Alfândegas do Nordeste e as províncias portuguesas
Portugal sofreu muito com as invasões napoleônicas: foram duas, uma em 1807, liderada pelo General Junot que ocupou todo o reino, e outra em 1810, comandada pelo General Massena, que foi detida às portas de Lisboa, na " linha de Torres Vedras", um conjunto de fortificações improvisadas pelo Duque de Wellington.
Massena não se atreveu a atacar a linha fortificada, e Wellington também manteve inativo o seu exército luso-britânico. Poderiam ficar assim durante anos a fio, mas havia uma diferença. Wellington havia ordenado previamente que fossem destruídas todas as plantações e celeiros da província da Beira, onde os franceses teriam que acampar, para que não servissem de abastecimento ao inimigo.
Enquanto os franceses passavam fome, Lisboa era fartamente abastecida por uma corrente quase ininterrupta de navios vindos do Brasil com alimentos e demais provisões.
Depois de alguns meses de penúria, Massena ordenou a retirada de suas tropas para a Espanha. Wellington limitou-se a fustigar essa retirada, não se expondo a um combate decisivo, ainda que em Talavera, já em terras espanholas, houvesse se travado uma batalha importante, vencida pelo exército luso-britânico. A essa altura, porém, metade da Espanha já estava sublevada contra os franceses, obrigando Bonaparte a manter grande número de suas melhores tropas na península ibérica.
Enquanto isso, Napoleão se aventurava na Rússia, onde o "general inverno" e uma tática de "terra arrasada", semelhante à de Wellington, o derrotaram. Em 1812, vencido e cansado, Napoleão se rendeu e abdicou, sendo confinado na ilha de Elba, na costa italiana. Portugal, Espanha e Rússia haviam sido o seu Vietnã, Camboja e Laos.
Em Portugal começava a reconstrução do país devastado pelas duas invasões. As províncias da Beira e da Estremadura eram as mais sofridas, não só pela ação do inimigo, mas principalmente pelas medidas defensivas de Wellington. Para custear a reedificação das moradias e para o replantio das lavouras, o Príncipe Regente D. João (depois D. João VI) criou um "Plano Marshall" para restaurar aquelas províncias (para quem tem menos de 60 anos... foi o plano elaborado pelo General George Marshall, americano, que reergueu a Europa depois da II Guerra Mundial).
Mas um plano desses custa caro. Quem o pagaria?
D. João não hesitou e "houve por bem consignar nas alfândegas da Bahia, Pernambuco e Maranhão, pelo espaço de quarenta anos, a quantia anual de cento e vinte mil cruzados" a ser empregada na recuperação econômica da Estremadura e da Beira.
Um lindo gesto, sem dúvida... mas o chapéu era nosso!