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Entrevista coletiva concedida pelo presidente Lula na sede da ONU, em Nova York
Quero cumprimentar minha querida companheira Janja [Lula da Silva, primeira-dama do Brasil]; meus queridos companheiros ministros e ministras, Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública; ministro Camilo Santana, da Educação; ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima; Jader Filho, ministro das Cidades; Márcia Lopes, ministra das Mulheres. Também me acompanhou a ministra Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas, que vai ficar em Nova York.
Quero cumprimentar o meu querido companheiro governador do estado do Ceará, Elmano de Freitas, que veio aqui para participar de uma reunião com o TikTok, porque ele está anunciando um data center no estado do Ceará, no porto de Pecém.
Quero cumprimentar o meu querido companheiro Celso Amorim, que é o meu assessor especial na Presidência da República; o companheiro Audo Faleiro, que é outro assessor especial; a nossa querida embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti, embaixadora do Brasil nos Estados Unidos; e o nosso querido [embaixador] Sérgio Danese, que está na mesa representando permanente junto às Nações Unidas. E o nosso embaixador Maurício [Carvalho Lyrio, secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores], que é o nosso negociador de todas as causas difíceis desse país. E o Igreja [Fernando Luís Lemos, chefe do Cerimonial da Presidência da República], que é o meu chefe de cerimonial, é o cara que eu mais brigo com ele, e a esposa do companheiro, a Ângela, companheira do nosso embaixador.
Bem, a minha companheira Janja é a primeira. Eu não sei quantas vezes as mulheres viajaram com o marido para ser só o papel de primeira-dama. A Janja veio para cá para fazer uma agenda acho que mais intensa que a minha. Ela veio antes de mim, ela participou de uma reunião “Despertar das Mulheres” [evento "Women Rise for All Lunch"], foi um almoço com a vice-secretária-geral das Nações Unidas, depois ela teve uma reunião das enviadas especiais com os grupos de mulheres afrodescendentes e direitos humanos sobre a COP30. Depois ela teve um jantar para os enviados especiais da COP30, depois teve um encontro de alto nível sobre “Alimentação escolar regenerativa para pessoas e planeta”. Depois teve uma reunião com a diretora-executiva para a África e Parcerias Globais do Instituto de Recursos Mundiais. Depois teve um café da manhã ministerial de alto nível para campeãs da nutrição, depois teve um evento perspectiva do Brasil a caminho da COP30. E, graças a Deus, está livre para me acompanhar de volta ao Brasil.
Eu penso que esta reunião da ONU tem uma importância muito gratificante para o Brasil. Primeiro, porque nós queríamos reforçar no discurso que fizemos na ONU a ideia do multilateralismo, a ideia da democracia e reforçar a nossa COP30, em Belém, na Amazônia, no mês de novembro.
E, além de poder ter feito um discurso que levantava esses temas, eu tive uma outra satisfação de ter um encontro com o presidente Trump [Donald, presidente dos Estados Unidos da América]. Aquilo que parecia impossível deixou de ser impossível e aconteceu. E eu fiquei feliz quando ele disse na COP que pintou uma química boa entre nós. Como eu acho que a relação humana é 80% química e 20% emoção, eu acho que é muito importante essa relação — e eu torço para que dê certo, porque Brasil e Estados Unidos são as duas maiores democracias do continente. Nós temos muitos interesses empresariais, nós temos muitos interesses industriais, nós temos muitos interesses tecnológicos e científicos, nós temos muito interesse no debate sobre a questão digital e a inteligência artificial, nós temos muito interesse na questão comercial.
Portanto, se nós somos as duas maiores economias e os dois maiores países do continente, não há porquê que Brasil e Estados Unidos vivam em momentos de conflito. Eu fiz questão de dizer ao presidente Trump que nós temos muito o que conversar, tem muitos interesses dos dois países em jogo, tem muita coisa para discutir sobre a necessidade da gente garantir a paz no planeta Terra. E eu fiquei satisfeito quando ele disse que é possível a gente conversar e, quem sabe, dentro de alguns dias, a gente possa se encontrar e fazer uma pauta positiva entre Estados Unidos e Brasil, e Brasil e Estados Unidos. É isso que eu quero e eu acho que é isso que ele deve querer também.
Eu, na minha relação com chefe de Estado, a coisa que eu mais respeito é que o chefe de Estado, se ele for eleito pelo seu povo, eu não quero saber ideologicamente se ele gosta ou não gosta de mim, se ele professa a mesma ideologia que eu. Isso nunca está em jogo na minha relação com o chefe de Estado. E não quero que esteja em jogo na relação das pessoas comigo. O que importa para mim é que a pessoa, sendo eleita, a pessoa merece o meu respeito como chefe de Estado brasileiro na relação sobre os assuntos que interessam ao Brasil e aos Estados Unidos.
