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NOTA À IMPRENSA Nº 214
Segundo Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural - Declaração Final - Brasília, 19 a 23/5/2025.
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Segundo Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural
Declaração Final
Brasília, 19-23 de maio de 2025
1. Nós, representantes dos países africanos e da República Federativa do Brasil, reunidos em Brasília para o Segundo Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural, recordamos com apreço os resultados da primeira edição deste Diálogo, realizada em 2010.
2. Reconhecemos que, apesar de alguns avanços, muitos dos desafios identificados naquele momento permanecem sem solução. A fome persistente, a pobreza rural e as desigualdades estruturais continuam a afetar milhões de pessoas em nossas regiões, em um contexto agora agravado pelos impactos de mudança do clima, perda de biodiversidade, acidificação dos oceanos, crises de saúde pública, conflitos armados e erosão da arquitetura internacional de financiamento para o desenvolvimento. A persistente inflação alimentar e as frequentes altas dos preços dos alimentos são consequências desses desafios. Os povos da África e os afrodescendentes sofrem os maiores impactos das mudanças climáticas e das desigualdades estruturais.
3. Reconhecemos os laços históricos, culturais e ecológicos que conectam Brasil e África, bem como reafirmamos nosso compromisso de aprofundar nossa cooperação com base na solidariedade, na aprendizagem mútua, nas experiências compartilhadas e nos princípios da Cooperação Sul-Sul e Trilateral. Reafirmamos esses laços neste ano em que a União Africana declarou como seu tema “Justiça para os Africanos e Afrodescendentes por meio de Reparações” e foi proclamada pela ONU a Segunda Década Internacional para Pessoas Afrodescendentes.
4. Destacamos que a transformação dos sistemas alimentares deve estar centrada nas pessoas, ancorada no Direito Humano à Alimentação Adequada e na centralidade da agricultura familiar, particularmente no papel desempenhado pelas mulheres, jovens, comunidades tradicionais e locais e Povos Indígenas. Os sistemas alimentares sustentáveis devem garantir a produção e o consumo de alimentos nutritivos, e ao mesmo tempo gerar empregos e renda, salvaguardar a biodiversidade, proteger os ecossistemas e fortalecer a resiliência diante das crises globais, particularmente aquelas relacionadas a perturbações climáticas e ambientais, contribuindo assim para a soberania alimentar. Nesse sentido, a agricultura familiar surge não apenas como meio de produção de alimentos, mas também como pilar da soberania alimentar, da coesão social, da resiliência climática e do desenvolvimento inclusivo. Reafirmamos a importância estratégica da agricultura familiar, que produz a maior parte dos alimentos consumidos no Brasil e em muitos países africanos.
5. Congratulamos as ações empreendidas desde 2010 pelos países africanos e pelo Brasil, incluindo a expansão de programas institucionais de aquisição de alimentos, esquemas nacionais de alimentação escolar, apoio técnico às atividades de pesca e aquicultura sustentáveis e políticas públicas para promover a agricultura de pequenas propriedades, a agricultura familiar e o desenvolvimento rural. Reconhecemos as importantes contribuições da Embrapa, da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), da FAO, do PMA, do FIDA e de outras instituições nacionais e internacionais a nossos esforços conjuntos.
6. Saudamos o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza pelo Brasil durante sua Presidência do G20 em 2024 e destacamos o alinhamento desta iniciativa com os princípios e prioridades expressos durante este Diálogo. Saudamos o Reino de Essuatini, a República do Zimbábue, a República do Senegal e o Banco Africano de Desenvolvimento como novos membros da
Aliança. Encorajamos todos os países e instituições presentes a aderir à Aliança e a contribuir para a sua missão.
7. Expressamos forte apoio à Década da Agricultura Familiar da ONU (2019–2028) e ao trabalho coordenado pela FAO e FIDA para alavancá-la como uma plataforma estratégica para mobilizar recursos, alinhar esforços de cooperação internacional e promover planos de ação nacionais que apoiem o desenvolvimento rural sustentável e políticas inclusivas para pequenos agricultores e da agricultura familiar.
