A transição energética no Brasil
O que é transição energética?
O conceito de transição energética está associado ao processo de substituição da base de recursos e/ou tecnologias usada para gerar energia por outros(as). Esse processo pode ocorrer por diversas razões, como a escassez de um recurso energético ou o aparecimento de tecnologias mais eficientes.
A transição energética que vivemos hoje tem a emergência climática como principal impulso motivador. Estamos passando por transformações em direção a uma economia centrada em processos de produção e consumo de energia com menor emissão de gases de efeito estufa (GEE). Essas transformações passam pela expansão das fontes renováveis de geração de energia elétrica e pelo uso mais frequente de combustíveis e de vetores energéticos com menor emissão de GEE. Em verdade, é um processo de profunda transformação da infraestrutura e do uso da energia em diversos setores e atividades e representa uma reformulação do nosso modelo de desenvolvimento e da nossa inserção global.
O setor elétrico é o grande protagonista global no contexto da transição energética, desempenhando um papel central no esforço de descarbonização. Isso ocorre porque as tecnologias de energia renovável foram desenvolvidas em escala inicialmente nesse setor, o que levou à estratégia de descarbonizá-lo primeiro para, em seguida, eletrificar outros setores, como transporte e indústria e, assim, alcançar também a descarbonização.
A transição energética no setor elétrico do Brasil
No Brasil, a Resolução Normativa nº 5, de 2024, do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), define transição energética como um “processo de transformação da infraestrutura, da produção e do consumo de energia pelos diferentes setores, visando contribuir para a neutralidade das emissões líquidas de GEE do País”.
A matriz elétrica do Brasil já é renovável e baseada em fonte com baixa emissão de GEE. No entanto, essa transição apresenta uma série de desafios e pressões que estão transformando o setor elétrico, tanto na oferta quanto na demanda.
Do lado da oferta, o setor está se tornando mais dinâmico e diversificado, incorporando tecnologias como geração renovável, armazenamento de energia e redes inteligentes. Isso demanda novos mecanismos de planejamento e operação, incluindo a definição de indicadores de flexibilidade para lidar com a intermitência das fontes renováveis e a variabilidade climática.
Ao mesmo tempo, do lado da demanda, segundo o relatório World Energy Outlook 2024, da Agência Internacional de Energia (AIE), até 2035, é esperado que o mundo adicione, a cada ano, o valor equivalente às necessidades de energia elétrica do Japão (909 terawatts-hora).
Essa demanda está crescendo por uma série de fatores, como o maior uso de ar-condicionado em países que enfrentam ondas de calor cada vez mais intensas, o alto consumo de energia em data centers, a construção de novas fábricas e a adoção de veículos elétricos. Ainda, a crescente eletrificação de setores como transporte e edificações está mudando o perfil de consumo, com novas cargas descentralizadas e dinâmicas, como veículos elétricos, que tornam o consumo menos previsível e mais difícil de gerenciar.
Além disso, os eventos climáticos extremos, agravados pelas mudanças climáticas, também geram estresse em toda a estrutura do setor. Tempestades, secas e ondas de calor exigem que o sistema seja mais resiliente, enquanto tornam menos confiáveis as fontes renováveis e reduzem a eficiência de usinas térmicas.
Tudo isso ocorre enquanto o setor elétrico é chamado a desempenhar um papel central na transição energética, ampliando sua responsabilidade e pressão, em um momento de profundas transformações.