Todo mundo sabe da minha tenacidade de comportamento na questão de encontrar a paz. Eu não consigo entender por que o mundo quer destruir quando nós precisamos construir. Não é normal o que está acontecendo na Rússia e na Ucrânia, não é normal o que está acontecendo em Gaza, não é normal a quantidade de conflito que nós temos, que é o maior número desde 1945, do fim da [Segunda] Guerra Mundial. Não é normal a quantidade de países que estão gastando trilhões de dólares em armamento, quando nós precisamos gastar trilhões de dólares para acabar com a fome no mundo, que são 670 milhões de seres humanos passando fome. Não é normal a quantidade da desigualdade que ainda existe no planeta, desigualdade de gênero, de raça, de comida, de oportunidade.
E cabe à gente utilizar os recursos que nós conseguimos produzir em cada economia para que a gente possa diminuir essa desigualdade e fazer do planeta Terra um habitat normal para todos os seres humanos e não apenas para alguns privilegiados que detêm muitos recursos.
Eu acho que é essa coisa que nós vamos discutir daqui para frente, é isso que eu estou imbuído com o desejo de discutir. Eu estou muito feliz, porque a gente tinha acabado com a fome no Brasil em 2014, quando eu voltei, agora em 2023, a gente tinha 33 milhões de pessoas outra vez passando fome e nós acabamos com a fome outra vez, em dois anos e meio, e essa coisa é uma demonstração que se todos os governantes do mundo colocarem o pobre dentro do Orçamento, a gente acaba com a pobreza muito rapidamente.
Porque além de 670 milhões de pessoas passando fome, segundo a FAO, nós ainda temos 2 bilhões e 300 milhões de seres humanos com insuficiência alimentar. Não é crível uma coisa dessa, num mundo que produz alimento suficiente para todo mundo. O problema é que as pessoas não têm recursos para ter acesso aos alimentos. E aí, quando você vê as pessoas gastarem trilhões em armas, trilhões em guerras, a gente não tem explicação do comportamento dos humanos em tratar a própria espécie humana.
Então, eu regresso para o Brasil muito feliz com as coisas que aconteceram aqui. Foi muito importante a construção do fundo TFFF, ou seja, o Fundo Floresta Tropicais para Sempre, porque não é um fundo de doação, é um fundo de investimento. E quem fizer investimento vai ganhar dinheiro e uma parte desse dinheiro vai ser aplicado para que a gente mantenha a floresta em pé nos países que tenha.
No caso do Brasil, é muito interessante porque, além de a gente ter a maior reserva florestal do mundo, a gente ainda tem 40 milhões de hectares de terra degradadas em que a gente pode florestá-la com o que a gente quiser. Numa demonstração de que o problema do clima depende pura e simplesmente da vontade política de cada governante e, mais importante, da gente acreditar na ciência.
Não é mais um presidente da República dizer “eu acho, eu acredito”. Não. A gente, quando está no cargo, a gente não acha e nem acredita. A gente assiste àquilo que fala a ciência e a gente cumpre, da melhor forma possível, as coisas para a gente resolver esse problema. E já está provado que nós temos condições de manter a temperatura do planeta abaixo de um grau e meio, já está provado. É só vontade, é só vontade.
E, ao mesmo tempo, nós temos que utilizar os combustíveis fósseis, mas tendo ele como a expectativa de que a gente vai ter que utilizar esse dinheiro para ir investindo no fim do combustível fóssil, para que a gente possa fazer a transição energética mais competitiva e que seja resolutiva para dar garantia energética à humanidade.
Eu acho que isso vai acontecer em Belém. Eu tenho dito que, em Belém, a gente vai fazer a COP da verdade. Porque, se a gente não fizer a COP da verdade, a humanidade vai perder a crença nessas reuniões de chefes de Estado. Então tem G7, então tem G20, então tem BRICS, então tem COP, então tem um monte de coisa, se discute muita coisa e não se aplica as coisas que se discutiram. Então não há porque a humanidade continuar acreditando.
Então essa COP, eu tenho dito que será a COP da verdade, porque nós vamos ter que colocar alguns cientistas para falarem aos chefes de Estado. É muito importante que o presidente Lula… Eu convidei o presidente Trump para ir a COP, se ele estiver lá é muito importante que ele, é muito importante que o presidente Macron [Emmanuel, presidente da França], é muito importante que o primeiro-ministro Modi [Narendra, da Índia], é muito importante que todos que compareçam lá ouçam os cientistas dizerem o que está acontecendo no mundo para facilitar a nossa tomada de decisões.
Todos vocês sabem que eu também defendo uma governança mundial mais forte. É por isso que nós temos brigado há muito tempo para que a ONU seja reformulada, desde o seu estatuto até a sua composição, com todos os membros, permanentes ou não, porque ela está mal representada. A fotografia de 2025 do mundo não é mais a fotografia de 45.
