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Entrevista concedida pelo presidente Lula, em Kuala Lumpur, na Malásia, após agendas no Sudeste Asiático
Eu fiquei um pouco triste porque eu não vi ninguém com um pacote de presente na mão, isso significa que ninguém nem lembra do meu aniversário hoje. Mas o que é importante é o seguinte: eu estou completando 80 anos de idade, no melhor momento da minha vida. Eu nunca me senti tão vivo e com tanta vontade de viver, e por isso que eu digo para todo mundo que eu espero viver até os 120 anos. A partir de hoje faltam só 40, significa que eu já vivi o dobro daquilo que eu pretendo viver. Quem já viveu 80 pode viver mais 40. O homem que vai viver até 120, 130 já nasceu, segundo a ciência. E eu espero ter sido escolhido pela ciência.
Bem, quero dizer para vocês que essa foi mais uma viagem exitosa do Governo Brasileiro ao exterior. Eu tinha vindo à Indonésia pela última vez em 2008, quando estabelecemos uma parceria estratégica com o país. Nós temos um potencial extraordinário em todas as áreas para fortalecer nossa relação com a Indonésia, uma relação muito boa com o presidente Prabowo [Subianto, presidente da Indonésia].
Aqui na Malásia, eu nunca tinha vindo. E, sinceramente, o primeiro-ministro Anwar Ibrahim é uma figura extraordinariamente agradável, uma pessoa que gosta do Brasil e quer ter uma relação muito forte com o povo brasileiro.
Tivemos reuniões com empresários dos dois países e também com os empresários brasileiros que vieram, que merecem meus elogios. Porque eu sempre digo: o presidente da República não faz negócio; o presidente da República abre as portas para que os homens e as mulheres de negócio possam fazê-lo.
São os empresários que sabem negociar, que têm interesses específicos, que têm conhecimento. E, portanto, o papel do governo é garantir que, em todas as minhas viagens, a gente leve uma delegação de empresários e empresárias brasileiras.
Nós temos a cooperação das federações, das confederações, mas eu quero publicamente elogiar o companheiro Jorge Viana, [presidente] da APEX [Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos], que tem prestado um trabalho extraordinário no ajuntamento dos setores empresariais para fazer essa viagem.
E a receptividade tem sido extraordinária. Há muita vontade de conhecer o Brasil, de fazer negócio com nosso país, de entender o que é essa transição energética que estamos propondo.
As pessoas querem saber o que é essa coisa maravilhosa: um país que tem quase 90% da sua energia elétrica totalmente renovável; um país que tem petróleo e, ao mesmo tempo, defende trabalhar rapidamente para que não precise mais usar combustível fóssil.
Que possa fazer a transição energética e é isso que desperta tanto interesse. As pessoas querem conhecer o que o Brasil está fazendo.
E nós precisamos também conhecer o que os países têm para oferecer para a gente. Tanto para a Indonésia quanto para a Malásia, primeiro esses dois países da ASEAN [Associação das Nações do Sudeste Asiático], o nosso comércio nos dois países chega por volta de 12 bilhões de dólares - é muito pouco do potencial econômico do Brasil e desses países. Significa que está faltando um pouco mais de ousadia dos nossos empresários e dos nossos ministros.
Ao invés de ficar lá no zap todo dia, tem que viajar o mundo para vender as coisas que o Brasil produz, as coisas que o Brasil tem para vender. Isso é uma coisa muito importante. E depois, ser convidado para participar do 47º Congresso da ASEAN é motivo de muita alegria.
Eu fui o primeiro presidente do Brasil a participar do G7 [Grupo dos Sete]. Eu fui o primeiro a participar da reunião europeia com a CELAC [Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos], fui o primeiro a participar da reunião da União Africana e estou sendo o primeiro presidente do Brasil convocado para participar da ASEAN, que são 11 países que têm uma afinidade muito grande com o Brasil, que gostam do nosso país, que o admiram, que têm perspectiva de fazer investimento e de atrair investimento para cá.
Então, o Brasil saiu daquele momento histórico em que a gente vivia olhando para os Estados Unidos, achando que eles iriam resolver o problema da miséria do nosso país. Aí, quando se enjoava dos Estados Unidos, olhava para a União Europeia, achando que a União Europeia iria resolver o problema.
E nós descobrimos o óbvio: ninguém vai resolver o problema do Brasil, só os brasileiros vão resolver. E, sabendo disso, temos que fazer a nossa economia crescer, aumentar o comércio exterior, atrair mais investimentos estrangeiros.
E isso só acontece com a química rolando entre as pessoas. Você não faz isso por WhatsApp, não faz por e-mail. Você faz pegando na mão, olhando nos olhos e convencendo, com palavras e com atitude, de que está oferecendo um bom negócio.
