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Gestão esportiva
Com o tetracampeão Mauro Silva como palestrante, oitavo webinar da SNFDT debate a gestão do futebol brasileiro
Para debater o tema “Gestão do Futebol Brasileiro”, a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania, por meio da Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor (SNFDT), realizou, na tarde desta terça-feira (28.07), a oitava palestra da série de Webinares em Políticas Públicas para o Futebol, iniciada em junho.
O evento contou com a participação, como palestrantes, do tetracampeão mundial Mauro Silva, atual vice-presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF); do presidente da Autoridade Pública de Governança do Futebol – APFUT, Thiago Froes; do CEO do Red Bull/Bragantino FC, Thiago Scuro, e do diretor executivo da Ernst & Young, Pedro Daniel.
O bate-papo também teve a participação do secretário Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor do Ministério da Cidadania, Ronaldo Lima, e do diretor do Departamento de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor da SNFDT, Christiano Puppi, mediador.
“Tivemos palestrantes muito gabaritados e queria agradecer ao Mauro Silva, que nos honrou com sua participação, assim como o Thiago Froes, o Thiago Scuro e o Pedro Daniel. Cada um deu uma contribuição importante e esclarecedora sobre as áreas em que atuam. A melhoria na gestão do futebol brasileiro passa, também, por esse tipo de debate”, afirmou Ronaldo Lima.
Mauro Silva narrou um pouco de sua experiência de 13 anos no futebol espanhol, traçando paralelos com a realidade brasileira. “Quando cheguei na Espanha (em 1992), a Liga Espanhola tinha 50 funcionários. Quando saí de lá, em 2005, uma transformação enorme já tinha ocorrido. A Liga Espanhola já tinha 700 funcionários e o futebol tinha virado uma indústria gigantesca. O título mundial chegaria cinco anos depois. Mas já mostrava que o país era melhor fora de campo do que dentro”, lembrou o ex-jogador da Seleção Brasileira.
Amparado por sua passagem pela Europa, o tetracampeão mundial foi enfático: “Precisamos de menos paixão e mais razão em nossos dirigentes, que precisam de educação e de formação. O futuro do futebol brasileiro está mais na caneta dos dirigentes do que no pé dos atacantes. Uma caneta pesada em que realmente haja esse avanço na gestão”, frisou.
Precisamos de menos paixão e mais razão em nossos dirigentes, que precisam de educação e de formação. O futuro do futebol brasileiro está mais na caneta dos dirigentes do que no pé dos atacantes"
Mauro Silva, ex-atleta e vice-presidente da Federação Paulista de Futebol
Ao fim, Mauro Silva ainda ressaltou a importância do papel social que os clubes de futebol têm e, nesse sentido, lembrou como o Guarani de Campinas foi fundamental para sua formação dentro e fora dos campos. “Eu falo com conforto sobre a questão do impacto social que o futebol traz para o atleta porque essa transformação aconteceu na minha vida, através do Guarani de Campinas”, disse Mauro Silva.
“Era um clube que tinha um processo de formação integral, com foco no desenvolvimento humano. O Guarani me colocou no colégio particular, pagou curso de inglês, e eu não teria ficado de jeito nenhum 11 anos na Seleção, 13 anos na Europa, muito menos estaria na Federação Paulista se não fosse pelo Guarani. O papel do clube é educar esses jovens que estão nas categorias de base. Como o clube contribui para a sociedade? Contribui educando o melhor que puder esses atletas e esses jovens”, frisou o campeão da Copa de 1994, que ainda falou sobre o trabalho que a Federação Paulista de Futebol realiza para desenvolver o futebol feminino.
“Nós criamos dentro da Federação o primeiro departamento de futebol feminino do Brasil. Contratamos a Aline Pellegrino (prata com a Seleção nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e vice-campeã da Copa do Mundo da China em 2007) na época como coordenadora, hoje ela já é diretora e está fazendo um trabalho incrível. A gente está entrando no fomento. Criamos a competição sub-20, Sub-17 e nossa ideia é ter uma competição Sub-15. O licenciamento de clubes da CBF exige que os clubes da Série A tenham futebol feminino, o que vai ajudar no desenvolvimento. O futebol feminino tem muito a crescer e aí a gente corrige uma injustiça histórica de 40 anos de proibição de as mulheres jogarem futebol no Brasil. Hoje estamos tentando fomentar muito isso com as escolinhas e com os clubes sociais”, destacou Mauro Silva.
Finanças
O próximo a conduzir a discussão foi Pedro Daniel. O executivo da Ernst & Young abordou aspectos financeiros do futebol nacional e apresentou um levantamento detalhado das finanças dos 20 principais clubes do futebol brasileiro em 2019, de acordo com o ranking da CBF. Juntos, eles somam mais de R$ 6 bilhões em receita, o que representa um crescimento de 17% em relação a 2018.
“A gente consegue ver, no período de 2010 para cá, um crescimento sustentável no sentido de aumento de receita, muito advindo dos direitos de transmissão, que ainda são a maior fonte de receita do futebol brasileiro. E vem crescendo bastante a venda de atletas. O ano de 2019 foi o recorde absoluto em termos de receita com transferência de atletas”, pontuou Pedro Daniel.
O futebol brasileiro apresentou 284% de crescimento total de receitas entre 2010 e 2019, 131% a mais que a inflação do período. Entretanto, o endividamento líquido dos clubes em 2019 chegou a R$ 8,3 bilhões, 15% a mais em relação a 2018. O déficit total dos clubes em 2019 foi de R$ 621 milhões e 10 clubes apresentaram déficits no ano passado.