Os países evoluíram, a humanidade evoluiu. Então é preciso ter mais países, é preciso acabar com o direito de veto na ONU, precisa acabar com o direito de veto, e é preciso que, sobretudo na questão do clima, quando a gente tomar posição, que tiver uma votação, é preciso que todos cumpram. Aí sim, se um país não cumprir uma decisão que prejudica o planeta, ele merece ser punido, não de forma unilateral, ser punido pelo conjunto dos países e pelo conjunto da humanidade.
Agora, isso tem que ser discutido, isso precisa ser discutido. A ONU não é dos membros fixos que ficaram membros fixos quando ela foi construída. A ONU é da humanidade, então é preciso que a gente reformule a ONU para que ela tenha força de evitar guerras como em Gaza, de evitar guerras como na Ucrânia, evitar a quantidade de conflitos espalhados pelo mundo hoje e, ao mesmo tempo, a gente tomar decisão para resolver a questão do clima, que pode levar o ser humano a se transformar no primeiro animal vivo capaz de destruir o seu habitat natural.
É uma coisa fantástica, porque dizem que nós somos os únicos animais inteligentes e nós somos os únicos que matamos sem necessidade, roubamos sem necessidade. E, ao mesmo tempo, destruímos o lar que a gente vive. É esse desafio que está colocado na COP30, por isso ela está sendo feita na Amazônia. Tem muita gente que dá palpite sobre a Amazônia, tem muita gente que fala da Amazônia sem conhecer a Amazônia. E é preciso as pessoas saberem que na Amazônia da América do Sul moram mais de 50 milhões de pessoas, e essas pessoas moram nas cidades com vários problemas e que, portanto, nós temos que cuidar disso.
É esse desafio que está colocado para nós, é esse desafio que nós viemos colocar aqui no debate que nós fizemos sobre tanto o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre quanto na discussão das NDCs. A reunião não terminou ainda, mas eu acho que os países estão apresentando NDCs bastante vigorosas e razoáveis. E eu acho que isso vai ser muito importante, porque a primeira demonstração de seriedade com a questão do clima é as NDCs serem fortes.
O Brasil apresentou de 59% a 67%, é uma proposta forte do Brasil, e a gente apresentou em todas as áreas econômicas e a gente ainda vai cumprir um compromisso nosso, um compromisso nosso, não é um compromisso com ninguém, é um compromisso de nós com nós mesmos. Eu diria, no linguajar caipira: de nós conosco. Nós assumimos o compromisso de até 2030 a gente chegar ao desmatamento zero na Amazônia. E, portanto, como ninguém pediu para a gente propor e a gente propôs, nós temos a responsabilidade de cumprir.
Então, eu volto agora para o Brasil satisfeito com a nossa reunião, otimista com a possibilidade de Brasil e Estados Unidos fazerem uma reunião o mais rápido possível e acabar com o mal-estar que existe hoje na relação Brasil-Estados Unidos. É isso que eu queria falar para vocês e deixar um pouco para vocês fazerem pergunta, porque se eu for falar tudo, depois não precisava responder pergunta e eu ia embora. Mas eu vou deixar vocês fazerem alguns questionamentos, porque é justo nessa liberdade de imprensa, que tanto nós defendemos, que a imprensa possa fazer as perguntas sem veto, sem veto.
Jornalista Edith Lederer (Associated Press): Sr. presidente, muito obrigada, em nome da Associação de Correspondentes das Nações Unidas.
Presidente Lula: O meu intérprete está pedindo para você começar de novo.
Jornalista Edith Lederer (Associated Press): Sr. presidente, muito obrigada, em nome da Associação de Correspondentes das Nações Unidas. Meu nome é Edith Ledford, eu sou da Associated Press, AP. O presidente Trump falou sobre o seu sentimento, sobre a química quando ele o encontrou. Você também, presidente, sentiu aquela química? E o que você esperaria que seria o resultado da sua reunião com o presidente Trump, que nós entendemos que pode ocorrer até o meio da semana que vem, tão cedo assim? Obrigado.
Presidente Lula: Olha, o povo brasileiro tem muita expectativa numa boa relação entre Estados Unidos e Brasil. E eu acho que o povo americano também tem. É importante, Edith, você ter conhecimento. Eu tenho uma relação muito antiga e muito forte com o movimento sindical americano. Há muitos e muitos anos. E eu acho que é muito importante que a gente esteja bem, porque nós precisamos de emprego, nós precisamos de melhor salário, nós precisamo de mais investimento, tanto do Brasil nos Estados Unidos, quanto dos Estados Unidos no Brasil.