É por isso que eu saio daqui muito satisfeito e ainda não terminou, porque nós vamos participar da abertura da ASEAN e à noite tem um jantar, é um jantar, porque eu estou fazendo 80 anos, o jantar será oferecido pelo primeiro-ministro [da Malásia] Anwar Ibrahim e eu acho que vai ser um jantar muito bom. Não sei se vocês da imprensa foram convidados, mas vai ser bom. Bem, aí eu embarco amanhã de manhã para o Brasil, embarco às 8 horas da manhã e queria dizer para vocês que outra surpresa importante dessa viagem, vocês não acreditam em destino, mas vejam o que aconteceu.
Pouco tempo atrás, quando o presidente Trump [Donald, dos Estados Unidos] publicou no seu portal a carta ao Brasil fazendo as taxações sobre os produtos brasileiros, muita gente entrou em crise achando que era o fim do mundo. O que nós dizíamos no governo? É preciso ter calma, porque as decisões que foram tomadas contra o Brasil, eram decisões infundadas, porque foram tomadas com informações erradas. E isso era óbvio, ou seja, todo mundo que leu aquela carta sabia que as informações que estavam lá sobre o Brasil estavam equivocadas.
Por isso é que eu disse para o presidente Trump, no telefonema, que era preciso colocar gente que gostasse do Brasil para negociar. Eu sou um presidente de muita experiência, parece que não, mas eu tenho muita experiência. E você só manda para negociar quem você quer que seja contra, se você é contra, ou você quer que vá negociar de verdade, se você quer o acordo.
Se você é favorável a um acordo e coloca alguém com má vontade na mesa de negociação, não tem acordo. Por isso é que eu acredito no destino. Não teve encontro entre mim e o Trump na ONU - foram só 29 segundos em que a química rolou entre nós.
Depois, tivemos telefonemas de meia hora, em que discutimos todos os assuntos que eram pertinentes naquele momento. E, veja, ele andou 22 mil quilômetros e eu andei 22 mil quilômetros. Ele não “aviou” mais do que eu, sabe, mas eu penei mais (risos). E a gente veio se encontrar na Malásia.
Veja o que é, as coisas que têm que acontecer. O destino estava traçado, era na Malásia que a gente tinha que se encontrar para que eu pudesse olhar nos olhos dele e dizer o que eu penso, ele olhar nos meus olhos e dizer o que ele pensa. E foi assim que eu tive, ontem, na reunião, uma boa impressão de que logo, logo não haverá problema entre Estados Unidos e Brasil.
E fiz questão de dizer ao presidente Trump que o fato de nós termos posições ideológicas diferentes não impede que dois chefes de estados tratem a relação entre os estados com muito respeito. Eu o respeito porque foi eleito presidente da República dos Estados Unidos pelo voto democrático do povo americano e ele me respeita porque eu fui eleito pelo voto democrático do povo brasileiro. Isso quando colocado na mesa, tudo fica mais fácil.
Eu fiz questão de dizer para ele aquilo que eu achava e entreguei por escrito para que as pessoas não se esqueçam. Às vezes as pessoas se esquecem, então fiz questão de dar uma cópia para ele daquilo que a gente estava reivindicando. Dando para ele que era inadmissível a punição de ministro da Suprema Corte por causa da votação que houve no processo do 8 de janeiro, do golpe.
Fiz questão de dizer a ele que eram infundadas as informações de que os Estados Unidos tinham déficit comercial com o Brasil. Nós provamos que, nos últimos 15 anos, houve um superávit de 410 bilhões de dólares, só no ano passado foram quase 22 bilhões de superávit para os Estados Unidos, e nós não estamos reclamando. Em vez de reclamar do déficit, a gente precisa aumentar a nossa capacidade produtiva, melhorar a qualidade dos nossos produtos e vender mais. É assim que se faz negócio. E confesso a vocês: foi surpreendentemente boa a reunião que eu tive com o presidente Trump.
Eu vou dizer para vocês, o Mauro [Vieira, Relações Exteriores], que é o negociador; o Márcio [Rosa, secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços - MDIC], que está aqui representando o Alckmin [Geraldo, vice-presidente e ministro do MDIC]; e o Haddad [Fernando, ministro da Fazenda], que vai participar das negociações, vocês sabem que, se depender do Trump e de mim, vai ter acordo.
Então, é importante que, quando vocês sentarem à mesa, e alguém disser “não” a alguma coisa que nós propusemos, saibam que não é da parte dele, nem da minha. Porque nós estamos dispostos a fazer com que Brasil e Estados Unidos continuem com uma relação que já dura 201 anos.
Não é pouco tempo, são dois séculos de relações diplomáticas. Muitas vezes vantajosas para os dois países, outras vezes perigosas para o Brasil, como em 1964. Mas tudo isso fica para trás, porque o que interessa numa mesa de negociação é o futuro, é o que você vai construir daqui para frente.
E ele sabe que nós queremos, primeiro, suspender a taxação e vamos negociar. Veja que engraçado, eu sou o único presidente do mundo que reconheço que ser o presidente de um país tem o direito de taxar os produtos dos outros países, quando esses produtos estiverem causando prejuízo à indústria nacional. De vez em quando, o Márcio e o Alckmin chegam para mim e dizem que precisa taxar em 15%, não sei o quê, em 20%, eu estou lá taxando.