8. Destacamos o papel vital da pesca e da aquicultura sustentáveis para alcançar a segurança alimentar e nutricional no Brasil e na África, ao mesmo tempo em que apoiamos os meios de subsistência de milhões de pessoas. Estes setores são fundamentais para a Estratégia de Economia Azul da União Africana e para a Agenda 2063, as quais reconhecem os sistemas alimentares aquáticos como motores para o crescimento inclusivo, a resiliência climática e a redução da pobreza. Destacamos também o Roteiro de Transformação Azul da FAO como um guia útil para melhorar a sustentabilidade e maximizar a contribuição da pesca e aquicultura para o emprego, a diversificação econômica e a restauração dos ecossistemas.
9. Instamos uma colaboração ampliada em matéria de proteção ambiental, reflorestamento e gestão sustentável da terra e da água, em alinhamento com os princípios da Década das Nações Unidas da Restauração dos Ecossistemas. Apoiamos a integração de conhecimentos tradicionais e práticas comunitárias nas políticas de clima e biodiversidade, garantindo que agricultores familiares e pequenos agricultores – incluindo comunidades rurais e pesqueiras – sejam agentes e beneficiários de transições ambientais.
10. Pedimos às delegações da 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) que ampliem o acesso ao financiamento climático para comunidades pesqueiras, pequenos agricultores e agricultores familiares - especialmente mulheres, jovens e comunidades marginalizadas - protegendo-os de eventos tanto extremos quanto de início lento que ameacem os meios de subsistência e os mercados locais. As especificidades dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento devem ser levadas em consideração.
11. Reafirmamos a importância da Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD) e o compromisso dos países desenvolvidos em alcançar a meta de 0,7% do PIB. Reconhecemos os impedimentos ao crescimento em países de baixa e média renda e enfatizamos a necessidade de políticas coerentes e ferramentas práticas para enfrentar os desafios estruturais ao desenvolvimento sustentável. Instamos um progresso acelerado em iniciativas como a Cláusula de Dívida Resiliente ao Clima (CRDCs), trocas de dívida e outras inovações financeiras. Advogamos pela continuação das discussões sobre o papel dos Direitos de Saque Especiais (DSE), incluindo a possibilidade de novas emissões com melhor distribuição aos países menos desenvolvidos e a operacionalização da canalização dos DSEs através de Bancos Multilaterais de Desenvolvimento. Também incentivamos a ampliação do uso de financiamento combinado, ferramentas de melhoria de crédito e estruturas de capital de primeira perda.
12. Ressaltamos o fato de que o comércio internacional, bem como regional e local, desempenha um papel crucial no alívio da insegurança alimentar e desnutrição, na promoção do desenvolvimento econômico sustentável e na preservação e restauração ambientais, inclusive facilitando a movimentação de alimentos de regiões excedentes para regiões deficitárias, melhorando, assim, a disponibilidade de alimentos, promovendo o acesso e ajudando a estabilização de preços. Nesse sentido, enfatizamos a necessidade de garantir um sistema multilateral de comércio baseado em regras, não discriminatório, justo, aberto, inclusivo, equitativo e transparente, com a OMC em seu cerne.
13. Expressamos forte apoio ao fortalecimento da cooperação em pesquisa e inovação agrícolas para o desenvolvimento, inclusive por meio da Rede de Pesquisa e Inovação Brasil-África. Damos boas-vindas à criação de um programa de bolsas para pesquisadores africanos passarem um tempo em instituições brasileiras, e ao desenvolvimento de agendas conjuntas sobre saúde do solo, gestão da pesca e da aquicultura, adaptação climática a eventos extremos do tempo, práticas agroecológicas, culturas intercalares, sistemas agroflorestais, culturas de oportunidade, mecanização agrícola em pequena escala, produção animal, fornecimento de alimentos e agrotecnologias inclusivas. A cooperação em agroecologia, em conhecimento de base comunitária e em sistemas de sementes é essencial para preservar a diversidade genética, a restauração e regeneração do solo e para reconhecer devidamente os pequenos agricultores e agricultores familiares como agentes inovadores e guardiões da biodiversidade.