O que é que eu espero? Eu espero que, numa conversa entre dois chefes de Estado, nós coloquemos na mesa quais são os nossos problemas, quais são as nossas diferenças, e começamos a tomar decisões. Eu estou convencido que algumas decisões tomadas pelo presidente Trump se deveram ao fato da qualidade de informações que ele tinha com relação ao Brasil. Na hora que ele tiver as informações corretas, eu acho que ele pode mudar de posição tranquilamente, da mesma forma que o Brasil pode mudar de posição. Eu acho que é isso que acontece.
O que aconteceu com o meu encontro com o Trump é que nós nunca tínhamos nos encontrado. E nos encontramos por acaso. Naquela mesma sala, eu já encontrei com o Bush [George, ex-presidente dos Estados Unidos da América], eu já encontrei com o Obama [Barack, ex-presidente dos Estados Unidos da América], eu já encontrei com o Biden [Joe, ex-presidente dos Estados Unidos da América]. Nem sempre eu consigo encontrar com os presidentes americanos.
Encontrei com o presidente Trump, estendi a mão para ele, cumprimentei, e disse para ele que o Brasil e os Estados Unidos têm muita coisa para conversar, têm muitos assuntos em jogo, e não tem limite de assuntos para a gente conversar. E não tem veto de assunto: é qualquer assunto. Mas para isso tem que ter uma conversa. Para isso tem que ter uma conversa.
Eu tenho muitas coisas para conversar, eu tenho certeza que ele tem muitas coisas para conversar, e eu acho que, entre dois chefes de Estado, de dois países importantes como o Brasil e os Estados Unidos, precisam conversar com base em dados verdadeiros, em coisas verdadeiras. E eu acho que ele está mal informado com relação ao Brasil e, possivelmente, isso tenha levado ele a tomar algumas decisões que não são aceitáveis na relação de dois países que têm relação diplomática há mais de 200 anos. Então, na hora que a gente tiver o encontro, eu acho que tudo isso ficará resolvido. E o Brasil e os Estados Unidos voltarão a viver em harmonia e quimicamente estáveis.
Jornalista Augusta Saraiva (Bloomberg): Boa tarde, presidente. Augusta Saraiva, da Bloomberg. Presidente, ainda sobre o presidente Trump, eu queria saber se o senhor podia nos dar um pouco mais de detalhes sobre o que o Brasil espera levar à mesa, e se o senhor vê espaço para redução de tarifas já depois desse primeiro encontro. E se ele poderia ser presencial e quem participaria. Obrigada.
Presidente Lula: Seria precipitado da minha parte dizer o que eu vou negociar antes de começar a negociar. Aí seria você vetar até possibilidade de conversa. Nós temos que sentar, colocar na mesa todos os problemas, os problemas que ele tem com relação ao Brasil, os problemas que eu tenho com relação aos Estados Unidos, e a partir daí a gente começa a discutir. O que não é discutível? É a soberania brasileira. E a nossa democracia, isso não é discutível. Nem com o presidente Trump, nem com nenhum presidente do mundo. Isso é uma soberania brasileira que a gente não abre mão.
Eu acho que ele tem informações equivocadas sobre o Brasil. E eu quero colocar para ele, claramente, de acordo com os interesses dele querer saber, eu vou falar o que está acontecendo no Brasil. Eu posso dizer para você que do ponto de vista dos interesses do povo brasileiro, do povo comum e do empresariado, e do povo da classe política, é que haja uma conversa entre nós. Há muito desejo, há muitos investimentos em jogo.
Nós temos um fluxo comercial muito importante. Então eu não sei quem foi que disse para o presidente Trump que ele tinha um déficit comercial com o Brasil. Ele teve um superávit em 15 anos de 410 bilhões de dólares. Então, como eu não sei quem é que deu informação para ele, eu espero que, sentado em uma mesa, eu, ele, os assessores dele, meus assessores, a gente possa restabelecer a harmonia necessária que tem que ter entre o Brasil e os Estados Unidos.
Quando tiver eleição nos Estados Unidos, eu não me meto, e quando tiver eleições no Brasil, ele não se mete. É assim que a gente faz. A gente acata o resultado da soberania do povo nas urnas de cada país.
Jornalista Augusta Saraiva (Bloomberg): E poderá ser presencial? Poderá ser presencial?
Presidente Lula: Por mim pode ser. Aí nós temos que discutir como é que é a reunião. Como a gente não vai discutir nenhum segredo de Estado, não tem nada, para mim pode ser público.
Jornalista Ibtisam Azem (Al-Araby Newspaper): Olá, meu nome é Ibtisam Azem, do Al-Araby Newspaper. Eu queria começar seguindo um pouco essa conferência de solução de dois Estados, onde você acredita que essa conferência veio muito tarde e pouco foi feito. E o que nós podemos fazer para impedir a continuação do genocídio imediatamente em Gaza? E o papel do Sul Global? Nós sabemos que os países continuam a dar, muitos países continuam a dar armas para essa guerra. O que você quer que aconteça ali? Que tipo de entregas podemos fazer com relação a Gaza, presidente?
