O Agronegócio no Estado: Base Econômica e Social
O Rio Grande do Sul está localizado no extremo sul do Brasil. É composto por 497 municípios, com área total de 281.707,15 quilômetros quadrados, sendo o sexto estado mais populoso do Brasil1. O estado possui uma grande diversidade cultural e de paisagens, sendo coberto por dois biomas bastante distintos, o Pampa e a Mata Atlântica, nos quais se desenvolvem atividades agropecuárias de grande importância.
O RS se caracteriza como um dos estados brasileiros de maior diversificação de produção, tanto na agricultura como na pecuária. Em 2025, o estado conta com mais de 35 cadeias produtivas de substancial importância, muitas delas ocupando posições de destaque em rankings de produção no país. Tal desempenho se deve a fatores como o trabalho, a dedicação e a persistência dos agricultores, à diversidade de culturas e de contextos regionais, e às condições de clima e solos do estado2.
A importância do RS para a oferta nacional de alimentos é historicamente reconhecida, isso se dá em razão de sua expressiva contribuição para a produção agropecuária nacional, destinada tanto ao mercado interno quanto à exportação3. Segundo os Boletins da Agropecuária Brasileira em Números, antes das enchentes de 2024, o estado gaúcho ocupou diversas vezes a quinta posição no Valor Adicionado Bruto (VAB) da agropecuária nacional, correspondendo ao quinto maior faturamento bruto dos estabelecimentos agropecuários.
A catástrofe ocorrida em maio de 2024 provocou perdas de aproximadamente 3,1 bilhões de reais ao agronegócio, segundo dados da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul. Apesar do cenário desafiador, a árdua tarefa de reconstrução do estado abre atualmente diversas oportunidades para a inovação agropecuária.
O estado gaúcho apresenta um cenário de sistemas agroalimentares extremamente diverso e qualificado, tanto na produção quanto na indústria e no setor de serviços. Além disso, conta com numerosos atores governamentais, representações da agricultura e da pecuária, e instituições de pesquisa públicas e privadas.
A inovação é alicerce do agro gaúcho, seja pelos constantes desafios que se apresentam em nosso território, seja pelo compromisso dos atores com a melhoria contínua. Diante da pujante diversidade agropecuária, as informações apresentadas nos seis botões que detalham o ecossistema de inovação agropecuária do RS têm caráter exemplificativo, sem a pretensão de esgotar a amplitude dos temas e dos atores estaduais. As pesquisas foram realizadas e redigidas pelo Consultor Jhonitan Matiello, com base em dados oficiais e publicações a partir de 2023.
O Agronegócio Gaúcho e sua relevância econômica
A agropecuária exerce papel crucial na economia gaúcha. O estado possui aproximadamente 365 mil estabelecimentos agropecuários, ocupando uma área de 21,7 milhões de hectares, o que corresponde a 6,2% do total nacional4. O agronegócio representa 40% do PIB gaúcho e é responsável por 76,4% das exportações. O RS destaca-se como um dos maiores produtores de alimentos do país, contribuindo significativamente para a economia nacional5.
No Rio Grande do Sul, evidencia-se a importância dos diferentes portes das propriedades. No último Censo Agropecuário (2017), 83,7% dos estabelecimentos possuem até 50 hectares, ocupando 25,3% de toda a área cultivada do estado. Esta parcela reflete a diversidade de cadeias produtivas e a importância da agricultura familiar para o RS. As propriedades maiores de 500 hectares representam menos de 3% dos estabelecimentos. No entanto, ocupam 48,6% da área total cultivada e exercem papel crucial no volume da produção de grãos do estado e, consequentemente, na economia estadual e nacional1.
O agronegócio gaúcho movimentou 3,3 bilhões de dólares em exportações no primeiro trimestre de 2025, registrando um crescimento de 11,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Além do desempenho positivo nas exportações, o setor foi responsável pela criação de 29.190 novos empregos formais, o segundo maior saldo desde 2020. O número equivale a 43,9% do total de vagas de trabalho com carteira assinada geradas na economia do RS no período6.