Pedro Daniel também abordou os impactos do Covid-19 nos diversos aspectos relativos às receitas do futebol nacional e traçou um panorama. “A gente imagina que em 2020 esse cenário de faturamento de R$ 6 bilhões deve cair para algo entre R$ 4 bilhões e R$ 4,6 bilhões, uma redução entre 22% e 32%, o que é muito forte. Vamos voltar, na verdade, a um patamar de quatro ou cinco anos. A gente vai retroceder em termos de receita”, projeta o executivo.
APFUT
O terceiro palestrante foi Thiago Froes, que apresentou a missão da Autoridade Pública de Governança do Futebol – APFUT e discorreu sobre o Programa de Modernização da Gestão e Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro (PROFUT), criado em agosto de 2015 para instituir parcelamentos especiais para a recuperação de dívidas de entidades esportivas com a União, na maioria clubes de futebol.
Com o Profut, a gente diminuiu o agravamento do déficit e de gestões temerárias, aumentando a transparência dentro das entidades esportivas"
Thiago Froes, presidente da Apfut
Thiago lembrou que quando o PROFUT foi instituído, a dívida pública dessas entidades esportivas com a União chegava a algo próximo de R$ 2 bilhões. “Na verdade, a dívida era superior a isso. Dois bilhões é o que foi refinanciado efetivamente para os clubes. Esse refinanciamento foi feito com o objetivo de estimular políticas e práticas de governança sustentáveis para reestabelecer o crédito do mercado. Com isso, a gente diminuiu o agravamento do déficit e de gestões temerárias, aumentando a transparência dentro das entidades esportivas”, pontuou o presidente da APFUT, que ressaltou que a missão da APFUT é supervisionar, fiscalizar e regulamentar o PROFUT, visando a sustentabilidade dessas entidades no longo prazo.
Thiago ainda falou sobre a formação do plenário da APFUT, um comitê não remunerado de assessoramento, formado por um colegiado de profissionais selecionados de diferentes setores do mercado do futebol e representantes do Governo Federal. Os nomes dos integrantes foram publicados no Diário Oficial da União nesta segunda-feira (27.07), por meio da Portaria nº 29.
Entre eles estão o “xerife” Ricardo Rocha, tetracampeão mundial com a Seleção Brasileira na Copa de 1994; Anderson Luiz de Souza, o Deco, ex-jogador da Seleção Portuguesa, bicampeão brasileiro e bicampeão da Liga dos Campeões da Europa; os técnicos Dorival Jr e Vagner Mancini; o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani; o presidente do Fortaleza, Marcelo Paz; além dos ex-árbitros da FIFA Renato Marsiglia e Gutemberg de Paula Fonseca e dos dois palestrantes desta webinar, Thiago Scuro e Pedro Daniel.
“Tenho total tranquilidade em relação aos nomes que a gente chamou. Temos pessoas que pensam no coletivo e vão fazer um debate produtivo em torno do bem comum do futebol. Tenho a expectativa de realizar a primeira reunião em setembro”, adiantou Thiago Froes
Gestão
Por último, Thiago Scuro falou sobre sua experiência à frente do Red Bull/Bragantino FC e detalhou, entre outros temas, o perfil dos profissionais que hoje atuam no futebol brasileiro.
Segundo o dirigente, o mercado do futebol busca cada vez mais profissionais com domínio em áreas como marketing, gestão, business e legislação, além, é claro, de pessoas com conhecimento técnico e com vivência esportiva. “É uma indústria que vem se profissionalizando. Os clubes estão cada vez mais abrindo espaço para profissionais com formação, conhecimento, experiência. É um negócio que exige um nível de dedicação diferente de outros mundos. Acabam os finais de semana, acabam os feriados e então o nível de exigência e a disponibilidade para o trabalho precisam ser bastante intensos”, destacou.
Isso tudo, segundo Thiago Scuro, se reflete cada vez mais no que os times apresentam em campo. “Acredito na qualidade do jogo como instrumento de modificação dessa indústria. O jogo é o que vai possibilitar que nossa liga seja mais valorizada, que nossos atletas tenham um valor maior, que o espetáculo seja mais atrativo e que o público brasileiro se conecte ainda mais com o futebol brasileiro”, ressaltou o dirigente, que explicou ainda que o investimento nas categorias de base e na formação de atletas é uma das principais preocupações do Red Bull/Bragantino FC.
Mais dois webinares
Com as palestras desta terça-feira, a série de Webinares em Políticas Públicas para o Futebol, promovida pela SNFDT, já realizou oito das dez webinares previstas em sua programação. Até o dia 11 de agosto, outras duas webinares serão realizadas para discutir os seguintes temas:
» 04.08 – Legado dos Megaeventos Esportivos: As Arenas
» 11.08 – Políticas Públicas para o Futebol: Ações da SNFDT
A série foi aberta em 9 de junho, com o tema “Futebol de Mulheres no Brasil: Desafios e Sugestões”, e, nas semanas seguintes, explorou os temas “Formação Humana e Formação de Futebolistas”, “O Ensino do Futebol e Futsal”, “Futebol e Futsal nos Projetos Sociais”, “Aspectos físicos do ensino e treinamento no futebol e futsal” e “O Torcedor Antes e Depois do Covid-19”, tema do webinar da semana passada.
Os Webinares da série Políticas públicas para o Futebol são abertos ao público, que pode interagir com os palestrantes e fazer perguntas e comentários. A SNFDT emite certificado para os participantes em todas as palestras.
As inscrições podem ser feitas aqui.
Quem tiver dúvidas pode enviar e-mail para snfdt@cidadania.gov.br.
Luiz Roberto Magalhães - Diretoria de Comunicação - Ministério da Cidadania