Presidente Lula: Olha, eu penso que o mundo inteiro já está tomado da percepção de que você não tem uma guerra em Gaza. Você tem um genocídio de um exército fortemente preparado contra um povo indefeso. Sobretudo mulheres e crianças. Ora, eu, até ontem, no meu discurso, eu avoquei o povo judeu que tem lutado também contra o Netanyahu [Benjamin, primeiro-ministro de Israel]. Tem muita gente dentro de Israel que não concorda com o massacre que está acontecendo. Tem muita gente fazendo protesto de que é preciso parar com esse genocídio.
Esse genocídio só está acontecendo porque quem pode parar não tomou a atitude de parar. O Conselho de Segurança da ONU poderia ter tomado uma atitude mais forte. Poderia ter tomado uma atitude. A mesma ONU que teve força para criar o Estado de Israel precisa ter força para criar o Estado Palestino. O Brasil, desde 2010, já votou a favor da criação do Estado Palestino. Porque, para nós, a única solução é a existência de dois Estados vivendo harmonicamente e sem nenhum problema.
O que não é possível é que você demarcou umas terras em 1967 e que isso não está sendo cumprido. Então, nós não podemos assistir o genocídio, o povo palestino ser exterminado. E aí também a irresponsabilidade do Hamas, que nós já condenamos o atentado contra o povo de Israel. E o Hamas não pode ter feito o que fez e depois deixar o povo se matar e ser assassinado como está sendo.
Por isso é que eu acho que a decisão de ontem foi importante. Ela foi tardia, mas ela aconteceu. E, a partir de agora, eu acho que outras coisas vão acontecer até a gente poder ver o povo palestino construir o seu Estado e viver em paz com o povo judeu.
Jornalista: Que atitudes práticas podem ser tomadas agora, presidente? Porque, apesar de todo o reconhecimento dos Estados-membros do genocídio, dos assentamentos, isso está acontecendo há dois anos. Portanto, precisa haver passos concretos. O que você acha que precisa ser feito, presidente?
Presidente Lula: Isso não está acontecendo há dois anos. Isso está acontecendo há várias décadas. Há várias décadas que Israel ocupa a terra que foi demarcada para os palestinos. Há várias décadas. Então, eu acho que, a partir da decisão de ontem, com mais de 150 países-membros, a ONU tem agora documento, tem uma decisão coletiva da sua maioria para tentar chamar Israel à responsabilidade.
Eu acho que o Conselho de Segurança da ONU, a partir de ontem, tem, inclusive, que ter aos membros permanentes a responsabilidade de não ter mais veto. Tomar uma decisão unânime entre todos eles e fazer com que o Estado de Israel respeite essa decisão. É isso que nós queremos. E eu acho que é isso que precisa acontecer. Da parte do Brasil, a gente vai cobrar a ONU para ela executar a decisão que foi tirada ontem. É isso.
Jornalista Giulia Granchi (BBC News Brasil): Presidente, caso esse encontro com Trump aconteça, eu queria perguntar se o senhor teme sofrer algum tipo de constrangimento, como aconteceu com Zelensky [Volodymyr, presidente da Ucrânia] e com Ramaphosa [Cyril, presidente da África do Sul], e se o senhor pretende pedir para que as sanções contra Morais [Alexandre, ministro do Supremo Tribunal Federal] e outros ministros sejam revogadas?
Presidente Lula: Você está querendo que eu diga o que vai acontecer na reunião. Deixa eu dizer uma coisa para vocês. O Trump faz 80 anos em junho do ano que vem. Eu faço 80 anos em outubro deste ano. Portanto, eu sou mais velho do que ele e somos dois homens de 80 anos. Não há por que ter brincadeira numa relação entre dois homens de 80 anos de idade. Eu vou tratá-lo com o respeito que merece o presidente dos Estados Unidos e ele certamente vai me tratar com o respeito que merece o presidente da República Federativa do Brasil.
É assim que vai acontecer a reunião. Dois homens com 80 anos. Dois homens que se sentem muito jovens. Ele ontem falou que se não fosse o preparo físico dele ele teria caído da escada rolante. E eu todo dia me preparo fisicamente. Eu digo todo dia. Eu vou fazer 80 anos, mas estou com a saúde e a força física de 30. Então, eu acho que nós vamos conversar como dois seres humanos civilizados. Não existe espaço para brincadeira, o que existe é espaço e necessidade de conversar seriamente sobre os conflitos.
E obviamente que eu vou colocar na mesa os problemas da ótica do Brasil e ele vai colocar da ótica dos Estados Unidos. Uma conversa começa assim. Depois dessa conversa, vamos ver o que vai acontecer. Eu estou muito otimista porque eu acredito muito na relação humana. Eu não sei quantos políticos no mundo acreditam na relação humana como eu acredito.