Então, eu acho que é um direito do presidente da República taxar, quando vai causar prejuízo à sua indústria, ao seu desenvolvimento. O que não pode é acontecer o que aconteceu com o Brasil, com base em informações equivocadas, tomar uma decisão de taxar o Brasil em 50%. Ele sabe disso porque eu tive a oportunidade de dizer, agora não tem mais intermediário, agora é o presidente Lula com o presidente Trump, gostemos ou não um do outro, nós dois temos que assumir a responsabilidade como chefes de Estado de saber que as nossas ações têm que trazer benefício para os povos que nos elegeu.
É assim que eu trato isso, é assim que eu estou otimista, saio daqui muito otimista, possivelmente já tenho uma reunião, na semana que vem, em Washington, ele me disse que está com vontade de ir para o Brasil, eu disse para ele que estou à disposição de ir a Nova York, ir a Washington, quando quiser discutir, porque se tem uma coisa que eu aprendi a fazer na vida foi negociação, e não foi no meu mandato presidencial, foi muito antes do mandato. Eu aprendi a fazer negociação, aprendi a sobreviver negociando, e sei quando ceder e sei quando não ceder. E para que a reunião seja correta e justa, nós temos que começar no patamar zero. Vamos voltar, estaca zero e vamos voltar para o seguinte, aonde é que nós queremos chegar? E se houver a disposição do presidente Trump, como ele disse, que tem toda a disposição de fazer um bom acordo com o Brasil, e eu disse para ele que o Brasil tem toda a intenção de fazer um bom acordo com os Estados Unidos, não haverá problema para nenhum setor da economia brasileira e não haverá problema para a relação entre as duas maiores democracias do Ocidente.
Eu disse para ele o que eu tinha dito por telefone, de que o Brasil e os Estados Unidos, como as duas mais importantes democracias da América e do mundo, do Ocidente, a gente tem que dar exemplo, exemplo de cordialidade, exemplo de livre comércio, exemplo de multilateralismo. E é isso que eu vou continuar fazendo. Eu tenho o telefone do presidente Trump, ele tem o meu telefone, agora, se os intermediários nossos falharem, sabe onde é que a corda vai doer.
Não, porque muitas vezes, gente, muitas vezes, eu estava na reunião de ontem e confesso para vocês, a pessoa mais entusiasmada na reunião era o presidente Trump. Agora, veja, obviamente que nas nossas equipes tem gente que concorda, que não concorda, que gostaria de fazer a conta, que não gostaria, eu só quero dizer para a imprensa brasileira que está aqui, eu estou convencido de que em poucos dias nós teremos uma solução definitiva, sabe, entre Estados Unidos e Brasil, para que a vida fique boa e alegre, do jeito que dizia o Gonzaguinha na sua música. É assim que eu volto para o Brasil, satisfeito, sabe, é certo que tudo vai dar certo para o povo brasileiro.
É isso. Agora eu me coloco à disposição de vocês, para responder às perguntas que vocês quiserem. Amém.
Secretário de Imprensa da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Laércio Portela: Então, vamos lá. Vamos iniciar com o Rodrigo Rangel, do Platô BR. Rodrigo, por favor.
Rodrigo Rangel [Platô BR]: Muito bom dia, presidente.
Presidente Lula: Bom dia.
Rodrigo Rangel [Platô BR]: Eu sou o Rodrigo Rangel, do Platô BR. Presidente, eu gostaria de saber se a “química” com o presidente Donald Trump ficou mais intensa no dia de ontem e em quanto tempo o senhor acredita que o “tarifaço” pode ser suspenso.
E, ainda sobre isso: ontem, ao falar de Jair Bolsonaro, o presidente Trump disse que gosta do ex-presidente e lamenta o que vem acontecendo com ele. No entanto, a impressão é que ele já não está tão disposto a defendê-lo como parecia antes, na época da aplicação do tarifaço. O senhor concorda com essa avaliação? Qual a sua leitura sobre isso e o que o senhor diz sobre a atuação do clã Bolsonaro nos resultados do Tarifaço e nessa crise principal em 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos?
Presidente Lula: O Laércio disse que ia ter sete perguntas, você já fez todas elas, então vai terminar por aqui (risos). Olha, deixa eu te dizer uma coisa, eu, sinceramente, estou muito otimista com a reunião de ontem e acho que nós vamos encontrar uma solução para o Tarifaço, tá? Eu não estou reivindicando nada que não seja justo para o Brasil e tenho do meu lado a verdade mais verdadeira e absoluta do mundo, os Estados Unidos não têm déficit com o Brasil, que foi a explicação da famosa taxação ao mundo, e que os Estados Unidos só iam taxar os países que eles tinham déficit comercial. Pois, eu disse ao presidente Trump que em todo o G-20, só tem três países que os Estados Unidos são superavitários: Brasil, Reino Unido e Austrália.
