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Pronunciamento do presidente Lula na Reunião Empresarial Brasil-Malásia
Bem, eu quero primeiro fazer um agradecimento especial ao primeiro-ministro Anwar Ibrahim [da Malásia] por ter me convidado para participar da 47ª reunião da ASEAN. Ele me deu a oportunidade de conhecer a Malásia e me deu a oportunidade de ter um dia muito feliz por dois acontecimentos importantes.
O primeiro: adesão do Timor-Leste à ASEAN, o que era uma reivindicação histórica e que aconteceu hoje. O segundo, porque o presidente Trump [Donald Trump, dos Estados Unidos] teve que viajar 22 horas dos Estados Unidos para Malásia e eu viajar 22 horas para Malásia e nós conseguimos fazer uma reunião que parecia impossível nos Estados Unidos e no Brasil aqui na Malásia. Portanto, eu sou agradecido.
Será desnecessário aqui eu falar de empresas brasileiras ou de empresas da Malásia porque os empresários já falaram. Eu queria apenas dizer para vocês que o papel de um presidente da República num mundo competitivo como nós temos hoje é o de criar oportunidades para que os nossos homens de negócio possam fazer negócios, para que os nossos empresários possam vender e comprar aqui na Malásia e para que o comércio do Brasil e da Malásia possa crescer acima dos quase 6 bilhões de dólares que nós temos.
Obviamente que eu quero agradecer a nossa querida embaixadora [do Brasil na Malásia] Daniela Ortega que tem um trabalho extraordinário e dizer a todos vocês que a minha vinda à Malásia, além de participar da reunião da ASEAN, é dizer para vocês que o Brasil está de braços abertos para receber quantos empresários da Malásia tiverem desejos de fazer investimento, vender seus produtos ou convencer os brasileiros a fazer investimentos aqui e comprar os produtos de vocês.
Esse é o papel principal de um presidente da República. Um presidente da República não sabe fazer negócio, ele é apenas um abridor de portas para que os homens de negócio façam negócio.
Durante muito tempo o Brasil esteve isolado na América do Sul. Aliás, o Brasil estava isolado também da América do Sul, porque o Brasil não tinha muito contato com a América do Sul. O Brasil olhava apenas para a Europa e para os Estados Unidos e nós então resolvemos tomar a decisão de que era preciso fazer o Brasil ter uma importância maior na geopolítica econômica, na geopolítica comercial.
A primeira coisa que nós fizemos foi nos voltar para a América do Sul para que a gente pudesse construir uma relação de confiança entre o Brasil e a América do Sul. Como vocês sabem, o Brasil é o único país no continente latino americano que fala português. O restante foi a colonização espanhola. E, portanto, nós fomos colonizados e nós fomos educados, o Brasil a não gostar muito da América do Sul, a América do Sul a temer o Brasil e a gente ficava sempre na expectativa de que a Europa rica iria nos ajudar e que os Estados Unidos iriam nos ajudar.
E assim nós ficamos séculos. Quando eu assumi a Presidência em 2003, eu resolvi que nós tínhamos que mudar essa concepção de política de relações internacionais do Brasil e que a gente precisava se voltar para o mundo.
Nós nos voltamos para a América do Sul. Depois nos voltamos para o continente africano e, depois, descobrimos o leste asiático. Ou seja, nós aos poucos estamos descobrindo que o mundo existe, além da Europa e dos Estados Unidos.
E que o mundo existe, com muito mais oportunidade, com muito mais similaridade, com muito mais vantagem para a gente fazer negócio, para a gente vender e a gente comprar, para a gente fazer parceria entre as nossas empresas.
No caso do Brasil, a ASEAN é um parceiro muito importante e tende a ser muito mais importante porque o mundo de hoje não aceita mais uma nova Guerra Fria. Nós não queremos ficar disputando, como se disputou a partir da Segunda Guerra Mundial, quem era do lado da Rússia ou quem era do lado dos Estados Unidos.
A gente não quer uma nova disputa de quem é do lado dos Estados Unidos ou do lado da China. A gente quer estar do lado da China, do lado dos Estados Unidos, do lado da Malásia, do lado da Indonésia, do lado de todos os países do mundo que queiram fazer negócio conosco.
Porque é isso que pode fazer o mundo crescer, é isso que pode fazer o mundo se desenvolver, é isso que pode trazer o investimento de países estrangeiros em outros países estrangeiros.
No caso do Brasil, eu sempre disse que nós teríamos que garantir aos investidores estrangeiros algumas coisas. Eu dizia que a gente tinha que garantir ao investidor estrangeiro estabilidade fiscal, estabilidade econômica, estabilidade política, estabilidade jurídica, estabilidade social. E, por fim, a gente deveria garantir previsibilidade nas decisões políticas do governo para que ninguém fosse pego de surpresa.
E o Brasil hoje vive um momento auspicioso, o Brasil é um país que está crescendo acima da média do crescimento dos outros países do mundo inteiro. O Brasil é um país hoje que tem uma forte ação na transição energética. Nós somos grandes produtores de etanol, nós somos grandes produtores de biodiesel, nós somos grandes produtores de energia eólica, grandes produtores de energia solar. Queremos nos transformar em um grande produtor de hidrogênio e queremos, sobretudo, nos transformar em um grande produtor de energia limpa para a aviação e para os navios do planeta Terra.
E aí, nós precisamos construir parceria. É verdade que, segundo o Jorge [Viana, presidente da ApexBrasil] contou, que no século passado, no século retrasado, o inglês pegou as mudas das seringas brasileiras e trouxe para a Malásia. Mas é verdade que a Malásia teve sorte porque a borracha proliferou aqui.
