Irrigação
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Importância da Irrigação
- Desenvolvimento Regional: geração de emprego e renda em regiões propícias à intensificação da produção ou limitadas pela escassez de chuva. A agricultura irrigada fortalece cadeias produtivas, dinamiza economias locais e regionais e gera empregos diretos e indiretos ao longo de todo o ciclo produtivo.
- Segurança alimentar e de bioenergia: diversificação alimentar;
- Diminuição da pressão sobre novas fronteiras agrícolas e áreas vegetadas: aumento de produtividade na mesma área;
- Mitigação de gases de efeito estufa (GEE): menor emissão de CO2: menor emissão de CO2 por kg de produto.
- Intensificação sustentável da produção: Ao elevar a produtividade em áreas já abertas, a irrigação reduz a pressão por expansão agrícola e contribui para conservação ambiental.
- Fortalecimento da segurança hídrica no setor agropecuário: A irrigação, quando integrada à gestão de recursos hídricos, contribui para uso racional da água em bacias hidrográficas e melhor planejamento hídrico.
- Redução dos riscos climáticos: A irrigação atua como instrumento de adaptação às mudanças climáticas, oferecendo previsibilidade ao produtor e reduzindo perdas causadas por variabilidade climática.
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Falácias sobre a irrigação
A irrigação desempenha papel estratégico na segurança alimentar, na estabilidade da produção agrícola e no desenvolvimento regional. Contudo, diversos equívocos persistem no debate público sobre sua adoção e seus impactos. A seguir, apresentam-se as principais falácias relacionadas à agricultura irrigada, acompanhadas de breves esclarecimentos técnicos.
1. “Irrigação desperdiça água”
Falácia: Supõe-se que irrigar sempre aumenta o consumo hídrico.
Realidade: Sistemas bem projetados (gotejamento, pivô central, automatização) aumentam a eficiência, reduzindo perdas por evaporação e percolação. Em muitos casos, usar irrigação é mais eficiente do que depender exclusivamente da chuva.A ideia de que a irrigação necessariamente aumenta o desperdício hídrico é equivocada. Tecnologias modernas, como gotejamento, irrigação pressurizada e sistemas automatizados, elevam a eficiência no uso da água e reduzem perdas por evaporação e percolação.
2. “Toda irrigação causa degradação ambiental”
Falácia: Irrigação é automaticamente associada à salinização, erosão e contaminação.
Realidade: Problemas ambientais surgem de má gestão, não da irrigação em si. Boas práticas conservacionistas, manejo integrado e monitoramento de solo e água evitam impactos negativos.Problemas ambientais associados à irrigação — como salinização e erosão — decorrem de manejo inadequado. Quando realizada de forma planejada, com monitoramento de solo e água, a irrigação é compatível com práticas conservacionistas e com a sustentabilidade ambiental.
3. “Água para irrigação compete diretamente com água para uso humano”
Falácia: A irrigação “desvia” água que seria usada pela população.
Realidade: O uso agrícola normalmente ocorre em bacias com volumes planejados para múltiplos usos, e existe regulação (outorga). Além disso, a eficiência no campo evita conflitos.A irrigação utiliza, predominantemente, água bruta proveniente de fontes específicas e reguladas por outorga. O uso agrícola é planejado de forma integrada com outros usos múltiplos da bacia hidrográfica, evitando conflitos de alocação.
4. “Áreas irrigadas sempre aumentam o desmatamento”
Falácia: A expansão da irrigação é sinônimo de derrubar novas áreas.
Realidade: A irrigação frequentemente é usada justamente para intensificar a produção em áreas já abertas, reduzindo a pressão por expansão horizontal.A irrigação frequentemente tem o papel de intensificar a produção em áreas já consolidadas, reduzindo a necessidade de abertura de novas áreas para cultivo.
5. “Agricultura irrigada é só para grandes produtores”
Falácia: Irrigação seria economicamente viável apenas em grandes propriedades.