Então, ele sabe que não é verdade que os Estados Unidos têm prejuízo com o Brasil e eu acho que isso é a base da gente voltar a negociar. A segunda inverdade que ele citou na carta dele, sabe, foi a questão do julgamento do Bolsonaro. Eu disse para ele que o julgamento foi um julgamento muito sério, com provas muito contundentes, nenhuma prova da oposição, a prova é tudo de relato das pessoas que estão sendo julgadas, disse para ele a gravidade do que eles tentaram fazer no Brasil, disse a eles que eles tinham um plano para me matar, para matar o meu vice-presidente, para matar o presidente Alexandre de Moraes e eles foram julgados com direito de defesa que eu não tive quando eu fui processado e que, portanto, sabe, isso não está em questão, isso não está em discussão, sabe? E ele sabe que rei morto é o rei posto, ele sabe.
O Bolsonaro faz parte do passado da política brasileira e eu ainda disse para ele: com três reuniões que você fizer comigo, você vai perceber, sabe, que o Bolsonaro era praticamente nada. Era porque eu não converso em tom pessoal, eu converso em tom político de interesse do meu país. Convidei ele para ir à COP, outra vez, disse para ele, é importante que você vá para dizer o que você pensa.
Se você não acredita nas coisas, vá lá para você poder dizer o que você pensa, o que não pode é a gente fingir que não tem uma situação climática, sabe, e vamos ver o que é que vai acontecer. Eu estou muito certo que essa relação, eu digo para todo mundo, a melhor relação que eu tive com os Estados Unidos foi com o Bush, que na primeira reunião que eu tive com ele, ele convidou o Brasil para participar da guerra do Iraque. Eu disse para ele que o Brasil não queria guerra, a minha guerra era contra a fome e eu ia vencer a fome no Brasil e vencemos, pela segunda vez.
Bem, a mesma coisa vai acontecer com o Trump, a gente não se conhecia. E se você se conhece por pessoas que falam, sabe, é mais difícil, você tem que sentir, você tem que pegar na mão, você tem que conversar, tem que olhar, tem que ver o procedimento da pessoa, o comportamento, a reação da pessoa, sabe, e eu acho, sinceramente, eu acho que rolou muita sinceridade na nossa relação. Eu não, não, não, não tenho nenhum problema de dizer que é bem possível que vocês fiquem surpresos com a afinidade da relação entre o Estado americano e o Estado brasileiro.
O pensamento político do presidente Trump é dele; o meu é o meu. Mas, quando nós conversamos, não sou eu nem ele, somos os chefes de dois Estados democráticos do Ocidente que estão dialogando. A segunda coisa é que eu penso que terá que haver uma suspensão de algumas medidas, da taxação, para que a gente possa começar do zero. E também da punição aos nossos ministros, porque não tem nenhum procedimento, não tem lógica. Isso foi dito na frente do Marco Rubio [secretário de Estado dos Estados Unidos], na frente do homem do Tesouro dele e da linha três dele. E fiz questão de entregar um documento.
O que é que eu quero? Está lá a discussão do Brasil, a discussão da lei, sabe, Magnitsky, a discussão da taxação, a discussão da Venezuela, a discussão da guerra da Ucrânia, está tudo lá escrito. Portanto, ele leu na minha frente e ele ficou até surpreso quando eu disse que dentro das punições do nosso ministro, além de punir o ministro da Saúde [Alexandre Padilha], puniu uma filha dele de oito anos. Quem estava lá viu que ele ficou surpreso.
Então, eu acho que está estabelecida a relação entre Brasil e Estados Unidos. Quem imaginava que não ia ter, perdeu. Vai ter e vai ter uma relação produtiva para os dois países e para a democracia.
Secretário Laércio Portela: É isso. Vamos à próxima pergunta. Daniel Azhar, da Reuters.
Daniel Azhar [Reuters]: Presidente, está me ouvindo?
Bem, bom dia. Esse é o Daniel, da Reuters, Agência Reuters de Notícias.
Presidente, o senhor me ouve?
(pausa)
Secretário Laércio Portela: Só um minuto, pessoal... só um minuto.
Vamos retomar a pergunta, por favor.
Daniel Azhar [Reuters]: Bem, a minha pergunta é a seguinte, presidente: o presidente Donald Trump fez alguma promessa para o Brasil?
Essa é a questão — se ele fez algum tipo de promessa ou compromisso com relação ao nosso país.
Presidente Lula: Não, porque eu não sou ninguém para alguém fazer promessas para mim.
Fazem promessas para Santos, não para mim. Sabe, para mim, o que ele tem que fazer é compromisso. E o compromisso que ele fez é que ele pretende fazer um acordo de muita boa qualidade com o Brasil.
E está muito registrado na minha cabeça e na cabeça dele. Eu fiz questão de não deixar dúvida ao presidente Trump quem eu sou, de onde eu vim e o que eu penso. Porque somente quando a gente se conhece, sabe, é que a gente pode passar a respeitar ou não as pessoas.
