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ForSUAS atua na reconstrução de Rio Bonito do Iguaçu (PR) atingida por tornado
Em apenas 30 segundos, um tornado com ventos de 330km por hora arrasou aproximadamente 80% de Rio Bonito do Iguaçu, no Paraná, no dia 7 de novembro. O fenômeno, cujo som foi comparado por moradores ao de três helicópteros voando juntos, deixou um rastro de destruição, famílias desabrigadas e uma população lutando contra o trauma.
Após 20 dias do evento climático extremo, a reconstrução da cidade de 14 mil habitantes é marcada pela solidariedade e pela atuação da Força de Proteção do Sistema Único de Assistência Social (ForSUAS), mobilizada pelo Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) para coordenar a resposta à emergência.
No centro da cidade, funciona o espaço de atendimento à população, uma das áreas mais atingidas e onde é possível ver o tamanho da destruição. Ali trabalha a equipe da ForSUAS, coordenada pelo MDS, que chegou à cidade no dia seguinte ao tornado, para fazer o diagnóstico inicial da situação.
A coordenadora de campo da ForSUAS, Priscila Leite, explicou que a Força mobiliza recursos humanos e logísticos para oferecer assistência social durante calamidades públicas. A estratégia foi criada para atuar no desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul e passou a ter caráter nacional em 2025, tendo realizado 115 missões desde janeiro.
“Em Rio Bonito do Iguaçu, cerca de 20 pessoas atuaram em campo, número que variou conforme as necessidades. A composição das equipes é feita preferencialmente com profissionais da região. Nesta resposta, a maior parte dos colegas veio do estado do Paraná, mas também foram recrutadas pessoas da localidade”, explicou a coordenadora da ForSUAS.
A equipe atua ainda na fase de resposta à situação de calamidade, mas já começou a transição para a fase de recuperação. “O trabalho abrange apoio à gestão da assistência social, gestão do alojamento de emergência, trabalho social com as famílias e cadastramento para acesso aos programas de apoio à reconstrução. A atuação se estende também a outros municípios da região, como Guarapuava, Quedas do Iguaçu e Guaraniaçu, que foram afetados em níveis menores”, detalhou Priscila.
A vida da beneficiária do Programa Bolsa Família, Adriana Lopes, 38 anos, mãe de seis filhos, mudou naqueles segundos. Minutos antes, ela havia recolhido roupas do varal. Ao entrar no quarto para pegar um lençol, viu a porta estourar e sua filha de 11 anos tentando empurrar um sofá para segurá-la.
“Mandei as crianças correrem para debaixo da mesa. Naquele momento, meu fogão estava ligado porque preparava o jantar. O vento desligou o fogo antes que eu conseguisse”, relembrou.
Ficaram ali até tudo passar. As janelas ficaram todas quebradas. O guarda-roupa da vizinha estava em seu quintal. Depois do tornado, veio a chuva. Sem telhado e sem abrigo, Adriana colocou todos os filhos dentro do carro, o único bem que resistiu com apenas o para-brisa quebrado. Na mesma noite foi encaminhada para o abrigo emergencial.
Adriana perdeu todos os móveis, roupas e documentos. O Bolsa Família, que antes era usado para fazer compras e pagar contas de água e luz, agora servirá para outras necessidades. “Minha maior preocupação agora é seguir em frente. Reconstruir, esquecer um pouco, embora saiba que jamais esquecerei completamente”, disse.
O município conta com 1.465 domicílios beneficiados com o Bolsa Família. Diante da emergência, o pagamento foi feito a todas as famílias no primeiro dia, sem escala de calendário. Para quem perdeu os documentos, uma declaração especial foi dada para facilitar o acesso ao benefício.
Apoio psicossocial
Um componente da ForSUAS é o trabalho psicossocial, com o apoio direcionado aos trabalhadores da assistência social. Priscila explicou que muitas pessoas ainda vivem o estresse da situação, mas conforme os dias passam, outras reações acontecem.
“O medo da mudança de clima, o medo de que alguma situação possa se repetir, pesadelos, dificuldade de dormir e de se alimentar. Esses elementos podem perdurar por mais tempo”, observou.
Muitos trabalhadores da gestão social foram afetados diretamente ou tiveram familiares impactados. O Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) da cidade ficou destruído.