14. Encorajamos um maior investimento em esforços de integração regional e continental, particularmente em infraestrutura para produção de alimentos, reservas de alimentos, processamento e distribuição, acesso equitativo a financiamento e tecnologias climáticos e mecanismos que permitam a agregação e ampliação de programas comunitários e nacionais bem-sucedidos. Enfatizamos a importância de mecanismos de financiamento climático justos e previsíveis que atendam às necessidades específicas dos países em desenvolvimento e dos trabalhadores em sistemas agroalimentares.
15. Afirmamos a necessidade de promover a coerência e a visão de longo prazo nas parcerias internacionais com a África, priorizando programas que sejam controlados pelos países, inclusivos, adaptados às condições locais e fundamentados no Direito Humano à Alimentação Adequada. Incentivamos uma colaboração renovada entre instituições africanas e suas homólogas na América Latina e Caribe, para apoiar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Agenda 2063 da União Africana.
16. Expressamos nosso agradecimento ao Governo brasileiro por convocar este Diálogo e facilitar uma troca de perspectivas aberta, transparente e inclusiva. Reafirmamos nossa intenção de continuar este diálogo e traduzir nossa visão compartilhada em ações concretas que promovam a justiça social, a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento resiliente ao clima em benefício de nossos povos e gerações futuras.
Brasília, 19–23 de maio de 2025
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(Versão em Inglês)
Second Brazil-Africa Dialogue on Food Security, Fight Against Hunger and Rural Development
Final Statement
Brasília, 19-23 May 2025
1. We, representatives of African countries and the Federative Republic of Brazil, gathered in Brasília for the Second Brazil-Africa Dialogue on Food Security, the Fight Against Hunger and Rural Development, recall with appreciation the outcomes of the first edition of this Dialogue held in 2010.
2. We recognize that, despite some advances, many of the challenges identified at that time remain unresolved. Persistent hunger, rural poverty and structural inequalities continue to affect millions of people across our regions, in a context now compounded by the impacts of climate change, biodiversity loss, ocean acidification, public health crises, armed conflicts and the erosion of the international development financing architecture. Persistent food inflation and more frequent food price spikes are consequences of those challenges. People of Africa and Afrodescendants suffer the greatest impacts from climate changes and structural inequalities.
3. We acknowledge the historical, cultural and ecological ties that connect Brazil and Africa, and reaffirm our commitment to deepening our cooperation based on solidarity, mutual learning, shared experiences and the principles of South-South and Trilateral Cooperation. We reaffirm these ties in this year that the African Union has declared as its theme “Justice for Africans and People of African Descent through Reparations” and the proclamation of the UN’s Second International Decade for People of African Descent.
4. We underline that the transformation of food systems must be people-centered, anchored in the Human Right to Adequate Food and the centrality of family farming, particularly the role played by women, youth, local and traditional communities and Indigenous Peoples. Sustainable food systems must ensure the production and consumption of nutritious food while generating jobs and income, safeguarding biodiversity, protecting ecosystems, and strengthening resilience in the face of global crises, particularly those related to climate and environmental disruptions thus contributing to food sovereignty. In this regard, family farming emerges not only as a means of food production, but as a pillar of food sovereignty, social cohesion, climate resilience, and inclusive development. We reaffirm the strategic importance of family farming, which produces most of the food consumed domestically in Brazil and across many African countries.