Então, eu sinceramente, embora ele não tenha feito promessa, ele garantiu que nós vamos ter acordo. E eu acho que vai ser mais rápido do que muita gente pensa. E vai depender do Brasil também.
Nós não somos um bebê que tem que ficar esperando alguém nos chamar. Nós é que temos interesse. Então, nós temos que ir atrás.
Eu já falei para os meus negociadores. Ele foi para a Coreia, foi para o Japão, mas a depender, sabe, do resultado dessa semana, eu já vou importuná-lo com o telefonema direto. E ele também tem o meu telefone. Só que como eu não uso celular, eu dou o do meu cerimonial, o Igreja [Embaixador Fernando Igreja]. Então, ele liga para o Igreja a hora que ele quiser e nós conversamos.
Secretário Laércio Portela: Vamos para a próxima pergunta. Eduardo Barão, da Band.
Eduardo Barão [Band]: Bom dia, presidente.
Presidente Lula: Bom dia.
Eduardo Barão [Band]: Presidente, não sabemos exatamente o que o governo americano deseja. O senhor deixou muito claro a questão do “tarifaço” e também das sanções impostas ao Brasil. Mas, afinal, o que o governo americano quer?
Ontem, o senhor conversou com o presidente Trump sobre a Venezuela. Já se falou também da plataforma X, da China, das terras raras...
Diretamente, presidente: existe alguma chance de uma situação mais grave na Venezuela?
E, em troca, o que os americanos estão pedindo — e o que o Brasil está disposto a oferecer?
Presidente Lula: Olha, o presidente Trump, ele não disse o que queria, porque eu comecei a conversa com ele, dizendo que não tem veto na nossa discussão. O assunto que quiser se discutir e colocar na mesa, nós vamos discutir. Se for relação comercial, se for a relação com a China, a relação com a Venezuela, não tem tema proibido comigo.
Se quiser discutir a questão de minerais críticos, de terras raras, se quiser discutir etanol, se quiser discutir açúcar, não tem problema. Eu sou uma metamorfose ambulante na mesa de negociação. Coloque o que quiser, que eu estou disposto a discutir todo e qualquer assunto.
É assim que eu aprendi a negociar. Eu não sento na mesa e desse assunto eu não discuto. Não. Se é interessante para você, coloque na mesa. Me convença. Porque me convencer é fácil.
Não foi colocado nada. Eu coloquei a questão da Venezuela para ele, dizendo que, pelo noticiário do jornal, eu estou vendo que as coisas estão se agravando, e disse para ele que era extremamente importante levar em conta a experiência que o Brasil tem como o maior país da América do Sul, como o país economicamente mais importante, que tem como vizinho quase toda a América do Sul, que levasse em conta a necessidade, aquilo que o Brasil puder ajudar na relação com a Venezuela. Contei para ele, inclusive, o grupo dos amigos que nós criamos em 2003.
Eu tinha apenas 15 dias de mandato, 15 dias de mandato, quando eu estava em Quito, na posse do presidente do Equador, e eu, o Chávez, estava com um problema com os Estados Unidos, eu propus a criação de um grupo de amigos, criamos um grupo de amigos e conseguimos garantir que houvesse um referendo tranquilo na Venezuela. Eu disse para ele que nós estamos à disposição para ajudar e queria que ele levasse em conta de que nós somos uma zona de paz. Até falei para ele, eu era constituinte, quando eu votei pela não proliferação de armas nucleares no Brasil.
Não é uma invenção minha, não é um discurso, é um voto que eu dei na Constituição brasileira que está, possivelmente seja o único país do mundo que tem na sua Constituição a não produção de armas nucleares, de armas atômicas. Então, isso ficou muito claro. Se precisar que o Brasil ajude, nós estamos à disposição.
Estamos à disposição para negociar, porque nós queremos manter a América do Sul como zona de paz. Nós não queremos trazer os conflitos de outra região para o nosso continente. É isso.
Secretário Laércio Portela: Vamos passar à próxima pergunta, em inglês, presidente. Samantha Tan, da Bernama, aqui da Malásia.
Por favor, fale ao microfone por um momento.
Samantha Tan [Bernama]: Presidente, está me ouvindo? Olá, senhor presidente. Bom dia e parabéns. Eu sou da Bernama, agência de notícias da Malásia.
A minha pergunta é a seguinte: a Malásia faz parte do BRICS. O senhor vê possibilidade de o país se tornar membro do grupo?
E, aproveitando, o que o senhor achou da sua viagem à Malásia, presidente?
Presidente Lula: Olha, eu aprendi na minha vida que o nosso comportamento humano é sempre levar em conta que o importante é o principal, o resto é secundário. E o principal, que você me pergunta, é saber se eu quero que a Malásia entre nos BRICS. Pois, eu quero dizer para você que a Malásia terá o apoio do Brasil para ser membro pleno do BRICS.
E eu posso lhe dizer que eu levo da Malásia a impressão mais positiva possível. Primeiro, pela simpatia do povo. Em cada lugar que eu chego, parece que eu conheço todo mundo.
Tem sempre alguém rindo, tem sempre alguém gentil, ou seja, é um pouco do povo brasileiro. Então eu saio com a melhor impressão da Malásia, saio com a impressão maravilhosa do primeiro-ministro Anwar Ibrahim e saio da reunião que eu tive com o governo e também saio com a impressão muito positiva da reunião que eu fiz com os empresários. E espero sair com uma impressão muito boa do jantar de gala.
Eu vou até utilizar uma camisa que eu ganhei de presente do governo para poder chegar lá como se eu fosse malaio.
Secretário Laércio Portela: Vamos à próxima pergunta. Vitória Damasceno, da Folha de S. Paulo.
Vitória Damasceno [Folha de S. Paulo]: Bom dia, presidente. O seu secretário afirmou que questões políticas vão ficar fora da mesa nas negociações. Isso foi o que ficou acertado ontem com os negociadores americanos?
Presidente Lula: Não, não entendi. Repete, por favor.
Vitória Damasceno [Folha de S. Paulo]: O seu secretário-executivo, Márcio Rosa, disse que questões políticas vão ficar fora da mesa — que isso foi o acordado ontem com o governo americano.
Mas o senhor acabou de dizer que está aberto a colocar diversos temas na mesa, inclusive questões políticas. Então eu queria entender: qual é o seu alinhamento com os negociadores? As questões políticas vão ficar dentro ou fora da mesa, presidente?
Presidente Lula: Deixa eu lhe contar uma coisa. As questões políticas serão colocadas na presença dos dois presidentes da República, não na mesa de negociação sobre negócios. Quem vai discutir política nesse negócio do Brasil é o presidente Trump e o presidente Lula. Eles vão negociar as taxações, sabe, comerciais que forem imposta a nós.
Inclusive a questão da legislação, da punição aos nossos ministros, é uma decisão política que vai ser resolvida entre o Trump e eu. Só para não ter dúvida.
Secretário Laércio Portela: Bem, agora vamos passar para a Allegra Mandelson, do The Telegraph, da Inglaterra — também em inglês.
Allegra Mandelson [The Telegraph]: Só um minutinho... Presidente, está me ouvindo, né?
Bom, o Brasil é um dos membros fundadores do BRICS, um bloco que tem desafiado, digamos assim, essa ordem mundial centrada nos Estados Unidos.
A China, por sua vez, tem desempenhado um papel de liderança nessa nova configuração global.
Então, enquanto o senhor falava sobre o seu otimismo de que Brasil e Estados Unidos vão chegar a um acordo, parece que as políticas e tarifas do presidente Trump acabam empurrando o Brasil cada vez mais para perto da China.
O senhor gostaria de ver uma nova ordem internacional liderada pela China — digamos assim, acima dos Estados Unidos, presidente?
Presidente Lula: Olha, o Brasil não tem preferência por países. Nós queremos manter relações com todos os países do mundo. Nós não aceitamos uma nova Guerra Fria que, durante 50 anos, reduziu a vida da humanidade entre Estados Unidos e Rússia.
O que queremos, na verdade, é que não haja guerra fria entre Estados Unidos e China, porque queremos manter uma belíssima relação com os Estados Unidos e com a China. Não é por causa da taxação que aumentou o nosso comércio com a China. O nosso comércio com a China já vinha crescendo e hoje a China é o maior parceiro comercial do Brasil e eu espero que cresça mais, porque tudo aquilo que os chineses precisam comprar, o Brasil tem para vender.
E eu espero que seja assim com os outros países. Eu quero que a economia brasileira e a saúde desse meu país não fique dependendo de um único país. Eu quero que a gente dependa de todos os países do mundo, de cada um, um pouquinho.
Então, não temos preferência. Obviamente, que eu acho extremamente importante o crescimento da China, como eu gostaria que fosse o crescimento do Brasil. Se a gente conseguir concluir tudo aquilo que a gente está pensando em fazer, quem sabe daqui a 10, 15 ou 20 anos, é o Brasil que estará na linha de frente e na negociação com muitos países.
Eu trabalho para isso, acredito nisso e quero continuar tendo uma belíssima relação com a China, quero ter uma belíssima relação com os Estados Unidos, quero ter uma belíssima relação com a União Europeia, porque é importante lembrar que depois de 22 anos, nós vamos em dezembro agora fazer o acordo União Europeia e Mercosul. Era uma coisa que estava travada há muito tempo, nós então resolvemos destravar na presidência do Brasil e do Mercosul, nós vamos fazer esse acordo. E também estamos fazendo acordo para a Indonésia com o Mercosul, para a Malásia com o Mercosul, para a ASEAN com o Mercosul, ou seja, o nosso negócio é fazer negócio.
