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INPI reconhece a primeira DO paranaense para café
O INPI publicou na Revista da Propriedade Industrial (RPI) 2843, de 01 de julho de 2025, a concessão da Indicação Geográfica Mandaguari, da espécie Denominação de Origem (DO), para o café produzido em seis munícipios localizados no estado do Paraná. Com essa concessão, o INPI chega a 147 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 106 IPs (todas nacionais) e 41 Denominações de Origem - DOs (31 nacionais e 10 estrangeiras).
O café de Mandaguari
Os seis municípios que compõem a delimitação da DO Mandaguari — Apucarana, Arapongas, Cambira, Jandaia do Sul, Mandaguari e Marialva, todos no estado do Paraná — compartilham uma combinação de características sociais, culturais, históricas e institucionais que formam a identidade dessa região. São centenas de produtores de café em terrenos de declividade acentuada, com milhares de propriedades de agricultores de base familiar. O saber-fazer é transmitido de geração em geração, aliado a orientações de assistência técnica que reforçam o manejo sustentável.
O cultivo acontece em lavouras situadas, em sua maioria, acima de 600 metros de altitude e com faces ensolaradas. A temperatura média anual varia de 15º a 28 ºC. A altitude favorece um clima ideal para o café: invernos frios e secos, verões quentes e úmidos. Essas condições permitem que os grãos amadureçam de forma mais lenta e equilibrada, garantindo alta doçura na mucilagem e sabores complexos e distintos.
O solo de Mandaguari é de terra roxa, extremamente fértil, com coloração roxo-avermelhada devido à presença de minerais vindos da decomposição de rochas de arenito-basáltico, principalmente o ferro. Outro diferencial é a ausência ou pequena presença de leveduras e bactérias como Kurtzmaniella, Levilactobacillus brevis, Lactiplantibacillus, Lactococcus, Sphingomonas e Acetobacter orientalis, microrganismos que podem fermentar rapidamente, alterar a qualidade sensorial e produzir ácidos indesejáveis. No café de Mandaguari, a baixa atuação desses microrganismos faz com que os açúcares naturais não sejam degradados e possam caramelizar durante a torra.
As práticas de cultivo são cuidadosas e sustentáveis: escolha de variedades adequadas para cada localidade, separação das lavouras em talhões identificados e colheita seletiva apenas dos frutos maduros, seja na peneira, no pano ou com máquinas agrícolas que separam impurezas antes do processamento. A secagem é feita em terreiros suspensos de concreto, com trabalho intenso de rodagem do café, realizado em parte por mulheres, de 6 a 10 vezes por dia, mantendo os lotes separados. A colheita ocorre de abril a agosto, período em que as baixas temperaturas auxiliam na secagem, reduzindo a ocorrência de fermentações negativas que prejudicam a qualidade.
A produção, voltada para café de alta qualidade, é torrada artesanalmente por especialistas locais, garantindo uma bebida fresca, de sabor intenso e adocicado, com notas de caramelo como característica sensorial marcante.
A Denominação de Origem
A DO Mandaguari foi concedida porque a região reúne fatores naturais — relevo, altitude, clima e solo fértil — e fatores humanos — tradição, sucessão familiar, técnicas de cultivo específicas, colheita seletiva e processamento cuidadoso — que, juntos, criam um produto com identidade única. O conjunto dessas condições sociais, culturais, históricas, institucionais e ambientais resulta em um café com qualidades sensoriais especiais, diretamente ligadas ao local de origem, o que garante o reconhecimento e a proteção da DO.