Eu acho que tudo pode ser resolvido quando duas pessoas conversam. Eu acredito muito no poder de convencimento das palavras. E como eu sou muito verdadeiro, eu quero que ele saiba do Brasil aquilo que é verdadeiramente do Brasil. Eu quero que ele me diga qual é a informação que ele recebeu do Brasil. Eu quero saber qual é o problema com relação ao Brasil.
Se o Trump está preocupado com o trabalho do povo americano é um direito dele e é justo que ele esteja preocupado. Se ele acha que é preciso taxar um ou outro produto porque é preciso evitar muitos produtos estrangeiros nos Estados Unidos, é um direito dele. Eu, de vez em quando, faço isso no Brasil.
Agora, o que eu quero é que a gente debata isso numa coisa chamada Organização Mundial do Comércio [OMC] para que a gente possa fortalecer o multilateralismo. O multilateralismo é que permitiu que o mundo ficasse em harmonia desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Então, nós temos muita coisa para conversar. Muita coisa. E eu acredito muito no poder da palavra. E, portanto, eu tenho interesse nessa conversa. E espero que ela aconteça logo.
Jornalista Elaine Reyes (CGTN): Presidente Lula, eu gostaria de ter seus pensamentos sobre os compromissos assumidos aqui na Cúpula do Clima. Nós ouvimos que o presidente Xi Jinping [presidente da República Popular da China] anunciou vários compromissos firmes, incluindo cortar carbono em 20%, que é uma meta dura, e aumentar a capacidade da energia solar e eólica de 6 a 20 níveis a mais. Eu queria que o senhor falasse sobre projetos da China, reagir a isso. E os detalhes sobre o TFFF, se você espera mais contribuições para este fundo?
Presidente Lula: Primeiro eu vou começar pelo fundo. Eu espero que este fundo seja uma coisa de muito sucesso. Porque não é um fundo em que as pessoas vão ter que fazer doação. As pessoas vão fazer investimento e vão ganhar dinheiro pelo investimento que fizerem. E uma parte desse investimento é que vai para que a gente possa criar o fundo. É uma inovação extraordinária que teve o apoio de muita gente e a coordenação do Banco Mundial, se não me falha a memória. E eu espero, se o Brasil anunciou um bilhão de dólares, eu fico imaginando o quanto que os Estados Unidos podem apresentar nesse fundo de investimento.
Então por isso é que eu estou muito otimista com relação ao fundo e estou muito otimista com relação à participação dos Estados Unidos nessa questão climática. Os Estados Unidos sabem, as pessoas sabem que a questão climática não é brincadeira, de que o mundo está passando muita necessidade.
E eu fiquei feliz com o anúncio do presidente Xi Jinping. Fiquei muito feliz porque a China é um país muito grande. Em 2009, quando eu participei da COP em Copenhague [capital da Dinamarca], o mundo desenvolvido queria jogar a responsabilidade da poluição do planeta em cima da China.
E o Brasil e a África tomaram a atitude de dizer que a gente não ia aceitar que a China fosse punida porque tem uma dívida histórica dos países industrializados com a emissão de gás de efeito estufa e que ele tem, portanto, um contencioso de dívida com o mundo e precisa pagar ao invés de querer culpar só a China.
E a verdade é que nos últimos anos a China avançou muito na sua transição energética, na diminuição da emissão de carbono. E precisa evoluir mais ainda. Eu fiquei feliz porque o Xi Jinping, além de anunciar um montante importante, ele ainda disse que é possível avançar mais. Então eu estou otimista. Estou otimista que nós vamos chegar na COP30 com todos os países tratando com muita seriedade.
E eu, sinceramente, gostaria de discutir com os chefes de Estado. Eu gostaria de ver os argumentos das pessoas que são contra, por que as pessoas não acreditam, porque é assim que a gente convence as pessoas. E a COP30 vai ser um pouco isso. Eu espero que participem todos os chefes de Estado. Eu adoraria que o Xi Jinping participasse, que o Trump participasse, que o primeiro-ministro Modi participasse. Eu gostaria que todo mundo participasse.
Porque é a hora da verdade. Em se tratando de clima, é a hora da gente dizer se a gente quer continuar sendo respeitado pelo mundo que nós representamos ou se a gente vai brincar com o clima. É isso que vai acontecer. Por isso que eu estou muito otimista. Eu saio daqui com a certeza de que tem muita gente levando a sério essa questão do clima.
