Notícias
Investimento nos ativos intangíveis cresce no Brasil e amplia participação no PIB, mas ainda é pouco refletido nas estatísticas oficiais
Em tempos de economia do conhecimento, os chamados ativos intangíveis, incluindo aspectos como pesquisa e desenvolvimento, marcas, softwares, desenhos industriais e capital humano qualificado, são os principais elementos do crescimento econômico e da vantagem competitiva das empresas, assumindo papel estratégico em relação aos ativos físicos. Diante dessa tendência global, o Brasil precisa avançar nessa área, mas a boa notícia é que o investimento intangível no país está crescendo em ritmo mais acelerado que o tangível e ampliando sua participação no PIB nacional, embora ainda não seja bem refletido nas estatísticas oficiais.
É o que mostra o estudo O Brasil no Cenário Global de Investimentos Intangíveis, lançado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) nesta quarta-feira, dia 9 de julho. O trabalho complementa o relatório World Intangible Investment Highlights (WIIH) 2025, divulgado na mesma data pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI) em parceria com a universidade italiana Luiss Business School, durante a Assembleia Geral da OMPI - o evento contou com a participação do presidente do INPI, Júlio César Moreira. O relatório, que abrange 27 economias de renda alta e média (mais da metade do PIB global em 2024), contou com a participação do INPI para incluir, pela primeira vez, dados do Brasil.
Nesse sentido, o estudo do INPI aprofunda a análise sobre a posição do país frente às economias líderes nessa nova fronteira de investimentos, evidenciando desafios estruturais e destacando oportunidades estratégicas.
Crescente participação no PIB
Em seu estudo, o INPI analisou a inserção brasileira nas tendências principais observadas no relatório da OMPI. Entre elas, destacam-se dois aspectos: o investimento intangível no país cresceu 2% ao ano entre 2010 e 2021, em ritmo superior ao tangível, que recuou numa média de 0,8% por ano nesse período; e a contribuição dos investimentos intangíveis no PIB nacional cresceu nos últimos 20 anos e alcançou 8,5%, superando a participação de setores econômicos tradicionais, como a agropecuária (7,7%) e a indústria extrativa mineral (5,5%).
Resiliência a crises
Outro aspecto importante é que os investimentos intangíveis se mostraram resilientes a crises, registrando crescimento de 23% entre 2020 e 2024, ou seja, desde a pandemia, enquanto os tangíveis tiveram aumento marginal. No Brasil, enquanto o investimento em máquinas, equipamentos e ativos imobiliários estagnou, as empresas continuaram investindo em P&D, softwares, dados e recursos organizacionais, aponta o INPI.
Comparação internacional
Na comparação internacional, o Brasil também apresenta desempenho expressivo: o investimento em intangíveis atingiu níveis superiores a Espanha, Holanda e Suécia, atingindo US$ 244 bilhões em 2021, levemente inferior ao da Itália. Os Estados Unidos mantêm liderança absoluta no ranking global, com níveis de investimento intangível superiores à soma de França, Alemanha, Japão e Reino Unido, alcançando US$ 4,7 trilhões em 2024.
Investimento em marcas
Entre as categorias de ativos intangíveis, o Brasil se destaca em relação aos demais países no campo das marcas, que respondem por 25% do investimento intangível total no país. No cenário global, a categoria de software e bancos de dados foi a que registrou crescimento nominal mais rápido entre 2013 e 2022, expandindo-se a uma taxa média de 7% ao ano, o que reforça a importância do investimento em inteligência artificial e outras ferramentas digitais.
Complementaridade
Outro desafio essencial para o Brasil é a complementaridade necessária entre os investimentos tangíveis e intangíveis, pois, conforme mencionado anteriormente, o capital tangível teve recuo no período analisado no Brasil, ao contrário dos outros países avaliados pela OMPI. Mesmo em ritmo menor que o intangível, é necessário que o investimento tangível tenha variação positiva para sustentar o desenvolvimento, conforme destaca o INPI.
Invisibilidade nas estatísticas
Embora a temática esteja assumindo importância crescente, cabe ressaltar que mais de 60% dos investimentos em ativos intangíveis seguem invisíveis nas estatísticas oficiais de 27 economias, incluindo o Brasil. No caso brasileiro, estima-se que R$ 498 bilhões em investimentos intangíveis fiquem fora do cálculo do PIB, o equivalente a 5,5% da economia nacional. Se devidamente incorporados, esses ativos poderiam elevar a taxa oficial de investimento do Brasil de 17,9% para 23% do PIB, revelando uma realidade econômica mais sofisticada e orientada ao conhecimento do que os dados oficiais atualmente refletem.
De modo geral, pode-se afirmar que os resultados indicam que a economia brasileira já está fortemente ancorada em ativos baseados no conhecimento, o que exige uma guinada estratégica rumo a políticas que incentivem o investimento de longo prazo e a transformação estrutural, ampliando a produtividade e a estabilidade econômica. Nesse novo cenário, a propriedade intelectual desponta como ferramenta essencial para valorizar os ativos intangíveis e aproximar o Brasil dos padrões das economias mais avançadas.
Confira o estudo O Brasil no Cenário Global de Investimentos Intangíveis.
Acesse também o World Intangible Investment Highlights (WIIH) 2025.