5. We commend the actions undertaken since 2010 by African countries and Brazil, including the expansion of institutional food procurement programs, national school feeding schemes, technical support to sustainable fisheries and aquaculture activities, and public policies to promote smallholder, family farming and rural development. We recognize the important contributions of Embrapa, the Brazilian Cooperation Agency (ABC), FAO, WFP, IFAD and other national and international institutions to our joint efforts.
6. We welcome the launch of the Global Alliance Against Hunger and Poverty by Brazil during its G20 Presidency in 2024 and underline the alignment of this initiative with the principles and priorities expressed during this Dialogue. We welcome the Kingdom of Eswatini, the Republic of Zimbabwe, the Republic of Senegal and the African Development Bank as new members of the Alliance. We encourage all countries and institutions present to join the Alliance and to contribute to its mission.
7. We express strong support to the UN Decade of Family Farming (2019–2028) and to the work coordinated by FAO and IFAD to be leveraged as a strategic platform to mobilize resources, align international cooperation efforts, and promote national action plans that support sustainable rural development and inclusive smallholder and family farming policies.
8. We highlight the vital role of sustainable fisheries and aquaculture in achieving food security and nutrition in Brazil and Africa, while supporting the livelihoods of millions. These sectors are central to the African Union’s Blue Economy Strategy and Agenda 2063, which recognize aquatic food systems as engines for inclusive growth, climate resilience, and poverty reduction. We also underscore FAO’s Blue Transformation roadmap as a useful guide to enhance sustainability and maximize the contribution of fisheries and aquaculture to employment, economic diversification, and ecosystem restoration.
9. We call for expanded collaboration on environmental protection, reforestation, and sustainable land and water management, in alignment with the principles of the UN Decade on Ecosystem Restoration. We support the integration of traditional knowledge and community-based practices in climate and biodiversity policies, ensuring that family farmers and smallholders – including rural and fishing communities – are both agents and beneficiaries of environmental transitions.
10. We call on delegations to the 30th Conference of Parties of the United Nations Framework Convention on Climate Change (UNFCCC) to expand access to climate finance for fishing communities, smallholders and family farmers - especially women, youth, and marginalized communities - safeguarding them from both extreme and slow-onset events that threaten livelihoods and local markets. The specificities of Small Island Developing States must be taken into consideration.
11. We reaffirm the importance of official international assistance (ODA) and the commitment of developed countries to reaching the 0.7% GDP target. We acknowledge the impediments to growth in low- and middle-income countries and stress the need for coherent policies and practical tools to address structural challenges to sustainable development. We call for accelerated progress on initiatives such as Climate Resilient Debt Clause (CRDCs), debt swaps, and other financial innovations. We advocate for continued discussions on the role of Special Drawing
Rights (SDRs), including the possibility of new issuances with improved distribution to least developed countries and the operationalization of SDR channeling through Multilateral Development Banks. We also encourage scaling up the use of blended finance, credit enhancement tools, and first-loss capital structures.
12. We stress the fact that international, as well as regional and local trade, plays a crucial role in alleviating food insecurity and malnutrition, in fostering sustainable economic development, and environmental conservation and restoration, including by facilitating the movement of food from surplus to deficit regions, thereby improving food availability, promoting access, and helping to stabilize prices. In this regard, we emphasize the need to ensure a rules-based, non-discriminatory, fair, open, inclusive, equitable and transparent multilateral trading system, with the WTO at its core.
13. We express strong support for strengthening cooperation in agricultural research and innovation for development, including through the Brazil-Africa Research and Innovation Network. We welcome the creation of a fellowship program for African researchers to spend time in Brazilian institutions, and the development of joint agendas on soil health, fisheries and aquaculture management, climate adaptation to extreme weather events, agroecological practices, intercropping, agroforestry systems, opportunity crops, small-scale agricultural mechanization, animal production, food supply and inclusive agritechnologies. Cooperation in agroecology, community-based knowledge and seed systems is essential to preserving genetic diversity, soil restoration and regeneration, and duly recognizing smallholders and family farmers as innovators and guardians of biodiversity.
