Entrevista coletiva do presidente Lula após reunião bilateral com o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden

PRESIDENTE LULA: Eu não vou dizer coisas diferentes do que eu já disse lá. O que é importante é ter em conta que o que aconteceu hoje é uma novidade extraordinária. O presidente do Brasil e o presidente dos Estados Unidos fazendo o anúncio de uma ação conjunta em defesa do emprego decente. Isso me motivou a propor ao Biden, porque desde que ele tomou posse, ele tem falado muito do direito dos trabalhadores.

E ele estava incomodado como eu me incomodo, como qualquer sindicalista se incomoda, com a precarização do mundo do trabalho. Nós sabemos que todo trabalhador quer carteira profissional assinada. Tem trabalhador que quer ser empreendedor. Ótimo!

Mas a gente se preocupa que, mesmo para essas pessoas que querem fazer empreendedorismo, é preciso que haja o mínimo de garantia de seguridade social para ele. Porque quando tudo tá bem, ótimo.

E quando as coisas vão mal? É preciso que, então, apareça a figura do Estado tentando dar uma solução pra eles.

E, pra mim, foi extraordinário que o Biden topou fazer um anúncio junto com os dirigentes sindicais americanos e brasileiros. Aí eu acho que, daqui pra frente, a gente tem um instrumento para trabalhar nos outros fóruns que eu vou participar.

Eu vou presidir os Brics em 2025, eu vou presidir o G20. Nós vamos presidir a COP em 2025.

Então, é um assunto que, a partir de agora, eu vou discutir com todos os governantes que eu conversar para que a gente possa estabelecer um pacto, que isso possa ser aprovado uma coisa, num fórum como o G20, de que todos nós governantes vamos cuidar de não permitir que o povo que trabalhe seja vítima da insensatez daquele que quer o lucro fácil pagando salários baixos.

E, sobretudo, quando a gente tem que falar para o público jovem. O jovem que está terminando um ensino técnico agora, está terminando o ensino médio, que tem perspectiva de fazer universidade, que tem o sonho de trabalhar, é preciso que a gente trabalhe para que ele não perca a esperança.
Porque, se um jovem perder a esperança, tudo o mais estará pior.

E é importante, nesse momento que a gente fala de inteligência artificial, de mundo digitalizado, é importante que a gente monte cursos nas escolas para que a gente possa preparar a nossa juventude para esse novo mercado de trabalho, com salário decente para que as pessoas possam viver e construir sua família de forma respeitosa.

PERGUNTA JORNALISTA: Agora, como é que isso vai ser financiado?

PRESIDENTE LULA: Isso não vai ser financiado. Isso, não, não. O que nós tomamos foi uma decisão que não é de nenhuma ONG, nem de um sindicato. É uma decisão de dois governantes que querem fazer com que os seus mandatos na presidência e o mandato do governo, daqui pra frente, se preocupem em, junto com os trabalhadores, criar as condições para que a gente dê uma reversão no mundo do trabalho.

No Brasil, por exemplo, nós estamos com a comissão tripartite, em que a gente não tá discutindo recuperar as coisas do passado. Nós estamos muito mais preocupados em criar coisa nova.

Como é que vai ser a relação capital e trabalho daqui pra frente no século 21. Como é que vai ser a relação capital e trabalho no mundo empresarial digitalizado, em que as plataformas, muitas vezes, trabalham as pessoas quase que como um trabalho escravo.

Eu não sei se vocês sabem mas, no caso do Brasil, aquelas meninada que trabalha de moto, trabalha de bicicleta, às vezes ele não tem banheiro pra ir.
Às vezes eles trabalham de fraldão porque não tem banheiro pra ir. Inimaginável que nesse mundo todo digitalizado, todo moderno, o ser humano seja tratado ainda como se fosse escória, como se não merecesse respeito.

Então, eu quero dizer pra vocês que eu saio daqui dos Estados Unidos muito feliz porque é um sinal. Ainda não é uma conquista. É apenas um sinal de que as coisas estão mudando, de que Estados Unidos e Brasil vão trabalhar mais juntos.

A gente quer crescer junto economicamente. A gente quer mais investimento americano no Brasil. Ele quer mais investimento aqui. A gente quer mais comércio. Isso só é possível a gente conversando.

É muito tema. Se eu fosse dizer tudo pra você, eu teria aberto para imprensa participar.

Eu sempre admirei o Biden porque desde o discurso de posse que eu fiz uma carta, publiquei uma matéria dando os parabéns ao Biden pela visão que ele tem do mundo sindical.

Porque tem empresário que acha que não tem que existir sindicato. O que eu acho uma ignorância, porque o sindicato é a voz do trabalhador na mesa de negociação. Então, o que o empresário tem que entender é que, quanto mais o trabalhador for forte, mais ele pode ganhar.

É verdade que os trabalhadores vão ganhar um percentual a mais, mas os trabalhadores vão consumir os produtos fabricados pelo próprio empresário que vai receber o aumento de volta vendendo os seus produtos.

Não precisa. Eu tenho utilizado nos últimos tempos uma frase que é pra tentar mostrar para as pessoas o significado. Quando uma nação tem pouca gente muito rica, significa pobreza, significa miséria, significa desnutrição, prostituição, violência.

Quando uma nação tem muitos ganhando pouco, significa distribuição de renda, significa melhoria de acesso à educação, à saúde, alimentação. É esse país que nós queremos construir, onde todos tenham o direito de viver decentemente.