Por isso que eu gostaria… Eu fiz uma carta ao presidente Trump convocando ele. Fiz uma carta ao presidente Xi Jinping. Fiz uma carta a todos os países ligados à ONU para comparecer no Brasil. Todos serão tratados com muito respeito. A culinária na Amazônia, no Estado do Pará, é a melhor do mundo. Não tem lugar para se comer melhor do que na Amazônia. Você vai comer o melhor peixe do mundo, a melhor moqueca do mundo.
É verdade, o Pará possivelmente seja a culinária mais rica do Brasil. Possivelmente seja a culinária mais rica do Brasil. A mega diversidade de pratos no Pará, além de que você pode tomar açaí à vontade e ficar bem forte, bem saudável. Então, é muito importante. Eu, sinceramente, acho que vou reiterar a minha carta para todos os presidentes outra vez.
Porque eu acho que é tão importante essa COP, é tão importante que eu acho que o BRICS inteiro deveria participar, o G20 inteiro deveria participar, o G7 inteiro deveria participar, para que a gente pudesse, enquanto chefe de Estado, passar um pouco de serenidade e seriedade para a humanidade que nós pensamos que representamos. Então, eu saio daqui crente de que as coisas vão acontecer. Saio muito otimista.
Jornalista Nilson Clava (TV Globo): Boa tarde. Desculpa. Nilson Clava, repórter da TV Globo. Queria ouvi-lo, presidente, sobre duas questões. Um, o senhor foi surpreendido com a fala de Donald Trump ou o governo brasileiro já tinha recebido algum sinal, algum gesto por parte da diplomacia ou do governo americano de que eles estariam dispostos ao diálogo, teriam mudado de posição?
E, segunda questão, o senhor disse que o Brasil não está disposto a negociar soberania e democracia. Minha pergunta é o que o Brasil estaria disposto a negociar, por exemplo, a questão dos minerais críticos de terras raras. Esse é um ponto que pode estar na mesa de negociação?
Presidente Lula: Deixa eu te contar. Eu, primeiro, fui surpreendido. Eu fui surpreendido, porque eu já estive ali outras vezes e não encontrei sempre com o presidente. Era normal não encontrar com o presidente. E, para mim, fui surpreendido, porque eu tinha acabado o meu discurso, eu já estava saindo, ia pegar as minhas papeletas e ir embora, quando o Trump veio para o meu lado. Com uma cara muito simpática, muito agradável.
E eu acho que pintou uma química mesmo. Eu acho. Eu acho que foi uma surpresa boa e eu acho que a gente deve continuar. Eu nunca coloco na mesa as coisas que eu tenho divergência. Agora, as coisas que nós entendemos que são razoáveis, nós temos que colocar na mesa. Quando eu digo a questão da democracia brasileira e a questão da soberania inegociável, como é inegociável em qualquer país do mundo.
Nós temos uma Suprema Corte que tomou uma decisão num processo que foi muito minucioso. Todo mundo teve direito a tudo que era necessário para se defender. E as pessoas estão sendo acusadas, não porque são essas pessoas, mas porque cometeram um delito, cometeram um crime. E eu acho que o presidente Trump tem que compreender isso. Isso não está em jogo. O que está em jogo?
Nós discutimos com o mundo inteiro as nossas terras raras. Nós queremos discutir com o mundo inteiro os nossos minerais críticos. Nós queremos que empresas que quiserem explorar vão para o Brasil explorar. O que a gente não quer é permitir que aconteça como aconteceu até agora com os minérios. A gente é só exportador, só exportador, só exportador, e não faz o processo de industrialização dentro do Brasil.
Então, eu criei um Conselho de Política Mineral em Terras Raras ligado à Presidência da República, porque agora a gente vai assumir a responsabilidade pela nossa riqueza e que o Brasil ainda não conhece 70% do seu território. E nós temos muita coisa. Eu tenho lido muito sobre terras raras, tenho lido muito sobre minerais críticos. Estou estudando, porque é para ninguém me enganar. Estou estudando, ninguém vai me enganar mais.
Então, o que eu quero é o seguinte, o Brasil também não quer ser isolado do mundo, não. Se a gente estabelecer acordo com empresas que queiram fazer o processo de transformação no Brasil, será bem-vindo qualquer parceiro de qualquer parte do mundo. Eu disse ao presidente Trump o seguinte: não tem limite da nossa conversa.
Vamos colocar na mesa tudo, tudo que acha que deva conversar. Eu sou um cidadão sem preconceito. E sou um homem muito, muito disposto. Eu comecei a minha vida negociando. Eu sempre negociei. Perdi e ganhei. No caso do Brasil, a gente não tem que perder, a gente tem que ganhar e também os outros têm que ganhar, porque tem que ser um acordo de ganha-ganha.
Essa é a minha disposição. E eu espero que seja a disposição dos Estados Unidos também, porque isso será bom. Será bom para a nossa economia, para a nossa indústria, para o nosso comércio, para a nossa agricultura e para a relação das duas democracias mais importantes da América.