No caso do Brasil, o Henry Ford [empresário e engenheiro estadunidense], em 1912, sem consultar a engenharia florestal brasileira tentou plantar um milhão de mudas de seringa no Brasil e não deu certo. E desistiu do projeto porque faliu, porque o Henry Ford não queria comprar borracha pelas mãos dos ingleses. Por isso ele tentou plantar seringa no Brasil e não deu certo na terra da seringa. Não deu certo. Então parabéns a Malásia, que teve a competência de fazer com que as mudas que viessem para cá não tenham fungo, que ainda tem hoje no Brasil.
Então eu só estou obrigado a agradecer a competência de vocês por terem se transformado em um grande produtor de borracha do mundo a partir de uma muda da seringa brasileira.
A segunda coisa é que nós precisamos de vocês, sobretudo na questão da produção de semicondutores. O Brasil precisa dar um salto de qualidade. Eu acabei de conversar com oito estudantes brasileiros que estão aqui na Malásia estudando, se preparando para que o Brasil possa ter empresas da Malásia fazendo investimento no Brasil, na produção de chip. Uma coisa que nós precisamos, inclusive para evitar o risco da indústria brasileira terminar ou diminuir a sua produção por falta de chip em qualquer momento de crise nacional.
Então nós precisamos, é importante, eu vou repetir aqui. Nós brasileiros precisamos que os empresários da Malásia compareçam ao Brasil, conheçam o Brasil, construam parcerias com as empresas brasileiras que estão aqui, que as empresas brasileiras que estão aqui conheçam melhor a Malásia, conheçam os empresários da Malásia e que possam aqui também fazer investimento. Porque política comercial é uma via de duas mãos, é um jogo de ganha-ganha, ninguém precisa sair perdendo, todo mundo pode sair ganhando.
É por isso que eu acredito nessa relação do Brasil com a ASEAN. O Brasil tem mercado para os produtos de vocês e nós precisamos inovar nas nossas exportações, porque não podemos ficar exportando apenas commodities. Nós precisamos avançar com o conhecimento que vocês podem nos ensinar.
Na área da agricultura, a gente tem muito com o que contribuir com praticamente toda a ASEAN. Não pôde falar aqui, mas está aqui meu ministro da Agricultura [e Pecuária, Carlos Fávaro], ele é fanático para vender os produtos agrícolas brasileiros. E eu falo para ele que ele precisa parar de falar só em vender e precisa falar em comprar, porque as pessoas também querem vender para o Brasil e a política justa é aquela que todo mundo está satisfeito.
E, portanto, todo mundo tem que vender e todo mundo tem que comprar, para que o comércio seja equilibrado e que nenhum país tenha um déficit exorbitante com outro país.
Por isso eu quero convidar os empresários da Malásia a visitar o Brasil, a conversar com nossos empresários, a conversar com nossos ministros, a conhecer o Brasil para que vocês possam saber da quantidade de oportunidades que o Brasil pode oferecer para novos investimentos de empresários da Malásia no Brasil.
É por isso que eu fiz essa viagem. Sou muito agradecido ao carinho com que fui tratado pelo povo da Malásia. Sou muito, muito agradecido ao tratamento que o primeiro-ministro Anwar Ibrahim dedicou à minha delegação. Eu acho que todo mundo volta para o Brasil satisfeito de que abrimos um novo caminho. E, sinceramente, pode estar certo de que nunca mais a relação com o Brasil e a Malásia será pequena.
Pode estar certo, que nós temos que ter um compromisso. Se a gente hoje tem 5 bilhões de comércio exterior, 6 bilhões, a gente pode chegar a 10 bilhões, pode chegar a 15 bilhões. Por isso, vocês têm que gastar um pouco de combustível e visitar o Brasil e o Brasil gastar um pouco de combustível e visitar a Malásia. E, quem sabe, a gente esteja mudando a história da relação econômica, comercial, política e cultural com a Malásia.
Por isso, meu caro vice-primeiro-ministro [Sri Haji Fadillah bin Haji Yusof], muito obrigado por essa reunião. Muito obrigado Jorge, em nome do Brasil, em nome da Apex, e muito obrigado aos empresários brasileiros. Tem dois tipos de empresários no Brasil: aqueles que gostam de viajar, aqueles que gostam de garimpar oportunidades, aqueles que querem vender e comprar. E tem aqueles que ficam no Brasil só se queixando da taxa de juros ou da tributação.
Então, eu acho que vão vencer aqueles que garimpam e que viajam à procura de oportunidades. Pode ter certeza que nós vamos vencer porque o mundo está aberto ao Brasil. O Brasil é um país que não tem contencioso com nenhum país do mundo, nem queremos ter contencioso. Nem no futebol nós queremos ter contencioso.
Ou seja, eu parto do pressuposto de que todo mundo é amigo do Brasil e o Brasil tem que ser amigo de todo mundo. Eu parto do pressuposto que, no Brasil, nós temos a estabilidade política que vocês precisam. Temos a estabilidade econômica que vocês precisam. Temos a estabilidade fiscal que vocês precisam.
Acabamos de aprovar uma grande reforma tributária, que vai entrar em vigor a partir de 2027, e ela garante mais oportunidade e mais facilidade para as pessoas que forem investir no Brasil.
Por isso eu quero terminar dizendo aos empresários da Malásia: por favor, o Brasil está muito perto de vocês: nos visitem! Nós precisamos de vocês e eu tenho certeza que nós poderemos continuar precisando de vocês. Um abraço, gente, e que Deus possa permitir que todos vocês tenham sucesso no negócio que estão fazendo. Obrigado, primeiro-ministro.