14. We encourage greater investment in regional and continental integration efforts, particularly in infrastructure for food production, food reserves, processing and distribution, equitable access to climate finance and technologies, and mechanisms that allow the aggregation and scaling-up of successful community and national programs. We emphasize the importance of fair and predictable climate financing mechanisms that meet the specific needs of developing countries and workers in agrifood systems.
15. We affirm the need to promote coherence and long-term vision in international partnerships with Africa, prioritizing programs that are country-led, inclusive, adapted to local conditions, and grounded in the Human Right to Food. We encourage renewed collaboration between African institutions and their counterparts in Latin America and the Caribbean, to support the 2030 Agenda for Sustainable Development and the Agenda 2063 of the African Union.
16. We express our appreciation to the Government of Brazil for convening this Dialogue and facilitating an open, transparent and inclusive exchange of perspectives. We reaffirm our intention to continue this dialogue and to translate our shared vision into concrete actions that promote social justice, environmental sustainability, and climate-resilient development for the benefit of our peoples and future generations.
Brasília, 19–23 May 2025
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(Versão em françês)
Deuxième Dialogue Brésil-Afrique sur la Sécurité Alimentaire, la Lutte contre la Faim et le Développement Rural
Déclaration Finale
Brasília, 19-23 mai 2025
1. Nous, les représentants des pays africains et de la République fédérative du Brésil, réunis à Brasilia pour le Deuxième Dialogue Brésil-Afrique sur la Sécurité Alimentaire, la Lutte contre la Faim et le Développement Rural, sommes ravis de rappeler les résultats de la première édition de ce Dialogue, tenue en 2010.
2. Nous reconnaissons que, malgré certains progrès, bon nombre des défis identifiés à l'époque ne sont toujours pas résolus. La faim persistante, la pauvreté rurale et les inégalités structurelles continuent de toucher des millions de personnes dans nos régions, dans un contexte désormais aggravé par les impacts du changement climatique, de la perte de biodiversité, de l'acidification des océans, des crises de santé publique, des conflits armés et de l'érosion de l'architecture internationale de financement du développement. L'inflation persistante des aliments et la plus fréquente hausse des prix alimentaires sont des conséquences de ces défis. Les peuples d’Afrique et les personnes d’ascendance africaine subissent les impacts les plus graves des changements climatiques et des inégalités structurelles.
3. Nous reconnaissons les liens historiques, culturels et écologiques qui unissent le Brésil et l'Afrique, et réaffirmons notre engagement à approfondir notre coopération fondée sur la solidarité, l'apprentissage mutuel, les expériences partagées et les principes de la coopération Sud-Sud et trilatérale. Nous réaffirmons ces liens en cette année où l’Union africaine a choisi pour thème «Justice pour les Africains et les personnes d’ascendance africaine par le biais des réparations» et où les Nations Unies ont proclamé la Deuxième Décennie internationale des personnes d’ascendance africaine.
4. Nous soulignons que la transformation des systèmes alimentaires doit être centrée sur les personnes, ancrée dans le droit humain à une alimentation adéquate et dans la centralité de l'agriculture familiale, en particulier le rôle joué par les femmes, la jeunesse, les communautés locales et traditionnelles et les peuples autochtones. Les systèmes alimentaires durables doivent assurer la production et la consommation d'aliments nutritifs, tout en générant des emplois et des revenus, en préservant la biodiversité, en protégeant les écosystèmes et en renforçant la résilience face aux crises mondiales, en particulier celles liées aux perturbations climatiques et environnementales, contribuant ainsi à la souveraineté alimentaire. À cet égard, l'agriculture familiale apparaît non seulement comme un moyen de production alimentaire, mais aussi comme un pilier de la souveraineté alimentaire, de la cohésion sociale, de la résilience climatique et du développement inclusif. Nous réaffirmons l'importance stratégique de l'agriculture familiale, qui produit la plupart des aliments consommés au Brésil et dans de nombreux pays africains.
