Notícias
SIPEC 2025
ENGP 2025 destaca caminhos para um serviço público mais ágil e representativo
Participantes do terceiro dia do ENGP 2025 acompanham painel sobre mobilidade nas carreiras públicas. Foto: Washington Costa
Durante o terceiro dia do Encontro Nacional de Gestão de Pessoas (ENGP) do SiPEC 2025 (18/6) dois momentos importantes marcaram a programação: o painel Carreiras Públicas: Mobilidade, Racionalidade e Propósito trouxe reflexões sobre a necessidade de repensar a estrutura da administração federal, com foco em maior mobilidade profissional e mais eficiência no Estado; e o talk show LideraGov – Apresentação da Publicação Vozes Negras no Serviço Público, que destacou histórias inspiradoras de servidores públicos negros, reforçando o compromisso com a diversidade e a inclusão no setor público.
Repensar a estrutura da administração federal em uma perspectiva contemporânea de maior mobilidade dos profissionais e mais eficiência do Estado. A questão esteve em discussão no painel Carreiras Públicas: Mobilidade, Racionalidade e Propósito.A mesa teve mediação do secretário de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), José Celso Cardoso, e contou com as participações de Del Pereira, coordenadora-geral de Arquitetura de Carreiras da SGP/MGI; de Sérgio Moreira, coordenador-geral de Inovação em Arquitetura de Carreiras da SGP/MGI; e de Felipe Drumond, gerente sênior da Consultoria EloGroup.
José Celso Cardoso lembrou que, quando o serviço público brasileiro começou a se estruturar de forma mais consistente, a partir da segunda metade do século 20, adotou-se uma lógica inspirada no modelo do setor privado, em que todos deveriam fazer parte da organização. “Essa estrutura fez sentido para criar identidade das pessoas com os órgãos e incentivar a especialização, porém, de lá para cá, ocorreram muitas mudanças nas instituições”, salientou. Para o secretário, o novo momento abre caminho para avançar, com foco na inovação dos processos e em uma capacidade mais ágil de resposta às demandas da sociedade.
Del Pereira afirmou que o sistema de carreiras da Administração Pública Federal apresenta enorme complexidade, o que se deve às diversas dimensões sociais, econômicas e geográficas do Brasil. O Poder Executivo reúne 121 carreiras, mais de 2 mil cargos e mais de 250 tabelas remuneratórias. “Esse é um fator demandante de um maior conjunto de políticas públicas e de profissionais com diversas formações para implementá-las”, comentou Del.
A coordenadora-geral destacou algumas medidas para aprimorar o Sistema de Carreiras, como a Portaria MGI nº 5.127/2024, que estabeleceu as Diretrizes de Carreiras, a Transformação de Cargos Vagos em Cargos mais Aderentes às necessidades atuais e futuras do Poder Executivo Federal e a reestruturação das carreiras por meio das Leis 14.875/2024 e 15.141/2025.
E sua fala, Sérgio Moreira considerou que a tendência atual de maior mobilidade dos profissionais nas organizações encontra empecilhos no serviço público devido a algumas questões. Entre elas, a possibilidade de perda da Gratificação de Desempenho quando o servidor é cedido a determinados órgãos.
Moreira mencionou como alternativa para mitigar o problema a transversalização de carreiras ao invés de um modelo que atrela os profissionais a um órgão, impedindo-os de mudar para onde desejam e, consequentemente, gerando frustração e problemas no ambiente de trabalho.
O coordenador-geral assinalou o papel de uma governança do Sistema de Carreiras. “Essa iniciativa trará planejamento e estratégia para a gestão dos cargos e carreiras e permitirá um retorno sobre o desempenho e o desenvolvimento dos servidores para auxiliar na tomada de decisões”, afirmou.
Felipe Drumond apontou princípios que contribuem para que a administração pública se torne mais eficiente como a seleção e ocupação de cargos por forma meritocrática, autonomia e proteção contra perseguições e discricionaridades, presença de um corpo técnico perene e contínuo, carreiras atrativas e promissoras a longo prazo, com possiblidade de os servidores alcançarem postos de alta direção e de terem evolução salarial.
Drumond afirmou que, nesse contexto, o Brasil possui posição de destaque na América Latina, já que parte dos países da região ainda não possuem um corpo de servidores efetivos, atuando bastante com profissionais em caráter provisório na base da administração pública. Ele deu como exemplo desse cenário meritocrático no Brasil a realização do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU). “Que os processos seletivos possam se tornar cada vez mais diversos e competitivos”, destacou Felipe.
Lideranças negras
Ainda no terceiro dia do evento do ENGP, aconteceu o talk show com o tema “LideraGov - Apresentação da Publicação Vozes Negras no Serviço Público” que marcou um importante momento de valorização da diversidade e inclusão no setor público brasileiro. Realizado no âmbito do Programa LideraGov, o projeto deu visibilidade às trajetórias, desafios e conquistas de servidores públicos negros em diferentes esferas da administração pública.
A publicação “Vozes Negras no Serviço Público” reúne depoimentos e reflexões que mostram não apenas a presença, mas o protagonismo negro na construção de políticas públicas e na promoção de uma gestão mais equitativa.
Durante a apresentação da obra, seis dos diversos autores do livro compartilharam suas vivências de forma profunda e potente. Ane Silva destacou a importância da publicação. “Esse livro é um momento histórico, não só por reunir 50 pessoas negras, mas por serem pessoas com espaços e com uma batalha racial forte”, afirmou Ane.
Gean Frank revelou como o programa proporcionou não apenas crescimento profissional, mas também um sentimento de pertencimento e comunidade. “O LideraGov foi algo muito valioso na minha vida. Estar ao lado de 50 extraordinárias pessoas foi uma experiência incrível. Foi como estar em uma família”, contou Frank.
Erika Holanda demonstrou empolgação ao falar da participação no projeto. “Se eu pudesse resumir o LideraGov em uma palavra, seria ‘ousadia’.
Durante a conversa, os participantes do LideraGov deram visibilidade a temas como o racismo. Naiara Araújo trouxe uma reflexão contundente sobre o silenciamento de pessoas negras ao longo da vida. “Somos muito silenciados durante e o programa do LideraGov vem como uma libertação”, declarou.