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Programa Colheita Solidária: recompensando a sua doação
O Programa Colheita Solidária, uma iniciativa inovadora da Prefeitura de São João del-Rei, Minas Gerais, surgiu como resposta aos desafios do desperdício de alimentos e da insegurança alimentar no município. A cidade, com mais de 13.000 famílias cadastradas em programas sociais, enfrenta uma realidade de vulnerabilidade acentuada, onde 34% dessas famílias vivem em situação de pobreza e 26% possuem renda de até meio salário-mínimo. Essa situação é agravada por altas taxas de desperdício de alimentos, especialmente na produção rural e na distribuição em supermercados.
Em 2024, o Banco de Alimentos do município arrecadou 199.601 kg de alimentos, mas perdeu 74% desse total, aproximadamente 147.661 kg, devido a condições inadequadas de conservação e logística. O custo médio por quilo dos alimentos desperdiçados foi de R$ 2,44, enquanto o custo dos alimentos efetivamente aproveitados chegou a R$ 6,93 por quilo. Diante desse cenário, o Programa Colheita Solidária foi idealizado e implementado com o objetivo de reverter essas perdas e garantir que alimentos saudáveis cheguem diretamente às famílias necessitadas.
O programa adota uma abordagem inovadora, regulamentada por decreto municipal, para incentivar a doação de alimentos pelos produtores rurais. A proposta estabelece um sistema de compensação financeira: produtores que doarem alimentos diretamente às unidades do Banco de Alimentos ou aos CRAS recebem R$ 1,50 por quilo doado; já aqueles que preferem que o Banco de Alimentos faça a coleta em pontos específicos recebem R$ 1,00 por quilo. Essa compensação busca minimizar os custos de colheita e transporte, que muitas vezes desestimulam os produtores a doar excedentes, levando-os a destruir as sobras de produção.
A execução do programa segue uma estratégia integrada que alia parcerias fundamentais com instituições renomadas. A EMATER, por exemplo, desempenha um papel essencial na identificação de produtores rurais com excedentes e na mobilização para doações. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi responsável pela adaptação da plataforma do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) para o contexto local, facilitando a gestão das doações e dos pagamentos diretamente aos produtores. O Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) contribui com suporte técnico e institucional, fortalecendo a implementação e escalabilidade do programa.
O Programa Colheita Solidária também atua em conjunto com o Programa Criança Feliz, que identifica famílias em vulnerabilidade e realiza um acompanhamento semanal, priorizando crianças de até 3 anos. Os alimentos doados pelo programa chegam rapidamente às famílias por meio de sacolas distribuídas nos CRAS. Esse trabalho conjunto assegura que a nutrição dessas crianças esteja alinhada às recomendações do Guia Alimentar do Ministério da Saúde, promovendo o crescimento saudável e o pleno desenvolvimento infantil.
Além disso, o programa foca em atacar o desperdício diretamente no campo. Em áreas como Lagoa Dourada, uma cidade vizinha, relatos de produtores destruindo colheitas inteiras por falta de mercado são frequentes. A Colheita Solidária intervém nesses casos, criando pontos de coleta estratégicos e garantindo que os alimentos sejam aproveitados antes de serem descartados. Recentemente, em Morro do Ferro, foram recolhidos 579 kg de hortaliças, como couve e rúcula, que seriam destruídos. O programa também trabalha para implementar melhores práticas de compostagem e reaproveitamento, reduzindo ainda mais os impactos ambientais do desperdício.
Os resultados esperados são significativos: redução do desperdício alimentar, aumento na eficiência do Banco de Alimentos, fortalecimento da economia local ao valorizar os produtores rurais, e, acima de tudo, melhoria da segurança alimentar das famílias mais vulneráveis. A estrutura do programa, baseada no modelo do PAA, também possibilita escalabilidade para outras cidades interessadas em replicar essa experiência.
O Programa Colheita Solidária se consolida como uma iniciativa exitosa em São João del-Rei, demonstrando que é possível transformar perdas em oportunidades e fortalecer a segurança alimentar de forma sustentável. Ao priorizar soluções inovadoras e parcerias estratégicas, o município dá um exemplo de como políticas públicas bem estruturadas podem combater a fome e o desperdício, inspirando outras localidades a adotarem medidas semelhantes.