenvolvimento de características como disciplina, respeito, autocontrole, capacidade de superação e autonomia para os 1.900 crianças e jovens, de seis a 29 anos, que frequentam os diversos projetos da Luta pela Paz.
“O impacto das atividades é transformador, inspirador. O que me motiva é quando vejo um jovem que no início era fechado, desacreditado das suas potencialidades, e com o passar do tempo ganha autogestão de seu futuro, passa a se sentir pertencente e capaz de estar onde quiser”, afirma Roberto Custódio, coordenador esportivo do Luta pela Paz e ex-atleta da seleção brasileira de boxe.
Para ele, as atividades ajudam os jovens a realizar escolhas positivas e sustentáveis. “É isso que eles aprendem aqui: a buscar meios de atingir objetivos no esporte e na vida. Quebrar barreiras invisíveis para que alcancem seu potencial na sociedade, dispostos a enfrentar dificuldades e a procurar meios de dar a volta por cima sem desistir”.
Com 20 anos de atuação, a ONG elaborou metodologia própria de trabalho baseada em cinco pilares: boxe e artes marciais, educação, empregabilidade, suporte social e liderança juvenil. Pelo sucesso do método, o Luta Pela Paz passou a capacitar e treinar voluntários e outras organizações sociais que queiram usar o esporte como instrumento de transformação.
Rebeca dos Santos Lima tem 20 anos e desde os sete integra o projeto Atletas da Paz, uma das ações da instituição. Ela recorda que, quando pequena, estar naquele ambiente era uma diversão para ela e uma segurança para a família. “Minha mãe trabalhava muito e eu ficava sob os cuidados da minha avó. Mas ela não dava conta, porque eu era levada, gostava de ficar na rua. E nas ruas da favela você tem grandes influências para seguir caminhos errados. Assim, minha mãe me mantinha no projeto porque lá ela sabia que eu estava fazendo atividade física, aula de cidadania, isso a tranquilizava”, conta.
Há 12 anos, o Luta pela Paz tem parceria com o Governo Federal, por meio da Lei de Incentivo ao Esporte (LIE). Ao todo, já foram captados mais de R$ 14 milhões junto à iniciativa privada. “O patrocínio via Lei do Incentivo impacta nossos projetos de forma positiva, pois podemos planejar 12 meses de projetos, equipamentos e equipe envolvida para entregar um trabalho de qualidade para os jovens”, afirma Roberto Custódio.
Em 2020, o Atletas da Paz, que oferta as aulas de boxe, captou R$ 1 milhão. Atualmente, outros três projetos da instituição recebem recursos da LIE: Campeões Comunitários, Destemidas e Programa de Treinamento (treinadores esportivos sociais e representantes de organizações de base comunitária que queiram usar o esporte como instrumento para o desenvolvimento de crianças e jovens). Juntos, os quatro projetos atendem a 980 pessoas, entre jovens, treinadores esportivos e mulheres.
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| Rebeca Lima: descoberta no projeto, tornou-se a primeira brasileira medalhista num Mundial Juvenil de Boxe. Foto: Luta pela Paz/Divulgação |
“A Lei de Incentivo tem a capacidade de fazer essa transformação social de uma determinada região, por meio de bons projetos, boas parcerias. É gratificante quando ela permite que as instituições desenvolvam suas ideias para a comunidade e os beneficiários”, afirma Leonardo Castro, diretor do Departamento de Incentivo e Fomento ao Esporte do ministério da Cidadania.
A Luta pela Paz me influenciou a seguir um caminho diferente de muitos que a gente vê hoje. Eu me desenvolvi muito, tanto no esporte como pessoa. Se eu não tivesse essa oportunidade, não teria contrariado as estatísticas nem conhecido novas culturas, pessoas, línguas, numa idade tão jovem”
Rebeca Lima, integrante do projeto e da Seleção Brasileira de Boxe
Das aulas ao pódio
Além de formar cidadãos, os projetos da Luta pela Paz formam atletas de alto rendimento. Já são 177 medalhas conquistadas por alunos e ex-alunos, em campeonatos de diferentes níveis, incluindo nacionais, de diversas modalidades, como Boxe, Muay Thay, Judô, Jiu jitsu e Luta Olímpica.
Rebeca é um dos principais exemplos. Pelo esporte, ela chegou à seleção brasileira juvenil de boxe e conquistou medalhas em torneios estaduais, nacionais e internacionais. Em 2007, ainda com sete anos, Rebbeca já tinha consciência da importância do esporte em sua trajetória, e frequentava aulas de futsal e natação na Vila Olímpica da Maré, ao lado da estrutura do Luta Pela Paz. Atenta, admirava as mulheres que saíam da academia e se exercitavam na ciclovia.
“Um dia, dei uma fugida da aula de futsal e fui ao salão de boxe da Luta pela Paz. As meninas estavam lá, treinando. Eu fiquei encantada e, no dia seguinte, arrastei minha mãe para me inscrever. Ela não queria deixar, mas cedeu. Desde então, nunca mais parei de praticar boxe”.
O passatempo se tornou profissão quando, aos 17 anos, ela ganhou o Brasileiro de Boxe Juvenil. Em 2018, entrou para a Seleção Brasileira, foi medalhista de prata representando o Brasil em um torneio continental nos Estados Unidos e tornou-se a primeira brasileira medalhista de bronze num campeonato mundial juvenil de boxe, em torneio disputado em Budapeste, na Hungria .
“A Luta pela Paz me influenciou a seguir um caminho diferente de muitos que a gente vê hoje. Eu me desenvolvi muito, tanto no esporte como pessoa, e isso se reflete em todas as áreas. Eu só podia praticar o boxe se estivesse na escola. Tempos depois, comecei a enxergar o boxe como trabalho. A Luta Pela Paz me proporcionou viagens, me deu suporte. Se eu não tivesse essa oportunidade, não teria contrariado as estatísticas nem conhecido novas culturas, pessoas, línguas, numa idade tão jovem”.
Roberto Custódio de Queiroz é outro espelho para os meninos e meninas do projeto. Ele foi aluno da instituição por 20 anos antes de se tornar coordenador esportivo. Praticando o boxe olímpico, integrou a Seleção por oito anos (2008 a 2016), participou das Olimpíadas de Londres em 2012 e fez parte da equipe brasileira militar. “A organização me ajudou, me apoiou, me motivou e mostrou que posso ser o que quiser. Mostrou também como eu deveria fazer para alcançar meus sonhos e objetivos. Isso se reflete para hoje eu ser uma pessoa inspiradora na minha comunidade”.
Como atleta, ele conseguiu viver do esporte e ajudar a família. Hoje, cursa o último período de educação física e pretende continuar auxiliando os alunos. “Quero me especializar em gestão esportiva e atender da melhor forma as crianças, adolescentes e jovens que vivenciam cada modalidade esportiva oferecida pelo projeto”, afirma. “O que mais me fortaleceu a vencer cada queda, passar por barreiras invisíveis, decepções, vontade de parar com tudo, foi a resiliência que aprendi. Acreditar em você é o primeiro passo de muitos. Com apoio e credibilidade então, nem se fala”, conclui.
Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania
