Oportunidades e Desafios
Grandes Oportunidades do Agronegócio Mato-Grossense
O agronegócio mato-grossense vive um momento singular de expansão e diversificação, sustentado por uma base produtiva já consolidada e por novas oportunidades que emergem com a abertura de mercados internacionais, avanços logísticos e crescente demanda global por alimentos, fibras e produtos sustentáveis.
Em 2024, Mato Grosso alcançou US$ 27,6 bilhões em exportações, sendo responsável por mais de 15% de todas as exportações do agronegócio brasileiro no início do ano (MAPA, 2024a; MAPA, 2024b). Os principais produtos exportados – soja, milho, algodão e carnes – representaram cerca de 83% do valor total, reforçando a força histórica dessas cadeias (Notícias Agrícolas, 2024). Além disso, o estado ampliou suas relações comerciais, passando a exportar para cinco novos países, com destaque para algodão, carne e açúcares, o que demonstra capacidade de diversificação e inserção em nichos globais em expansão (SEDEC-MT, 2024).
A consolidação de um escritório da ApexBrasil em Cuiabá fortalece ainda mais a estratégia de internacionalização, sobretudo para médias, pequenas empresas e cooperativas, que historicamente representam uma pequena fatia das firmas exportadoras do estado (MAPA, 2024c; SEDEC-MT, 2024). Essa aproximação entre governo estadual, setor produtivo e o sistema de promoção de exportações abre caminho para que agroindústrias regionais ampliem sua atuação global, agregando valor à produção local e reduzindo dependência exclusiva das commodities primárias.
Produtos como farelo de soja, óleo vegetal, fibras têxteis de algodão, carnes processadas, subprodutos animais e derivados do milho emergem como oportunidades de grande potencial, especialmente em mercados asiáticos, do Oriente Médio e da África, onde a demanda cresce e o Brasil é reconhecido pela oferta estável e competitiva (ApexBrasil, 2024).
Outro eixo estratégico de oportunidades está ligado à crescente busca mundial por alimentos sustentáveis, rastreáveis e com certificações ambientais. Esse movimento abre espaço para o Mato Grosso se posicionar como um fornecedor premium, sobretudo em carnes bovinas e suínas, algodão com certificação socioambiental e grãos produzidos com baixa emissão de carbono. A tendência global de segurança alimentar e mudanças climáticas reforça o papel estratégico do estado, que ainda possui amplo potencial produtivo e capacidade de ampliar eficiência via tecnologias, manejo sustentável e integração lavoura-pecuária-floresta (MAPA, 2024d).
Do ponto de vista interno, iniciativas de inovação tecnológica, como as impulsionadas por instituições como AgriHub e Famato, contribuem para fortalecer a produtividade, qualificar mão de obra e acelerar a digitalização do campo, fatores essenciais para que Mato Grosso não apenas mantenha sua liderança, mas avance para um patamar superior de competitividade global (AgriHub, 2018). A combinação entre conectividade rural, monitoramento climático de precisão, automação da coleta de dados e manejo inteligente de pragas cria um ambiente fértil para empresas de tecnologia atuarem no estado, alinhando-se diretamente às demandas dos produtores.
Dessa maneira, o conjunto de fatores estruturantes — escala produtiva, abertura de mercados, maior articulação institucional, ampliação da agroindustrialização, demanda global crescente e avanços tecnológicos — coloca Mato Grosso em posição privilegiada para impulsionar novas oportunidades no agronegócio.
Em resumo, o cenário indica que o futuro do setor no estado será marcado não apenas pelo aumento de volume exportado, mas principalmente pela diversificação, pela agregação de valor e pela consolidação de cadeias sustentáveis e inovadoras que ampliam a competitividade do agro mato-grossense (SNA, 2024).
Principais Desafios do Agro Mato-Grossense
Avaliando o relatório Agrihub Conecta, que se utiliza da escuta ativa com produtores, indica que os desafios mais urgentes do estado se concentram em:
- Gestão (15,2%) – necessidade de digitalização e eficiência operacional.
