Confusão de pista

O que é confusão de pista?

Confusão de pista, runway confusion na literatura em inglês, é a ocorrência do uso indevido não intencional de uma pista de pouso e decolagem ou pista de táxi para a realização de operações de pouso ou decolagem.

Exemplo: um piloto é autorizado a pousar numa pista, mas se confunde e realiza a operação na pista paralela, ou mesmo numa pista de táxi.

Por que isso é um problema?

Os eventos de confusão de pista são geralmente precursores de severas ocorrências como incursão em pista, colisão entre aeronaves ou entre aeronaves e veículos ou equipamentos de obras.

Uma confusão de pista pode também causar grave acidente aeronáutico quando o pouso ou a decolagem equivocadamente ocorre em pista mais curta do que a designada, mesmo que essa esteja livre durante a operação.

Acidentes ou incidentes ocorridos como consequência de confusão de pista:

• Changi, Singapura, 2000 – Singapore Airlines Flight 006 (clique no link para acessar) 
• Lexington, Kentucky, 2006 – Comair Flight 5191 (clique no link para acessar) 
• Guarulhos, São Paulo, 2006 – TAP Portugal 197 (clique no link para acessar) 

Quais as situações de maior riscos?

As seguintes situações oferecem risco elevado de confusão de pista:

1. Aeroportos com pistas de pouso e decolagem paralelas muito próximas, ou pista de táxi paralela à pista de pouso e decolagem;
2. Aeroportos com pistas cruzadas, com cabeceiras muito próximas;
3. Aeroportos com uma única pista de taxi servindo a mais de uma cabeceira;
4. Uso de pista de pouso e decolagem como pista de taxi;
5. Realização de obras na área de manobras do aeroporto, com operações em curso.

O Relatório de Investigação do CENIPA no incidente aeronáutico envolvendo uma aeronave da TAP pousando na 27R do aeroporto internacional de São Paulo (SBGR) concluiu que um dos fatores contribuintes para o evento foi a intensa luminosidade ocasionada pela posição frontal do sol conjugada com a superfície molhada nas imediações da pista que provocaram o fenômeno de “espelhamento” da pista, o que prejudicou a visualização pelos pilotos da pista e dos auxílios visuais. A Figura 1 apresenta uma imagem do Google Earth do aeroporto internacional de São Paulo. O piloto do voo da TAP estava aproximando para pousar na 27R e pousou na pista de táxi paralela “B”.

Figura 1 – RWY 27R e TWY A e B em SBGR

Uma confusão de pista, quando em uma operação de pouso, pode ocorrer até em área fora do aeroporto. Uma avenida bem iluminada, paralela à pista, pode ser confundida, em operações visuais noturnas, com a pista designada para pouso. O Aeroporto de Aracaju, por exemplo, mantém o seguinte alerta no AIP-Brasil: Não confundir a RWY quando na APCH para a THR 11 com uma Avenida no seu alinhamento DIST APRX 1300M à direita da THR 11.
Durante as operações de decolagens, aeroportos com pistas muito próximas oferecem mais perigo. Por exemplo, no Aeroporto Internacional de Florianópolis, onde a pista 21 está muito próxima à pista 14, pode ser uma configuração que oferece um maior risco de confusão de pista. A Figura 2 apresenta o aeroporto internacional de Florianópolis.

Figura 2 – Cabeceiras 21 e 14 em SBFL

No entanto, cada operador deve avaliar o risco relativo a esse perigo, levando-se em conta as características físicas e operacionais de seu aeroporto. De todo modo, deve-se aumentar a vigilância quando da realização de obras com operações em curso e com visibilidade reduzida.

Como mitigar o risco no aeroporto?

Para mitigar o risco de ocorrência de confusão de pista, a área de manobras do aeródromo deve estar livre de situações que possam provocar erro do piloto e induzir ao uso de uma pista incorreta. Caso seja impossível afastar o perigo por meio de modificação da infraestrutura, deve-se mitigar o risco implementando medidas saneadoras adequadas.

Alguns exemplos de medidas mitigadoras que podem ser adotadas:

1. Quando da realização de obras na área de manobras, elaborar análise de risco considerando também a possibilidade de ocorrência de confusão de pista e adotar todas as medidas mitigadoras recomendadas no estudo;
2. Identificar e publicar os hot spots com explicação do perigo no local. Por exemplo: HS1 - quando autorizado a decolar pela RWY 14, cuidado para não alinhar equivocadamente pela RWY 21;
3. Fechar algumas pistas de táxi de acesso à cabeceira, quando houver muitos acessos à mesma cabeceira;
4. Cobrir placas de sinalização que possam induzir à confusão durante obras e serviços na área de manobras;
5. Implantar sinalização horizontal de informação e sinalização melhorada de eixo de pista de táxi, de modo a facilitar a consciência situacional na área de manobras.

Recomendações aos pilotos

Medidas e ações que podem ser tomadas pelos pilotos para reduzir o risco de ocorrência de confusão de pista: 

1. Prestar muita atenção nas autorizações de acesso à pista;
2. Cotejar sempre e por completo a autorização de acesso à pista. Por exemplo: autorizada decolagem pela dois oito da esquerda;
3. Durante aproximações não precisão ou visual, utilizar tempo suficiente no briefing da aproximação para confirmar a correta identificação da pista; 
4. Sempre que as condições permitirem, certificar-se cuidadosamente da identificação visual da pista antes de iniciar os procedimentos de pouso; 
5. Lembrar que o balizamento luminoso das pistas de pouso e decolagem é diferente do das pistas de taxi. A cor do balizamento permite distinguir pista de pouso e decolagem de pista de taxi.