5. Nous saluons les efforts entrepris depuis 2010 par les pays africains et le Brésil, notamment l'expansion des programmes institutionnels d'approvisionnement alimentaire, les programmes nationaux d'alimentation scolaire, le support technique aux activités de pêche et d'aquaculture durables et les politiques publiques visant à promouvoir les petits exploitants, l'agriculture familiale et le développement rural. Nous reconnaissons les contributions importantes à nos efforts conjoints venant de l'EMBRAPA, de l'Agence brésilienne de coopération (ABC), de la FAO, du PAM, du FIDA et d'autres institutions nationales et internationales.
6. Nous saluons le lancement de l'Alliance Mondiale contre la Faim et la Pauvreté, par le Brésil, lors de sa présidence du G20 en 2024, et soulignons l'alignement de cette initiative sur les principes et priorités exprimés au cours de ce Dialogue. Nous souhaitons la bienvenue au Royaume d’Eswatini, à la République du Zimbabwe, à la République du Sénégal et à la Banque africaine de développement en tant que nouveaux membres de l’Alliance. Nous encourageons tous les pays et institutions présents à rejoindre l'Alliance et à contribuer à sa mission.
7. Nous exprimons notre ferme soutien à la Décennie des Nations Unies pour l'agriculture familiale (2019–2028) et au travail coordonné par la FAO et le FIDA visant à mettre à profit une plate-forme stratégique pour mobiliser des ressources, aligner les efforts de coopération internationale et promouvoir des plans d'action nationaux qui soutiennent le développement rural durable et les politiques inclusives en faveur des petits exploitants et de l'agriculture familiale.
8. Nous soulignons le rôle vital de la pêche et de l'aquaculture durables dans la réalisation de la sécurité alimentaire et de la nutrition au Brésil et en Afrique, tout en soutenant les moyens de subsistance de millions de personnes. Ces secteurs sont au coeur de la Stratégie de l'économie bleue et de l'Agenda 2063 de l'Union africaine, lesquelles reconnaissent les systèmes alimentaires aquatiques comme des moteurs de croissance inclusive, de résilience climatique et de réduction de la pauvreté. Nous soulignons également la feuille de route de la FAO sur la transformation bleue comme un guide utile pour améliorer la durabilité et maximiser la contribution de la pêche et de l'aquaculture à l'emploi, à la diversification économique et à la restauration des écosystèmes.
9. Nous appelons à une collaboration élargie sur la protection de l'environnement, le reboisement et la gestion durable des terres et de l'eau, conformément aux principes de la Décennie des Nations Unies pour la restauration des écosystèmes. Nous soutenons l'intégration des connaissances traditionnelles et des pratiques communautaires dans les politiques climatiques et de biodiversité, en veillant à ce que les agriculteurs familiaux et les petits exploitants – y compris les communautés rurales et de pêche – soient à la fois les agents et les bénéficiaires des transitions environnementales.
10. Nous exhortons les délégations à la 30ème Conférence des Parties de la Convention-Cadre des Nations Unies sur les Changements Climatiques (CCNUCC) à élargir l'accès au financement climatique aux communautés de pêcheurs, aux petits exploitants et agriculteurs familiaux - en particulier aux femmes, jeunes et communautés marginalisées - en les protégeant des événements soit extrêmes soit d'évolution lente qui puissent menacer les moyens de subsistance et les marchés locaux. Les spécificités des petits États insulaires en développement doivent être prises en considération.