Por isso é que eu ando com bastante ministro, por isso é que o Fávaro [Carlos, ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento], quando a gente atingir os 500 mercados novos conquistados nesse mandato, ele vai fazer uma festa no ministério dele, e possivelmente alguém me dê um porco assado para comer, sabe? Lá no ministério dele. É assim que nós queremos fazer relação. Eu não me incomodo com a relação dos Estados Unidos, eles têm relação com quem eles quiserem, eu tenho com quem eu quiser, eu não quero contê-los.
Se é o Lulinha, paz e amor, é o Brasil, paz e amor. A gente não quer guerra, a gente quer paz. A gente não quer confusão, a gente quer negociação. A gente não quer demora, a gente quer resultado. Essa é a minha lógica na direção do Brasil.
Secretário Laércio Portela: Passar agora a pergunta para Américo, da CNN. Eu vou criar um prévio. Antes da pergunta, deixa eu fazer uma observação.
Eu vou criar um prévio... Américo.
Presidente Lula: O jornalista que mais me faz perguntas. (risos)
Américo Martins [CNN Brasil]: Com prazer, presidente. O jornalista tem que estar onde a notícia está.
Presidente, eu queria voltar à questão da ‘química’ com o presidente Donald Trump.
A gente tem a informação de que ele ficou muito impressionado com a sua trajetória política - que ele elogiou e demonstrou admiração.
Eu queria saber: o senhor também admira a trajetória dele? E, em caso positivo, que características do presidente Trump o senhor mais admira?
Ou o senhor considera que as trajetórias de vocês são totalmente diferentes?
Presidente Lula: A minha trajetória é de um chão de fábrica, de uma pessoa pobre, nordestina, que não morreu de fome até completar 5 anos, por sorte, que conseguiu sobreviver e chegar à República. A dele é de um homem bem-sucedido. Um empreendedor bem-sucedido, é um homem rico, que tem uma trajetória política totalmente diferente da minha.
O que eu disse para ele, eu fiquei lisonjeado quando soube que ele sabia da minha história. Eu disse para ele que a minha relação com ele não tem nada a ver com o pensamento político e ideológico de cada um. Eu tenho respeito por ele pelo fato dele ter sido eleito presidente dos Estados Unidos e eu quero só o respeito porque eu fui eleito presidente do Brasil.
É só isso. E o que eu acho que é química, gente? Eu sempre... Não tem nenhuma novidade quando eu digo para vocês que o ser humano é 80% química e 20% razão e emoção. Nós somos tocados à emoção, nós somos tocados ao nosso olhar, ao sentir as pessoas.
E eu acho o seguinte, eu acho que quem conhece a minha vida política sabe que eu tenho uma história que merece respeito, porque não é fácil o povo brasileiro ter a coragem de eleger um presidente que não tem diploma universitário para ser presidente da República. A ciência política não imaginava isso. Nunca escreveram sobre isso.
Então é importante que ele conheça a minha história. É importante, porque muita gente não conhece, muita gente fala, muita gente fala muita bobagem a meu respeito. E eu continuo sendo o que eu era, eu sei de onde eu vim, sei onde estou e sei para onde eu vou quando eu deixar a presidência da República.
E tem uma coisa que eu conquistei: o direito de andar de cabeça erguida. Você não imagina o valor que isso tem para uma pessoa que veio de baixo, que aprendeu a andar de cabeça erguida e a entender que não é melhor do que ninguém, mas que também não existe ninguém melhor do que ela.
Essa questão do respeito vale muito. Eu aprendi também que um ser humano só respeita quem se respeita. Se você não se respeitar, ninguém te respeita. Ninguém gosta de lambe-botas.
A gente tem que ser o que a gente é de verdade. E eu acho que foi isso que pintou entre mim e o presidente Trump. Espero que essa química dê frutos ao povo brasileiro e ao povo americano — e que possa prosperar.
Eu ainda não falei para ele, mas qualquer dia vou dizer que a gente pode ajudar a resolver essa guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Porque eu acho que a guerra chegou ao seu ponto de maturidade. Veja: já são três anos de conflito. Três anos de guerra.
O Putin já sabe o que quer, os eleitos já sabem o que querem. Cada um já sabe o que vai conseguir. O que está faltando é colocar na mesa de negociação isso.
E eu acho que estamos chegando no ponto de acabar com essa guerra no mundo. E não precisa ter mais guerra. O que me deixa meio triste é que no ano passado se gastou 2 trilhões e 700 bilhões de dólares em armas.
E não se gastou 10% disso para acabar com a fome no mundo. O que me deixa triste é que você acaba com o massacre em Israel, mas não recupera a vida de mais de 70 mil mulheres e crianças que morreram de forma inocente por irresponsabilidade de um líder político de Israel. Não do povo de Israel, mas de um líder político.
Então, essas coisas é que me fazem ser muito verdadeiro quando eu converso com as pessoas. Eu gosto de dizer as coisas que eu sinto com as pessoas para as pessoas me conhecerem plenamente. Eu não tenho meia cara.