“Enquanto os profissionais da saúde atuam principalmente no momento ou logo após o incidente, as questões de assistência social, relacionadas a acesso a benefícios e vulnerabilidades que se alteram, podem se estender por meses ou até anos”, analisou.
A ForSUAS trabalha em parceria com a Força Nacional do SUS e com agências das Nações Unidas (ONU), como a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur).
Solidariedade em ação
Arleia dos Santos, 42 anos, nascida em Suzano (SP), mora há 11 anos na região, no assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) onde o tornado se formou antes de devastar a cidade.
“Quando o fenômeno passou, a região estava sem energia e sem internet. Foi difícil até para os moradores saberem que companheiros estavam em situação de vulnerabilidade. Mais de 120 casas foram atingidos nos assentamentos. Muitas famílias que tiveram suas casas afetadas jogaram lonas sobre os telhados e correram para a cidade para ajudar como voluntários”, relembrou.
Arleia trabalha na equipe da ForSUAS no abrigo, acolhendo famílias até que elas consigam voltarem para suas casas com segurança. Ela descreveu o espírito de solidariedade que viu.
“Uma companheira passou o dia inteiro dobrando roupas para doar, mesmo tendo sua própria casa destelhada e suas roupas molhadas”, contou.
No primeiro momento, Arleia correu para a cidade para ajudar o pai. Depois, tornou-se voluntária na assistência social antes de integrar a equipe do ForSUAS.
Simone Schmitel, 37 anos, que atua no espaço de distribuição, trabalha no Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos no CRAS que foi destruído. Ver que hoje não há estrutura para acolher as crianças em vulnerabilidade a emociona.
“Crianças que só comiam no centro de formação, agora não têm onde receber essa refeição. É doloroso ver o lugar onde a gente trabalhava com tanto amor, totalmente destruído”, lamentou.
Um espaço de distribuição foi montado no dia seguinte ao tornado. Desde então, atende emergências, recebe donativos e encaminha ajuda. O local oferece kit de banho, cesta básica de alimentos, kit de higiene, fraldas e kit de limpeza.
Nos primeiros dias, a maior demanda era por comida, pois as casas foram destelhadas e os móveis, incluindo eletrodomésticos, foram sugados pelo tornado. Agora, com a maioria das casas cobertas e as famílias retornando, a maior demanda é por kit de limpeza.
“As doações chegam de vários lugares do Brasil e até do Paraguai. Dentro das caixas, vêm recadinhos dizendo que estão fazendo orações pelo município, pelos voluntários, pelas pessoas que estão trabalhando”, revelou Simone.
Reconstrução além da estrutura física
Para Priscila Leite, o trabalho em meio à dor é um misto de técnica e humanidade. “A gente vem para um cenário complexo, triste, mas a gente encontra muito combustível para seguir”, refletiu.
O município de Rio Bonito do Iguaçu solicitou cofinanciamento federal para acolher 2.200 pessoas em dois abrigos temporários, sendo um no Centro de Convivência da cidade e outro na vizinha Laranjeiras do Sul. O Governo do Brasil garantiu o repasse de R$ 504 mil para viabilizar o acolhimento emergencial.
O MDS solicitou e obteve apoio logístico da OIM, com internet via satélite, tablets e notebooks, para garantir a comunicação na área atingida, além de reforço técnico com especialistas em gestão da informação e proteção social.
A Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS) também disponibilizou profissionais para atendimento às famílias desabrigadas, que estão no acolhimento emergencial na vizinha Laranjeiras do Sul. A Secretaria de Gestão da Informação e Cadastro Único (Sagicad) mobilizou entrevistadores especializados que atuaram na emergência do Rio Grande do Sul.
Entre as ruínas e a reconstrução, a esperança persiste. Arleia resume o sentimento que move a cidade. “Nosso povo foi solidário e agora é esperançoso. Nós também temos esperança que o Rio Bonito se recupere muito rápido. Vamos construir nossas novas escolas, mais bonitas, mais equipadas. Vamos colocar CRAS, tudo novo, muito bonito. Vamos transformar Rio Bonito ainda mais bonito. Vai ser o rio mais bonito do Iguaçu”.
Assessoria de Comunicação - MDS