11. Nous réaffirmons l’importance de l’aide publique au développement (APD) et l’engagement des pays développés à atteindre l’objectif de 0,7 % du PIB. Nous reconnaissons les obstacles à la croissance dans les pays à revenu faible et intermédiaire et soulignons la nécessité de politiques cohérentes et d'outils pratiques pour relever les défis structurels du développement durable. Nous appelons à des progrès accélérés sur des initiatives telles que la clause de la dette résiliente au climat (CRDC), les échanges de dettes et d'autres innovations financières. Nous plaidons pour la poursuite des discussions sur le rôle des droits de tirage spéciaux (DTS), y compris la possibilité de nouvelles émissions avec une meilleure distribution aux pays les moins avancés et l'opérationnalisation de l'acheminement des DTS par l'intermédiaire des banques multilatérales de développement. Nous encourageons également l'utilisation à grande échelle du financement mixte, des outils de rehaussement de crédit et des structures de capital de première perte.
12. Nous soulignons que le commerce international, ainsi que les échanges régionaux et locaux, jouent un rôle crucial dans la réduction de l'insécurité alimentaire et de la malnutrition, dans la promotion d'un développement économique durable, ainsi que dans la conservation et la restauration de l'environnement, notamment en facilitant le déplacement des denrées alimentaires des régions excédentaires vers les régions déficitaires, améliorant ainsi la disponibilité alimentaire, favorisant accès aux aliments et contribuant à stabiliser leur prix. À cet égard, nous soulignons la nécessité d'assurer un système commercial multilatéral fondé sur des règles et qui soit non discriminatoire, juste, ouvert, inclusif, équitable et transparent, plaçant l'OMC en son centre.
13. Nous exprimons notre ferme soutien au renforcement de la coopération en matière de recherche et d'innovation agricoles pour le développement, notamment par l'intermédiaire du Réseau Brésil-Afrique de recherche et d'innovation. Nous saluons la création d'un programme de bourses visant à permettre à des chercheurs africains de passer du temps dans les institutions brésiliennes, ainsi que l'élaboration d'agendas communs sur la santé des sols, la gestion des pêches et de l'aquaculture, l'adaptation climatique aux phénomènes météorologiques extrêmes, les pratiques agroécologiques, les cultures intercalaires, les systèmes agroforestiers, les cultures d'opportunité, la mécanisation agricole à petite échelle, la production animale, l'approvisionnement alimentaire et les technologies agricoles inclusives. La coopération en matière d'agroécologie, de connaissances communautaires et de systèmes semenciers est essentielle à la préservation de la diversité génétique, à la restauration et à la régénération des sols et à la reconnaissance des petits exploitants et des agriculteurs familiaux en tant qu'agents d'innovation et gardiens de la biodiversité.
14. Nous encourageons un plus grand investissement dans les efforts d'intégration régionale et continentale, en particulier dans les infrastructures de production alimentaire, les réserves alimentaires, la transformation et la distribution, l'accès équitable au financement et aux technologies climatiques, et les mécanismes qui permettent l'agrégation et la mise à l'échelle des programmes communautaires et nationaux réussis. Nous soulignons l'importance des mécanismes de financement climatique équitables et prévisibles, capables de répondre aux besoins spécifiques des pays en développement et des travailleurs des systèmes agroalimentaires.
15. Nous affirmons la nécessité de promouvoir la cohérence et la vision à long terme dans les partenariats internationaux avec l'Afrique, en privilégiant les programmes dirigés par les pays, inclusifs, adaptés aux conditions locales et fondés sur le droit humain à l'alimentation. Nous encourageons une collaboration renouvelée entre les institutions africaines et leurs homologues en Amérique latine et les Caraïbes, afin de soutenir le Programme de développement durable à l'horizon 2030 et l'Agenda 2063 de l'Union africaine.
16. Nous remercions le Gouvernement brésilien d'avoir organisé ce Dialogue et d'avoir facilité un échange de points de vue ouvert, transparent et inclusif. Nous réaffirmons notre intention de poursuivre ce Dialogue et de traduire notre vision commune en actions concrètes qui favorisent la justice sociale, la durabilité environnementale et un développement résilient au climat au profit de nos peuples et générations futures.
Brasília, 19–23 mai 2025