Secretário Laércio Portela: Vamos seguir a lista? O próximo é o Assis. É isso? A lista que eu tenho aqui. Por favor, Assis.
Presidente Lula: Assinado o acordo? (risos)
Secretário Laércio Portela: Assinado e acertado entre eles, presidente. Por favor, Assis.
Assis Moreira [Valor Econômico]: Assis Moreira, do Valor Econômico, de São Paulo. Eu queria continuar a pergunta da colega.
Presidente Lula: Fala mais no microfone.
Assis Moreira [Valor Econômico]: Sobre a China: a gente vê hoje a economia internacional cada vez mais fragmentada, caótica, complexa, cheia de incertezas.
Presidente Lula: Deixa eu te dizer uma coisa. Primeiro que nós não estamos com um acordo firmado com os Estados Unidos. O que eu disse é que nós vamos fazer um acordo e que eu tenho o motivo de que o mais rápido possível esse acordo será selado. Isso não tem nenhuma implicação na relação do Brasil com a China. Nenhuma.
O Brasil vai continuar tendo a relação com a China, que tem. O Brasil vai continuar tendo a relação com a Malásia, que tem. O Brasil vai continuar tendo a relação com a União Europeia, que tem.
Sem nenhum problema. São duas coisas totalmente distintas. Não há condicionalidade para que a gente possa fazer um acordo e nem eu aceitaria condicionalidade.
Eu acho que muito menos o Brasil também aceitaria condicionalidade. Os Estados Unidos fazem acordo com quem quiser. Eu faço acordo com quem quiser.
É assim que é a regra do livre comércio no mundo. Então vamos lá. Você é o chefe.
Secretário Laércio Portela: Gente, vamos fazer o seguinte. Vamos lá. Vamos fazer o seguinte.
Teve seis nomes da imprensa. Vão os seis nomes que vieram para a gente aqui. Então, as duas a mais que tinham, o Daniel da Bloomberg e depois a gente vai encerrar a entrevista.
Por favor. Conforme o acordo feito com a China, e nós. Por favor, gente.
Por favor, por favor. Daniel, por favor. Os nomes que foram escolhidos pelos jornalistas.
Daniel Carvalho [Bloomberg]: Obrigado. Presidente, bom dia. Daniel Carvalho, da Bloomberg.
Eu queria voltar ao assunto da Venezuela.
Que expertise é essa que o senhor poderia trazer para as negociações?
Qual foi a reação do presidente Donald Trump quando o senhor se colocou à disposição para ajudar?
E, se o senhor me permite uma segunda pergunta:
Na Indonésia, pela primeira vez, o senhor falou sobre disputar a eleição no ano que vem sem condicionar isso à sua situação de saúde.
O que mudou para o senhor não fazer mais essa ressalva, presidente?
Presidente Lula: Obrigado. Na verdade, eu não deveria ter falado na Indonésia que eu era candidato. Eu tenho que falar no Brasil. Possivelmente, foi um lapso da minha parte. Não tenho voto lá. Foi um erro.
Nós não aprofundamos a discussão sobre a Venezuela. Eu é que toquei no assunto, porque no material que eu entreguei para o presidente Trump, estava colocada a questão da Venezuela, porque eu conheço a situação daquele país, eu sei o que está acontecendo lá e eu acho que é importante isso ser resolvido numa mesa de negociação. O que eu disse para o presidente Trump é que o Brasil tem expertise, porque já fizemos isso uma vez na Venezuela.
Eu tinha apenas 15 dias de posse em 2003, quando criamos o grupo de amigos para resolver o problema democrático na Venezuela, escolhemos para participar do grupo de amigos o Colin Powell, que era a secretário de Estado dos Estados Unidos, e colocamos a Espanha, que era o primeiro país a ter reconhecido o golpista que tomou posto no lugar do Chávez. Eu lembro como hoje o Fidel Castro ficou dizendo, não, mas você está entregando a Venezuela para o imperialismo. Eu falei, meu amigo, é o seguinte, eu estou fazendo uma negociação, eu estou criando um grupo de amigos da democracia da Venezuela, não o grupo de amigos do Chávez.
E para ter uma conversa para fortalecer a democracia, é preciso ter gente que tenha a respeitabilidade da oposição. Você não conversa só com um lado. E eu acho que é possível encontrar uma solução na Venezuela, se houver disposição de negociação, e também porque o Brasil tem interesse em que não haja guerra na América do Sul.
A nossa guerra é contra a pobreza, é contra a fome. Se a gente não conseguir resolver o problema da fome, como é que a gente vai fazer guerra? Para matar os famintos? Então eu quero ir para uma mesa de negociação. E foi essa a sugestão que dei ao presidente Trump.
Vamos colocar uma mesa de negociação, o Brasil tem disposição de conversar, sabe, de ajudar nisso. O que não dá é achar que tudo será resolvido na base da bala. É só isso, querido.
Ok, pessoal, agradeço.