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CUIDADOS
Lavanderias públicas aliviam sobrecarga de trabalho doméstico para mulheres
O conceito científico de tempo afirma que ele é relativo. Na estrutura social na qual vivemos, o tempo é um bem precioso – para muitas famílias, é luxo. O debate sobre a qualidade do tempo vem contribuindo para a construção de ações para os cuidados, nos municípios, estados e com apoio do Governo do Brasil. Uma delas é a construção de lavanderias públicas em áreas de vulnerabilidade social.
Além de facilitar a limpeza das peças, a proposta é oferecer um espaço seguro, especialmente para as mulheres, com funcionários de diferentes áreas de atuação. No ambiente, são realizadas atividades de escuta, socialização e formação, por meio de oficinas.
Em Caruaru (PE), no bairro Alto do Moura, está a primeira unidade inaugurada com recursos do Governo do Brasil. A lavanderia pública beneficia os cerca de dez mil moradores do Residencial Luiz Bezerra Torres. Inaugurado em junho deste ano, o equipamento atende gratuitamente, conforme agendamento. Para acessar o serviço, uma das premissas é estar no Cadastro Único.
A implementação do equipamento está alinhada com a Política Nacional de Cuidados, sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em dezembro de 2024. A política foi elaborada por mais de 20 ministérios, em articulação com o Parlamento, com governos da América Latina e com participação de diversos setores da sociedade civil, como sindicatos, associações e movimentos sociais.
O trabalho foi coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) e pelo Ministério das Mulheres, que assinaram o projeto de lei, juntamente com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC).
A secretária nacional da Política de Cuidados e Família do MDS, Laís Abramo, avaliou que espaços como as lavanderias reduzem a carga de trabalho indireto que, historicamente, recai sobre as mulheres. “Assim como restaurantes populares e cozinhas solidárias, as lavanderias populares vêm também nesse sentido”, exemplificou.
O cuidado indireto inclui atividades domésticas que dão suporte à realização dos cuidados diretos, como limpar a casa, preparar alimentos, fazer compras ou lavar roupas.
“Deve ser uma responsabilidade compartilhada entre a família, o Estado, a comunidade e o setor privado. O direito ao cuidado vai ser implementado de forma progressiva, sensível às diferenças, dando muita atenção ao enfrentamento das desigualdades estruturais que caracterizam a sociedade brasileira, como desigualdades de renda, gênero, raça, etnia, territoriais, idade e cognitiva”, ponderou Laís Abramo.
Impacto na rotina
Moradora do residencial em Caruaru, Graça Amorim, de 46 anos, ressaltou que a lavanderia atua como suporte para evitar as dores físicas decorrentes da fibromialgia. Entre diversos fatores, a condição faz com que o esforço físico, como lavar roupas à mão, cause dores nos músculos e articulações, em diferentes partes do corpo. Outro ponto destacado por Graça é o melhor aproveitamento da água em casa.
“Eu não consigo lavar as minhas roupas, nem as minhas roupas íntimas, em casa. Então, o projeto dessa lavanderia foi de grande importância para todos no bairro. Acredito que as pessoas aqui ganharam uma vida totalmente diferente da realidade que viviam. A gente não tem água suficiente em casa, então a lavanderia foi uma ‘mão na roda’”, avaliou a dona de casa.
Mãe de duas crianças, Ingrid dos Santos, de 38 anos, também é beneficiada pelo projeto em Caruaru. Segundo ela, a medida trouxe melhoras que partem da redução da carga de trabalho em casa, até mais tempo de qualidade com os filhos, que podem acompanhá-la na atividade, já que a lavanderia conta com um espaço dedicado às crianças.
“Roupa ocupa muito nosso tempo. Vindo para a lavanderia, a gente acaba aproveitando mais esse tempo com nossos filhos”, afirmou a auxiliar de educação. “E não é só fazer a lavagem de roupa, também é um espaço em que a gente recebe formação, como a questão da violência, sobre a importância de denunciar. Aqui nessas oficinas a gente aprendeu que a mulher tem que ser valorizada”, contou Ingrid.
Educação sobre direitos
Gerida pela Secretaria da Mulher de Caruaru, o equipamento trabalha com ações intersetoriais. A titular da pasta municipal, Luana Marabuco, relatou que, além do acesso ao serviço, as frequentadoras participam de atividades educativas com foco na prevenção de diferentes formas de violência contra a mulher.
“Enquanto a roupa está na máquina, elas fazem qualificações com representantes das secretarias da Mulher, de Assistência e Combate à Fome, de Saúde e da Educação. É um trabalho intersetorial com o objetivo de fortalecer, cada vez mais, o cuidado para com as mulheres”, afirmou Luana.
Em uma das salas da estrutura, ainda são ofertadas oficinas de artesanato e leitura. A proposta do trabalho desenvolvido é que as mulheres tenham oportunidade de socializar fora do ambiente doméstico, conheçam os próprios direitos e, para além disso, saibam que têm na lavanderia a quem recorrer em caso de violação desses direitos.
Os homens também são bem-vindos no espaço – o serviço realiza agendamentos para eles uma vez por semana. Neste dia, não há mulheres utilizando a lavanderias, somente público masculino acessa a lavanderia e recebe as formações.
Resposta à demanda
A iniciativa interdisciplinar tem como ponto de referência, a nível federal, o Ministério das Mulheres (MM). A secretária nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidado da pasta, Rosane Silva, afirmou que a medida responde a uma demanda antiga da população por políticas com foco na corresponsabilização do trabalho doméstico, com a finalidade de aliviar o peso depositado sobre as mulheres dentro dos lares.
“As mulheres debatem o que é a divisão sexual do trabalho e como ela interfere na nossa vida, no nosso cotidiano, na nossa autonomia e historicamente as mulheres cobram que o Estado e a própria sociedade participem mais dessa responsabilidade com a tarefas domésticas e com o cuidado. E aí quando o governo assume essa agenda, essa pauta, o governo está dizendo: Sim, esse é um tema importante.”
Com espaço capaz de receber até 200 pessoas por dia, o investimento do Governo do Brasil no equipamento em Caruaru foi superior a R$ 470 mil, direcionados para equipagem, com mais de 80 itens, e custeio de atividades formativas. A prefeitura de Caruaru investiu cerca de R$ 1,5 milhão para executar as obras.
Assessoria de Comunicação - MDS