Jornalista Nilson Clava (TV Globo): Presidente, rapidamente, só representando os colegas, que eles também tinham uma dúvida que eu acho importante de a gente colocar aqui antes de terminar. Primeiro, o senhor está disposto, então, a semana que vem talvez voltar para os Estados Unidos para esse encontro presencial? E segundo, não deixar de comentar o encontro com Zelensky também. O senhor falou sobre a guerra na Ucrânia com o Zelensky? Como foi essa conversa?
Presidente Lula: Então, deixa eu lhe falar. Se eu criar em vocês uma expectativa de que eu estarei voltando daqui a semana que vem e não acontecer, vocês vão ficar frustrados. Então, eu prefiro, regressando ao Brasil, colocar o meu pessoal para trabalhar com o pessoal do Trump e ver quando é que a gente marca isso. Isso não tem pressa. Não precisa ser ontem, ou melhor, amanhã ou depois da manhã. Vai ser quando ele achar que deva conversar, vamos conversar. É como eu disse, eu estou disposto a conversar.
Com relação ao Zelensky, eu achei muito importante a conversa com o Zelensky, porque eu acho que essa guerra, ela começou com dois países achando que um ia ganhar do outro rapidamente. Eu acho que o Putin [Vladimir, presidente da Rússia] achou que ia ganhar a guerra rapidinho, e acho que o Zelensky pensou que ajuda europeia e americana ia permitir que ele ganhasse rapidinho.
Não aconteceu nenhuma das duas coisas. Então, já faz três anos. Eu acho que as pessoas já sabem o limite de negociação. Ninguém tem coragem de falar ainda, mas acho que todos eles já têm o limite de negociação. Eu tinha feito uma proposta baseada no documento assinado pelo Brasil e pela China na criação de grupos de amigos que o secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres] devesse juntar um grupo de países que quisesse construir a paz, que fosse a Moscou [capital da Rússia] conversar com o Putin, que fosse a Kiev [capital da Ucrânia] conversar com o Zelensky e construísse uma proposta para fazê-la publicamente.
O secretário-geral da ONU me disse que não tinha autorização para fazer isso. Mas essa proposta continua em pé e eu falei para o Zelensky hoje. Eu hoje senti o Zelensky com muito mais vontade de conversar do que em outras reuniões, que eu acho que é a mesma coisa do Putin. O que eu acho é que possivelmente os dois ainda não estejam preparados para dizer o que eu abro mão e o que eu não abro mão.
Por isso que era importante que a ONU assumisse um papel relevante. Eu, na verdade, o que eu gostaria era que a ONU voltasse a ter protagonismo e ela fosse o porta-voz de todos os países filiados à ONU nesta negociação. A mesma coisa vale para Gaza. Se você não tiver o interlocutor, as coisas não funcionam. Então, o que eu disse para o Zelensky é que eu vou me esforçar, conversar com quem eu puder conversar para ver se a gente consegue. Inclusive, vou conversar com o Trump sobre a questão da guerra.
Eu sei que ele é amigo do Putin. Eu também sou amigo do Putin. Então, se um amigo pode muita coisa, dois amigos podem muito mais. Quem sabe a nossa química pode ser levada para o Putin e para o Zelensky, e quem sabe a gente construa aquela saída que parece inesperada. Eu acho que pode ter surpresa no mundo. Então, é isso.
Eu estou muito otimista que as coisas podem começar a mudar. Eu, naquilo que eu puder ajudar, eu disse ao presidente Zelensky que eu vou tentar ajudar. Se for preciso conversar com qualquer pessoa, eu vou conversar. É importante lembrar que eu fui a Moscou. Eu estava em Pequim [capital da China], fui a Moscou conversar com o Putin para que ele fosse a Istambul [capital da Turquia] para conversar.
Ele não foi. Mas eu acho que, em algum momento, ele vai ter que sentar, porque essa guerra já cansou todos nós e já cansou a Rússia e já cansou a Ucrânia.
Jornalista: inaudível
Presidente Lula: Se você não fosse mineira, eu não iria responder essa pergunta, porque eu não gosto de responder fora do Brasil as coisas sobre o Brasil. Mas era previsível que isso ia acontecer. Era previsível. O que eu acho um equívoco histórico foi colocar aquela PEC [Proposta de Emenda à Constituição] em votação. Desnecessária, desnecessária, provocativa e passou um sinal péssimo para a sociedade brasileira.
Ora, o único jeito das pessoas serem protegidas é as pessoas não fazerem coisa errada. Você não pode querer uma proteção que a sociedade não tem. Por que você quer essa proteção? Você está com medo do quê? Então é isso. Eu acho que aconteceu com essa PEC o destino que ela merece. Desaparecer, porque foi uma vergonha nacional.
Gente, muito obrigado a vocês.