A produção pecuária figura entre as primeiras e mais tradicionais atividades produtivas do estado. Dos 21,7 milhões de hectares de área ocupados pelos estabelecimentos agropecuários do RS, cerca de 42% correspondem a pastagens4. As pastagens naturais, concentradas no bioma Pampa, ocupam aproximadamente 7,5 milhões de hectares (82,2% do total) e constituem um ativo fundamental para o desenvolvimento da bovinocultura de corte gaúcha.
Cadeias produtivas de destaque
A agricultura está presente em todas as regiões do território gaúcho, mas é possível identificar algumas concentrações regionais. Destacam-se: a soja, o milho e o trigo no Noroeste e nos Campos de Cima da Serra; o arroz na Campanha, no Sul e no Litoral; o fumo no Vale do Rio Pardo e no Sul; a uva e a maçã na Serra e nos Campos de Cima da Serra; e a erva-mate no Norte do Estado7.
Ainda, verifica-se a expressividade da indústria de alimentos e bebidas nos vales do Taquari e do Rio Pardo; bovinocultura de corte concentrada no Oeste e no Sul do estado, associada principalmente às áreas de fisionomia e cultura do bioma Pampa; e da produção de leite, presente em quase todos os municípios do RS.
O estado é estratégico na oferta nacional de diversos produtos agropecuários. As cinco principais culturas agrícolas do RS, em termos de valor da produção são, respectivamente: a soja (4º maior produtor nacional), o arroz (maior produtor, responsável por 70% do total nacional), o milho em grão (7º maior produtor nacional), o tabaco (maior produtor nacional) e o trigo (2º maior produtor nacional)5,8.
Atualmente, as agriculturas temporária e permanente são realizadas em aproximadamente 10,4 milhões de hectares no RS (em primeira e segunda safras). Mais de 95% da área plantada é voltada à produção de grãos7, sendo a principal atividade agrícola gaúcha. Já as lavouras permanentes são cultivadas em cerca de 160.000 hectares, colocando o estado entre os principais produtores nacionais destes cultivos3.
Destacam-se na economia gaúcha a cadeia da olivicultura, responsável por 75,7% da área colhida no país; a erva-mate, ocupando a segunda posição nacional na produção de folha verde; líder nacional na produção de uva, com mais de 60% da área do país; segunda posição nacional na produção de maçã, detendo mais de 35% do valor da produção nacional; sexta posição na produção de laranja; oitava posição na produção de mandioca; nona posição para o feijão; e quarta posição para a batata inglesa. Cabe mencionar o destaque internacional dos vinhos, espumante e azeites de oliva gaúchos.
A indústria de celulose e papel apresenta elevada concentração espacial no RS e desempenha papel fundamental nas exportações, principalmente nas cadeias do Eucalipto, Pinus e Acácia. Esses cultivos representam 9,5% da área plantada nacional, correspondendo à sexta maior área do país9. Cabe elucidar que o RS é o maior produtor nacional de máquinas e implementos agrícolas, respondendo por 65% da produção nacional3,8,10.
Na pecuária, o estado possui o sétimo maior rebanho bovino do Brasil. Também se destacam na economia estadual a suinocultura e a avicultura, nas quais o RS ocupa o terceiro e quarto maior produtor nacional, respectivamente. O estado detém o terceiro maior rebanho nacional de ovinos. Ainda, ocupa a terceira posição nacional na produção de leite e a quinta posição na produção de ovos1,3.
A produção orgânica exerce papel importante no estado, que assume a segunda posição nacional em número de produtores (3.052), ficando atrás do Paraná (4.251). Os dados do Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos (CNPO) evidenciam que a produção orgânica se concentra nas regiões metropolitana, serra e região sul, com destaque para o município de Viamão, com 252 produtores19.
No primeiro trimestre de 2025, os principais setores exportadores do agronegócio gaúcho foram, nesta ordem: o tabaco e seus derivados, carnes, cereais, farinhas e preparações, complexo soja, produtos florestais e máquinas e implementos agrícolas. Eventos climáticos extremos alteraram temporariamente o ranking das cadeias exportadoras estaduais; contudo, nos últimos anos, os principais setores exportadores do agronegócio gaúcho são os do complexo soja, das carnes, do fumo, dos cereais e derivados e dos produtos florestais. Além disso, cabe mencionar que o RS ocupa o terceiro lugar entre os estados brasileiros em número de estabelecimentos de fabricação de alimentos e bebidas1,10,11.