Realidade: Hoje existe uma gama de tecnologias acessíveis para pequenos e médios produtores, como kits de gotejamento, microaspersão e sistemas de baixo custo. O avanço tecnológico e a diversidade de sistemas disponíveis permitem a adoção da irrigação por pequenos e médios agricultores, com soluções de baixo custo e escaláveis.6. “Irrigação usa água potável”
Falácia: A água usada seria a mesma destinada ao consumo doméstico.
Realidade: A irrigação utiliza principalmente água bruta, não tratada, e muitas vezes proveniente de fontes específicas (canais, rios, poços, reservatórios).7. “A irrigação resolve todos os problemas de produtividade”
Falácia: Basta irrigar que a produção aumenta automaticamente.
Realidade: Sem manejo adequado de fertilidade, variedade, solo, clima e pragas, a irrigação não garante produtividade.8. “Basta instalar o equipamento; não é preciso manejo”
Falácia: Irrigação é totalmente automatizada e exige baixo acompanhamento.
Realidade: É necessário monitorar lâmina, turno de rega, evapotranspiração, qualidade da água, manutenção e calibração. A irrigação exige operação contínua, com avaliação de evapotranspiração, lâmina aplicada, turno de rega e manutenção do equipamento. O desempenho do sistema depende de gestão ativa.9. “Água aplicada = água consumida”
Falácia: Todo o volume irrigado seria perdido.
Realidade: Parte significativa retorna ao sistema hídrico por recarga de aquífero e drenagem superficial. Parte do volume retorna à bacia por recarga de aquíferos, drenagem e percolação, integrando o ciclo hidrológico.10. “Irrigação é incompatível com sustentabilidade”
Falácia: Irrigação e sustentabilidade seriam opostas.
Realidade: Irrigação bem manejada aumenta a eficiência do uso da água, reduz perdas de produção e permite maior segurança alimentar, sendo compatível com práticas de conservação. -
Irrigação e o sequestro de carbono
O armazenamento de dióxido de carbono no solo é essencial para a mitigação das mudanças climáticas e para o fortalecimento da resiliência dos sistemas produtivos. Ao aumentar o teor de carbono orgânico, o solo passa a atuar como um reservatório natural capaz de remover CO₂ da atmosfera, reduzindo a concentração de gases de efeito estufa. Esse processo também melhora a estrutura e a fertilidade do solo, ampliando sua capacidade de retenção de água, diminuindo a erosão e favorecendo a produtividade agrícola. Além disso, solos mais ricos em carbono contribuem para sistemas agropecuários mais sustentáveis, fortalecendo práticas conservacionistas e reduzindo vulnerabilidades diante de eventos climáticos extremos. Por essas razões, o sequestro de carbono no solo é reconhecido mundialmente como uma das estratégias mais eficazes, econômicas e de longo prazo para promover segurança climática e alimentar.
A irrigação contribui de forma significativa para a mitigação climática ao favorecer o aumento do sequestro de carbono no solo e na biomassa vegetal. Diversos estudos brasileiros mostram que a irrigação, quando associada ao manejo adequado, eleva o acúmulo de carbono orgânico no solo (COS) por ampliar a produção de biomassa e estimular sistemas mais intensivos. Estudos conduzidos pela Embrapa e instituições federais de pesquisa demonstram que áreas agrícolas irrigadas podem apresentar entre 10% e 25% mais carbono orgânico no solo do que áreas de sequeiro, devido ao maior crescimento radicular e ao aporte contínuo de resíduos vegetais. Em cultivos irrigados de fruticultura no Vale do São Francisco, os incrementos chegam a 0,4 a 0,7 tonelada de carbono por hectare ao ano, resultado da maior produção de biomassa proporcionada pela estabilidade hídrica.
Sistemas rotacionados irrigados também registram acúmulos expressivos, chegando a 2 toneladas adicionais de carbono por hectare após cinco anos. Esses dados reforçam que a irrigação, quando associada a práticas conservacionistas, fortalece a resiliência dos sistemas produtivos e contribui diretamente para a redução dos riscos climáticos. Pesquisas com pastagens de capim-Tifton irrigadas no Nordeste registram incrementos de 15% a 30% no carbono armazenado no solo em comparação com pastagens não irrigadas. A razão: irrigação aumenta o número de cortes, o volume radicular e a densidade de biomassa, ampliando o retorno de carbono ao solo.