- Mão de obra (13,8%) – qualificação e retenção de trabalhadores.
- Mercado e legislação – alta regulação e volatilidade comercial.
- Conectividade rural – gargalo que limita digitalização e automação.
- Segurança no campo e energia – preocupações crescentes em regiões produtivas.
- Classificação subjetiva de grãos e rastreabilidade – impacto direto na renda do produtor.
Dessa forma, apesar da inovação no agro mato-grossense avançar rapidamente, encontra-se um conjunto de desafios estruturais que moldam, e muitas vezes limitam, a velocidade de adoção tecnológica no estado. Esses desafios emergem de fatores produtivos, logísticos, sociais e institucionais, e foram identificados de maneira consistente em relatórios e mapeamento de startups.
O primeiro e mais recorrente desafio é a gestão rural, apontada como prioridade por 15,2% dos produtores. Apesar de Mato Grosso ser um dos estados mais tecnológicos do país, muitos sistemas de gestão ainda são fragmentados, dificultando o controle de custos, a integração de dados e a tomada de decisão baseada em indicadores. Startups de SaaS surgem justamente para suprir essa lacuna, mas a dificuldade permanece porque implica mudanças culturais, capacitação de equipes e reorganização das rotinas internas das fazendas.
Um segundo desafio estrutural é a mão de obra e a qualificação técnica, que aparece com 13,8% das citações. O avanço da agricultura digital exige trabalhadores capazes de operar softwares, interpretar dados, lidar com sensores, drones e máquinas autônomas. Porém, o déficit de capacitação ainda é significativo, especialmente em regiões mais afastadas. Essa carência impacta diretamente a adoção de tecnologia: mesmo quando disponível, a inovação não se sustenta sem pessoas que saibam utilizá-la e mantê-la.
A conectividade rural é outro gargalo crítico. A falta de internet adequada em várias regiões do estado compromete o uso pleno de tecnologias como telemetria, monitoramento remoto, plataformas de gestão em nuvem, integração de máquinas e sensoriamento digital. O relatório mostra conectividade como um dos desafios centrais, reforçando que o avanço tecnológico depende de infraestrutura digital que ainda não está universalizada nas propriedades mato-grossenses.
Entre os desafios menos atendidos por soluções tecnológicas, mas de grande impacto, está a regularização fundiária, que envolve burocracia elevada e alto custo. É uma área com baixa presença de startups, apesar de ser estratégica para destravar investimentos, garantir segurança jurídica e ampliar o acesso ao crédito. Da mesma forma, a infraestrutura energética insuficiente em algumas regiões também é mencionada como barreira, influenciando o funcionamento de sistemas automatizados, equipamentos e processos de pós-colheita.
A segurança rural surge como outro ponto de preocupação crescente. Produtores relatam furtos, invasões e vulnerabilidade das propriedades, o que impulsiona a demanda por soluções de monitoramento inteligente, drones autônomos e cercas conectadas. No entanto, trata-se de um segmento ainda subexplorado, com poucas startups especializadas.
Também ganha destaque a subjetividade na classificação de grãos, que afeta diretamente a renda dos produtores. A falta de precisão e padronização cria conflitos comerciais e abre espaço para perdas financeiras, tornando essa uma área com forte potencial para tecnologias de análise automatizada e inteligência artificial.
Por fim, há desafios relacionados a mercado e legislação, que incluem complexidade tributária, volatilidade de preços, exigências de rastreabilidade e pressão crescente por sustentabilidade. Essas demandas exigem não apenas tecnologia, mas modelos de negócio inovadores e maior integração entre produtores, indústrias e o setor público.
Em resumo, os desafios da inovação no agro mato-grossense não se resumem à falta de tecnologia, mas à necessidade de transformações estruturais, culturais e infraestruturais. Mato Grosso avança como polo de inovação, mas a superação desses gargalos será determinante para consolidar o estado como referência global em agricultura digital, sustentável e altamente competitiva.