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Irrigação e o PIB
O Brasil possui um dos maiores potenciais de irrigação do mundo, e sua expansão está diretamente relacionada ao aumento do PIB. A irrigação eleva a produtividade agrícola, reduz perdas associadas à variabilidade climática e permite o cultivo de espécies de maior valor agregado ao longo de todo o ano, ampliando a oferta interna e o volume exportado. Estudos setoriais mostram que áreas irrigadas podem produzir de duas a três vezes mais que sistemas de sequeiro, o que incrementa o valor bruto da produção e impulsiona as cadeias de processamento, logística e serviços. Além disso, polos irrigados geram empregos formais, fortalecem economias regionais e atraem novos investimentos, aumentando a participação do agronegócio na formação do PIB. Assim, o aproveitamento do potencial brasileiro de irrigação representa um vetor econômico capaz de ampliar a competitividade nacional e de contribuir de forma decisiva para o crescimento sustentável do país.
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Curiosidades da Irrigação
Área irrigada no País
O Brasil possui aproximadamente 8,2 milhões de hectares equipados para irrigação, segundo o Atlas Irrigação – Uso da Água na Agricultura Irrigada, publicado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). Esse dado representa a área que dispõe de infraestrutura instalada, ainda que o uso efetivo possa variar conforme a cultura, a estação do ano e as condições de disponibilidade hídrica.
Cerca de 64% das áreas utilizam água de mananciais superficiais, como rios, açudes e reservatórios.
Os demais 35% operam com sistemas de fertirrigação e reuso, conforme informações do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH).
Crescimento dos sistemas de irrigação
A irrigação por pivô central é um dos segmentos que mais crescem no País. Levantamento recente da Embrapa, com base em imagens de satélite, indica que o Brasil alcançou em 2024 aproximadamente 2,2 milhões de hectares irrigados por pivôs centrais, um aumento superior a 14% em relação a 2022.
A maior parte desses equipamentos está localizada no bioma Cerrado, com destaque para o Oeste da Bahia, região que se consolidou como um dos principais polos irrigados do País.
Potencial de expansão
Estudos realizados pela ANA e pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) indicam que o Brasil possui potencial irrigável de até 55 milhões de hectares. Esse potencial considera disponibilidade de água, características do solo, clima e condições estruturais. A ampliação da área irrigada depende do planejamento integrado das bacias hidrográficas e do cumprimento das normas ambientais.
Diversidade de sistemas e culturas
O País utiliza diferentes sistemas de irrigação, adaptados às condições regionais e às necessidades dos produtores:
- Pivô central
- Aspersão
- Gotejamento
- Microaspersão
A irrigação abrange culturas como arroz, frutas, hortaliças, grãos, cana-de-açúcar e pastagens irrigadas, reforçando a importância da atividade tanto para grandes empreendedores rurais quanto para a agricultura familiar.
MATOPIBA
O MATOPIBA — região formada por partes do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — é reconhecido como uma das principais fronteiras agrícolas do Brasil e apresenta características únicas relacionadas à irrigação. A região destaca-se por ser uma das áreas de maior expansão recente de pivôs centrais, em especial no Oeste da Bahia.
- A irrigação permite a realização de duas safras e uma safrinha adicional, elevando a eficiência agrícola e garantindo estabilidade mesmo em períodos de estiagem.
- Forte adoção de tecnologias avançadas:
- Sensores de umidade do solo
- Automação de sistemas
- Monitoramento remoto
- Uso integrado de dados climáticos
Essas práticas contribuem para elevar a eficiência na gestão da água e fortalecer o desenvolvimento rural sustentável em uma região estratégica para a expansão da agricultura brasileira.
Importância estratégica
- A expansão sustentável da agricultura irrigada contribui para:
- O abastecimento interno
- Fortalecimento do agronegócio exportador
- Desenvolvimento regional
- Maior resiliência diante de eventos climáticos extremos
A gestão integrada dos recursos hídricos, aliada ao uso de tecnologias eficientes, permanece como prioridade para garantir a sustentabilidade da irrigação no Brasil.
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Importância da Irrigação